domingo, 12 de maio de 2013

Por que existe violência?



odos os dias as manchetes de jornais estampam nas primeiras páginas notícias como assassinatos, mortes, brigas de torcida, confusão, quebra-quebra, tumulto, baderna e mais uma lista interminável de atos lamentáveis causados por pessoas "civilizadas"...

Muitas pessoas podem se perguntar como é que animais racionais, conscientes e civilizados como nós, seres humanos, somos capazes de causar tantos problemas uns aos outros dessa maneira. E eis que surge um amontoado de teorias para explicar o porquê de tanta violência e confusão que tanto tiram a nossa paz. O problema é que, não raramente, essas teorias apenas buscam culpados ao invés de se concentrarem em buscar soluções. Entre os principais bodes expiatórios para esse quadro estão a falta de leis mais duras, outros defendem que devemos reduzir a maioridade penal, outros apontam a impunidade, a falta de educação básica e até mesmo filmes e jogos viraram vilões nessa história. Eu concordo que esses supostos "culpados" pela violência ajudam a piorar o quadro, mas mesmo que vivêssemos em um mundo perfeito a nível de leis e eliminássemos esses problemas, ainda assim, teríamos violência, mortes, brigas de trânsito, etc. Mas aí pergunta persiste: por que os seres humanos são desse jeito? Por que fazemos o uso da violência, da força e da ignorância ao invés da diplomacia e da razão? Resolvi refletir e pesquisar um pouco a respeito e acredito que eu tenha encontrado uma resposta que me satisfez.

A guerra é um traço ancestral existente antes mesmo do surgimento humano

A raiz do problema
As primeiras civilizações surgiram há cerca de 4500 anos na Mesopotâmia. Talvez a mais antiga delas tenha sido a Suméria, que não chegava a ter mais de 5000 anos. Porém, através de estudos da arqueologia e da paleontologia, descobriu-se que a atual espécie humana, conhecida cientificamente como homo sapiens sapiens, tem aproximadamente algo em torno de 150 mil anos de existência. Ou seja: a nossa espécie existiu durante mais de 100 mil anos sem que houvesse uma civilização com códigos éticos ou leis escritas. O fato é que durante a maior parte da existência humana, os nossos ancestrais foram caçadores, guerreiros, coletores e tiveram uma vida nômade marcada por violência, disputas e lutas. Foi somente após a Revolução Neolítica e com a produção de excedentes que passamos a ser sedentários e a criar os primeiros conceitos de propriedade privada, de civilização e de códigos de conduta ética. A Revolução Neolítica foi um marco bastante profundo na nossa história. O problema é que ela ocorreu há menos de 10 mil anos. Durante cerca de 140 mil anos nós caçamos, guerreamos, matamos e usamos a nossa agressividade e os nossos instintos para prover a nossa sobrevivência. Esse comportamento ficou gravado nos nossos genes e foi transmitido ao longo de várias e várias gerações até os dias de hoje através da seleção natural. Isso é realmente muito paradoxal, porque até pouco tempo atrás nós usávamos a força bruta e brigávamos uns contra os outros por comida e território – enquanto que hoje nós damos palestras sobre direitos humanos em universidades. Que paradoxo!

A violência sempre existiu
Nós somos descendentes dos caçadores, coletores, guerreiros e aventureiros da pré-história. A nossa espécie passou mais de 90% da sua existência dando ênfase aos nossos instintos e, de repente, nos últimos milênios, mudamos e vimos que esses instintos não eram mais necessários. E é exatamente aqui que está o problema: os nossos instintos continuam adormecidos dentro de nós. Quando a nossa razão foge do controle, surge então aquela velha voz ancestral que nos impulsiona para a violência: isso nada mais são que os nossos instintos adormecidos que despertaram. Infelizmente, os nossos instintos não podem ser removidos de nós porque eles fazem parte da nossa carga genética e estão profundamente enraizados no nosso cérebro reptiliano. O que podemos fazer com relação a isso é distrair e "enganar" os nossos instintos através de atividades saudáveis como a prática de esportes ou alguma outra atividade que libere o estresse e a adrenalina de forma que não cause problemas sociais. É necessária uma válvula de escape!

Esportes e jogos violentos são válvulas de escape

Soluções
Um ponto fundamental é que são necessários mais programas sociais que visem a prevenção de crimes do que propriamente para tentar punir quem os pratica. Afinal de contas, prevenir é melhor do que remediar. É claro que criminosos devem ser punidos, mas políticas públicas que insiram as pessoas em atividades sociais longe da criminalidade já ajudam bastante. Também devem ser incentivadas as práticas regulares de esportes para que as pessoas mantenham a sua energia física ocupada com atividades saudáveis tanto para o seu corpo quanto para a sociedade. E, por fim, precisamos melhorar a educação básica, especialmente a das escolas públicas aqui no Brasil. Pois é a educação que constrói o futuro de um país.

Eis o maior dos riscos que a violência traz

A maior de todas as ameaças
O grande perigo que corremos hoje é que nós desenvolvemos tecnologia para criar armas de destruição em massa. Uma única bomba termonuclear tem o poder de dizimar milhões de pessoas. Nunca os nossos próprios instintos nos colocaram em tamanho risco, pois basta uma atitude impensada dos chefes de Estado das grandes potências para dar fim a nossa civilização.
Portanto, é necessário que a nossa voz ancestral seja direcionada para fins pacíficos e nunca para alimentar algo que gere sofrimento e violência. 

A violência virtual é apenas virtual

A teoria da tábula rasa
Alguns antropólogos e cientistas sociais atribuem a violência a uma causa 100% social, ou seja: que nós, seres humanos, nascemos puros e somos corrompidos pelo mundo (mito do bom selvagem). Isso é uma grande bobagem por uma razão óbvia: se assim fosse, a violência jamais existiria, pois ela nunca teria sido inventada ou descoberta, já que todos nós somos "puros". Além disso, essa hipótese leva a conclusões erradas, dando a entender que filmes e jogos violentos causam a violência – já que neste contexto a violência seria algo exclusivamente empírico. É claro que fatores como a pobreza, discriminação, ignorância e doença agravam a violência, mas eles não são a causa da mesma. A causa da violência está no conjunto de fatores que vão desde o nosso aspecto ancestral até a violência doméstica. Outra lógica defendida por aí é que a nossa sociedade é violenta porque são apregoados valores violentos, brincadeiras violentas e programas de TV violentos. Esse fator também é equivocado porque em muitos casos esses elementos funcionam como catarse. Para quem não sabe, a catarse, sob a ótica da psicologia, é o ato de experimentar a liberdade em relação a alguma situação opressora, tanto as psicológicas quanto as cotidianas, porém de uma forma que seja socialmente aceita e que não cause prejuízo para terceiros. A catarse é uma válvula de escape saudável para as coisas erradas ou proibidas pela sociedade. A prova disso é que a ocorrência de episódios violentos envolvendo jovens de 12 a 15 anos está diminuindo desde 1997, quando foi lançada a primeira versão do GTA.
Já crianças em fase de desenvolvimento devem evitar jogos violentos justamente pelo mesmo motivo que os filmes violentos também não devem assistidos por elas. Por essa razão é que jogos vem com classificação indicativa. Portanto, culpar jogos e filmes pela violência é um erro. O erro é dos pais que não procuram saber o que os seus filhos consomem.

Reais motivos que deixam os jogadores violentos

Reforçando
A causa da violência, como já foi dito, não vem de uma única fonte, seja ela genética ou de algum elemento do meio que nos cerca. A violência é causada pelo conjunto de fatores que vão desde a saúde mental do indivíduo, passando pela  desestruturação familiar e indo até o uso de drogas. Mas o que é inegável é que a violência fez e faz parte da história humana desde os primórdios. A violência está em nós mesmos.


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4 comentários:

  1. Muito interessante, gostei muito.
    Faz todo sentido!

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  2. Texto interessante e informativo, porém senti falta das referências bibliográficas que confeririam mais credibilidade às informações. E não é teoria da Tábua Rasa, é Tabula Rasa, de autoria de John Locke.

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    1. Desculpe a demora para responder, caro anôn. Já fiz a correção.
      As referências estão nos links do final do post.
      Abraço e grato pelo comentário.

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