segunda-feira, 22 de julho de 2013
Os problemas da militância ateísta
Quem acompanha este blog sabe bem que eu nunca fui muito com a cara das religiões, especialmente as três grandes religiões monoteístas de origem abraâmica. Apesar da minha implicância com a religião e de concordar com o discurso de grandes ateus, como o Dawkins e o Hitchens, eu noto que a militância ateia acaba cometendo alguns erros e excessos que poderiam ser evitados se houvesse um discurso mais ponderado. Vou apontar a seguir alguns dos problemas que eu percebo no proselitismo em nome da não-religião:
1 - Falsa dicotomia entre ateu/religioso
Eu vejo muitos ateus por aí criarem uma espécie de 'falsa dicotomia' entre teísmo e ateísmo. Apesar do teísmo e do ateísmo serem opostos, eles não são os dois únicos posicionamentos filosóficos que existem diante da possibilidade da existência de um criador. Entre o religioso fanático e o ateu convicto existe um enorme degradê de diferenças. Como abordei neste post aqui, não existem apenas ateus e religiosos, existem também as pessoas que creem em algum deus, mas que não possuem religião; existem os indecisos; existem os indiferentes e existem também os que são mais de uma dessas definições simultaneamente. Isso sem contar com os 'camaleões', que são aquelas pessoas que podem mudar de opinião com relação à existência ou não de deuses dependendo do momento em que ela vive. A única dicotomia que há aqui é a entre religiosos e irreligiosos.
2 - Não propor nada para 'substituir' a religião
A militância ateísta muitas vezes se concentra apenas em atacar, atacar e atacar as religiões. Ok, você tem bons motivos para não ser religioso e não crer em deuses, mas e as outras pessoas, no que elas vão acreditar se deixarem de crer em Deus? Eu sei que parece discurso de religioso isso que eu vou dizer agora, mas a religião, muitas vezes, possui uma função social voltada para o significado existencial, para o altruísmo e para a formação moral. Concordo que a boa educação pode substituir os ensinamentos da religião; acontece que nós vivemos num país de grandes desigualdades sociais e onde muita gente não aprende nada sobre conduta moral nas escolas. A religião surge como um meio de mostrar o certo e o errado através dos valores de seu conteúdo ético. Não acho que a religião seja a única ferramenta capaz de orientar as pessoas no aspecto ideológico e moral, mas ela é indispensável na nossa atual conjuntura social e política. Se acabarmos com a religião, o que vamos colocar no seu lugar? Colocaremos ONGs, instituições filantrópicas, ideologias políticas ou o quê?
3 - O desrespeito aos religiosos
Em um vídeo interessante do vlogueiro Pirulla (link aqui), há uma reflexão sobre os discursos que os ateus devem evitar. Eu vejo nas redes sociais, nos sites de perguntas e respostas e em várias comunidades pela internet uma quantidade enorme de brigas feias entre ateus e religiosos. Eu acho estranha essa briga porque eu, apesar de ser um herege, nunca brigo com religiosos quando discuto com eles sobre religião. Isso ocorre, creio eu, pela minha flexibilidade e respeito às crenças. Acontece que muitos ateus não têm o menor respeito pelos religiosos ou pelas suas doutrinas. Muitos dos deboches que podem ser engraçadinhos para os ateus, podem parecer um insulto grave a um religioso. Eu conheci muitos cristãos, por exemplo, que tratavam Jesus como se ele fosse um amigo íntimo ou um grande amigo pessoal. Agora imagine um cristão desse vendo um post da ATEA ridicularizando a figura de Cristo ou fazendo piadas pesadas com a Vigem Maria. A reação desse tipo de cristão é, obviamente, de revolta ou de fúria. Ninguém fica feliz quando ridicularizam uma pessoa que a gente ama e respeita. Acho totalmente desnecessário esses "deboches" de mau gosto vindo de ateus. Se querem dialogar com os religiosos, procurem ter respeito por seus valores. Uma dica que eu dou é que os ateus procurarem falar mais sobre a ciência, mas de forma imparcial, pois a ciência foi, por exemplo, o que me afastou da religião.
4 - Se achar moralmente e intelectualmente superior
Tem muito ateu por aí que se acha melhor, mas inteligente e mais esperto que os religiosos. Acho essa autovisão ateia compreensível, porém, na verdade, se considerar "mais sábio" que os religiosos é uma burrice. Isso porque todos nós somos igualmente inteligentes e capazes – tanto é que a maioria dos ateus já foi religioso um dia, e isso não quer dizer que eles eram burros. Pessoas de fé não são melhores e nem piores: eles apenas pensam de um modo diferente dos descrentes. Portanto, caro ateu, trate todos como sendo tão inteligentes quanto você. Se você acha que é mais inteligente que um crente, então por que tenta convencê-lo de algo que ele nunca vai se convencer, já que ele é "menos instruído" que você?
5 - Atacar indistintamente a religião
A religião não é boa e nem é má: ela é apenas uma ferramenta. E toda ferramenta pode ser usada tanto para o bem, quanto para o mal. Com a ciência ocorre o mesmo, basta ver a edição nº 141 da revista Mundo Estranho, por exemplo, onde são citadas diversas coisas negativas trazidas pela ciência. O título da revista inclusive é "Atrocidades da Ciência". Se alguém fosse parcial, poderia querer o fim da ciência por conta desse seu lado 'atroz', mas acontece que a ciência também traz benefícios. Se acabarmos com a ciência, perderemos todos os seus pontos positivos. O mesmo ocorre com relação à religião. Não devemos querer o fim da religião como um todo, mas sim o fim dos aspectos estúpidos e criminosos da religião.
Superficial e simplorio. Como podemos ter ou manifestar uma opiniao diferente, se qualquer coisa dita sobre religiao que nao seja o que esta "escrito" e' considerado um ataque? Foco na educacao (nao endoutrinacao) e' a minha sugestao.
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