sábado, 4 de janeiro de 2014

A esquerda e o radicalismo


Já declarei diversas vezes neste blog que eu detesto rótulos e não me identifico com nenhum deles. Talvez, a ideologia que mais se aproxime do meu modo de pensar seja a Social Democracia pelo fato de me identificar mais com a esquerda moderada (ou 'esquerda herbívora', na linguagem dos liberais). Para quem não sabe, eu sou a favor do fim dos privilégios para certos grupos e também sou defensor da redução drástica das desigualdades econômicas e sociais. Penso assim porque vivemos num mundo repleto de esfomeados e excluídos – tanto é que qualquer pessoa que faça três ou mais refeições por dia pode se considerar uma pessoa privilegiada. É por isso que eu me identifico tanto com a esquerda ideológica (e não necessariamente com a esquerda partidária).

Apesar da minha afeição pela esquerda política, eu discordo das ideologias mais radicais ligadas a ela, especialmente as da extrema esquerda (ou 'esquerda carnívora'). Infelizmente, ainda há pessoas que pensam que estamos na Guerra Fria e que os EUA querem nos "devorar" com o seu imperialismo "sanguinário". Eu até concordo que os EUA (como oligarquia econômica) não nos respeitam muito, mas acontece que a conjuntura atual mudou. Ao invés de uma ameaça comunista, hoje os EUA temem uma ameaça terrorista. Então, com o fim do socialismo soviético e a queda das ditaduras nutridas pelos americanos na América Latina, defender uma 'Esquerda Hardcore' é démodé e ao mesmo tempo insano.
A Esquerda Hardcore, para quem não conhece, é aquela esquerda que defende um igualitarismo tosco (onde todos são pobres), a luta de classes, a revolução armada, a guerrilha e o fuzilamento de inimigos políticos. Alguns membros desse grupos são racistas, machistas, homofóbicos e querem exterminar todas as religiões do globo terrestre. Os representantes máximos dessa esquerda são Stalin, Mao Tsé-Tung e Che Guevara. Para ser sincero, essas ideias não me parecem sequer uma ideologia política, mas sim uma forma de psicopatia perigosa. Creio que a esquerda hoje deve funcionar por meios diplomáticos, debatendo sobre ações afirmativas e favorecendo a distribuição de renda. Acho um retrocesso monstruoso apoiar uma ditadura socialista (como temos ainda em Cuba) como meio de nos libertar da "tirania ianque". Chega desse discurso retrógrado e vamos evoluir socialmente e politicamente. Não há mais a ameaça de ditaduras para se pensar em revoluções sangrentas. Além disso, politicamente falando, hoje a esquerda e a direita estão tão bem entrelaçadas entre si, que praticamente todos os países capitalistas vivem de uma economia mista. O que há é uma maior inclinação para um lado ou para o outro, mas nunca nenhuma dessas ideologias no estado 'puro'. Radicalismos, para mim, só expõem a imaturidade de quem os defende.

10 comentários:

  1. Che Guevara? Onde você leu isso sobre ele?
    Não, ele não representa a esquerda radicalista, mas sim REVOLUCIONÁRIA. Ser revolucionário não implica qualquer semelhança, ocasional ou proposital, com ex-membros da União Soviética ou Mao.
    Ele matou? Sim. Afinal, ele se envolveu em lutas perigosas, mas teve o vasto apoio do povo cubano, cuja grande maioria sequer tinha acesso ás condições estruturais básicas de vida, como eletricidade, moradia, educação e saúde. Uma parcela significativa dos cofres cubanos servia apenas para alimentar grandes corporações americanas que se instalavam na Ilha e usufruíam da mão de obra barata.
    Você acha que Fulgêncio, um tirano, iria aceitar a via democrática e o diálogo? Como você proporia uma revolução? Não havia outra maneira.
    Sobre Cuba, concordo, o conjunto governamental cubano liderado por Fidel pecou bastante contra democracia, no entanto, temos que nos aprofundar no contexto da Ilha. Cuba sofria diversos atentados da oposição americana, desde proliferação de inverdades até ataques terroristas. Não vejo uma contradição em se fechar como meio de proteção. Além de todo embargo que eles sofrem, o que os impede de desenvolver e expandir as bases de sua economia. Mesmo assim, ainda conseguem chegar a um ponto quase ZERO de desnutrição infantil e ter expectativa de vida comparável á dos países desenvolvidos. Além do sucesso da educação na Ilha. Mesmo assim, acredito ainda que certas medidas são impróprias para construção de uma verdadeira democracia. Mas não se pode negar que o capitalismo de estado integralmente planificado teve exito social em Cuba.

    No mais, concordo sobre o que falou da esquerda homofóbica e conservadora.
    Gostei de sua postagem, mas não concordo inteiramente com seu ponto de vista, apesar de respeita-lo.
    Abraços.


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    1. Tem vários documentários no Youtube com depoimentos de ex-companheiros de Che Guevara que relataram que ele era tudo isso e ainda foi responsável por diversas execuções sumárias no tribunal revolucionário de Havana. Além disso, ele tinha simpatia pessoal pelo Mao Tse-Tung. Claro que isso não anula o fato de Che ter lutado pela melhoria de vida do povo cubano e para abater um regime tirano como o de Fulgencio Batista. O que não podemos é ser parciais e achar que ele era um exemplo a ser seguido, ignorando o lado sádico dele.
      O problema todo não foi a revolução cubana, porque ela foi importante dentro do contexto histórico da época. O problema é que ainda hoje, em pleno século 21, há radicais que querem repetir uma revolução semelhante na América do Sul. Não é necessário repetir aquele banho de sangue em nome de um mundo mais justo. O próprio ex-presidente Lula desaprovou essa ideia no Foro de São Paulo. Temos que pensar em democracia e não em guerrilha e revoluções.

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    2. "Tem vários documentários no Youtube com depoimentos de ex-companheiros de Che Guevara que relataram que ele era tudo isso e ainda foi responsável por diversas execuções sumárias no tribunal revolucionário de Havana"

      - Pois é, sempre existe uma direita reacionária que utiliza indivíduos de péssima índole que não se estabeleceram no movimento revolucionário da época para denegrir a imagem do Che.
      Existem evidências concretas, como documentos, vídeos ou algo que comprove que o Che era racista e extremista?
      Ele JAMAIS negou que fuzilou adversários políticos, ele inclusive o confirmou em seu discurso na ONU. Eu não concordo com essas medidas, critico e seguirei criticando algumas ações dos protagonistas da revolução, mas dizer que o Che era um assassino sádico que matou quem ele achava que era conveniente matar é algo bobo e infantil. Não faz sentido dizer que ele era racista, ele lutou no Congo, e havia diversos negros em sua tropa. Cuba mesmo é um país de significativa descendência africana.
      Che é um exemplo a ser seguido sim. Ele era uma grande pessoa e um grande líder.
      Quem inventa tamanhas calúnias contra ele é quem deseja rever o descaso social em Cuba que prosperava antes da revolução.

      Não estou defendendo revoluções, e sim corrigindo pontos não esclarecidos sobre a imagem no Che.
      Eu creio que seja difícil padronizar conflitos com aparelhos defensivos do Estado. Não acho ético trabalhar com vias repressivas e violentas para atingir um determinado objetivo, principalmente tratando-se de justiça social. Se cada um que discordasse do sistema atual resolvesse acender sua luz revolucionária para lutar em guerrilhas, não teríamos progresso, mas mortes e sangue. O ser-humano desenvolveu habilidades cognitivas, logo, ele é capacitado ao diálogo. O diálogo é a chave mais essencial que temos para abrir as portas do avanço. Isso não significa que devemos esperar mudanças calados, sem protestar fortemente contra as injustiças sistemáticas. Devemos pressionar os gatilhos democráticos para conquistar as metas desejadas, mas nunca esperar ações de bondade daqueles que concentram riqueza e poder em suas mãos.
      Um grande abraço.

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    3. Sobre os fatos envolvendo Ernesto Che Guevara, como já dizia Napoleão Bonaparte: "A História é um conjunto de mentiras sobre as quais se chegou a um acordo". A verdade é a realidade, todo o resto são versões. Essa é a sua, a minha é a minha e a da direita reacionária é outra. Portanto, eu admito que posso estar cometendo injustiças justamente por não ter sido uma testemunha ocular do processo histórico. Talvez a verdade não possa mais ser evidenciada porque quem conta a história são sempre os vencedores, mas enfim.
      No resto, estou em comum acordo.
      Abraço e obrigado pela sua participação.

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  2. De fato, o mundo mudou e hoje não vivemos mais na era da Guerra fria, a esquerda em geral tem de parar com a ideia de que tudo se resume a capitalismo predatório vs socialismo, tem de se abandonar esse sonho marxista, que sempre de uma forma ou de outra acaba mal, já se foi o tempo da esquerda radical, quanto ao CHE, é difícil definir o que é verdade e o que é invenção, todos acabam discordando no final.

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    1. Eu concordo que a esquerda precisa criar um novo jeito de fazer política que se adeque à conjuntura política do século 21. Marx foi um grande pensador, mas um grande pensador para a época em que ele viveu. Quando a geopolítica muda, há a necessidade de mudar também alguns conceitos. Há de existir um meio mais democrático e mais eficiente de fazer o mundo ser um lugar menos desigual.

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