sexta-feira, 17 de janeiro de 2014
Religião, quem precisa dela?
Não sei se você já percebeu, mas para cada religião que você não acredita, um inferno novo é reservado para você após a morte. Por exemplo, se você é católico, a sua vaga no inferno judeu, islâmico e protestante está garantida. Já se você for judeu, os infernos católico, protestante e muçulmano esperam por você de braços abertos. E se você não tiver nenhuma religião, então vai ter que ir para todos os infernos ao mesmo tempo, sabe-se lá como. É por isso que eu prefiro acreditar no Coelhinho da Páscoa, porque ele não ameaça me jogar no inferno se eu não acreditar nele e ainda me dá deliciosos ovos de chocolate. Diferentemente do Coelhinho da Páscoa – que nos dá recompensas em vida – as recompensas dos deuses das religiões só vêm mesmo após a morte. Eu acho incrivelmente irracional renunciar a beleza e o prazer desta vida para se martirizar em busca do incerto: em busca de uma vida cuja existência depende exclusivamente da fé. A ilusão de estar se preparando para uma outra vida nada mais é que trocar o certo pelo duvidoso. Por que será que entre todos os seres do universo que existem e já existiram apenas os humanos têm a possibilidade de ter uma vida após a morte? O que nos torna tão superiores se somos meros primatas?
O grande problema da religião é que ela se utiliza da exploração da ignorância para impor suas regras e suas verdades dogmáticas. Se há alguma dúvida quanto a isso, basta ver que Deus sobrevive do desconhecido. O astrônomo Carl Sagan, em um de seus livros, traduz esse pensamento com a ideia do "Deus das Lacunas". Esse Deus das Lacunas é aquele deus que antes estava nos céus, depois passou a se esconder fora do planeta, depois se escondeu em lugares obscuros do cosmo e, por fim, atualmente reside fora do universo: sempre fugindo para lugares onde não pode ser verificado pela ciência. Sinceramente, eu acho a ideia de um deus pequena demais para descrever toda a complexidade que é a vida e o universo. Acho que o conceito de multiverso, por exemplo, é muito mais complexo e profundo do que o conceito de uma divindade que se preocupa com nossas vidas íntimas. Acho que precisamos criar um conceito mais elegante e mais convincente do que o de um deus antropomórfico, contraditório e desumano. Vamos evoluir.
Querido, eu sou judia, tenho pós-graduação e faço mestrado. E peço que você retire o judaísmo dessa visão descrita. Isso que você descreve não é judaísmo. Não acreditamos em condenação eterna e não achamos que uma pessoa precisa seguir o judaísmo para ser justa, honesta e obter sua conexão com o Eterno. Por favor, antes de falar sobre uma religião, estude sobre ela.
ResponderExcluirOlá, Aline.
ExcluirA palavra "Inferno" aqui não foi usada no sentido literal ou no sentido eterno restrito do cristianismo. O que tentei dizer no texto foi que é impossível que todas as religiões estejam certas. Tanto faz se há condenação eterna ou não no caso do judaísmo: isso é irrelevante, pois todos estão condenados de acordo com as religiões que não creem. Mas, sem dúvida, o judaísmo, apesar de ser a mais tribal das grandes religiões monoteístas, é a que menos gera fundamentalistas por ser a mais tolerante das religiões abraâmicas.
Não, volto a dizer, você está equivocado. Nossas escrituras não dizem que não-judeus que não acreditam nelas estão condenadas. Nada disso. Nossas escrituras obrigam judeus e não aos não-judeus. Cada povo tem suas diferenças de espiritualidade e cada povo vai se desenvolver conforme essas diferenças. Leia direitinho, meu bem. Aquela história que fala do juramento no Sinai, quando D-us teria falado com hebreus, ali não havia outros povos. Portanto, não se cobra fidelidade de quem não a jurou, entende? Você está querendo levar a lógica cristã e islâmica para dentro do judaísmo, religião a qual você não conhece nem um pouco.
ResponderExcluirTá e o que acontece com o resto dos "não-judeus" após a morte segundo o judaísmo? Pelo Pentateuco, que é versão cristã da Torá, o destino de um "ímpio" não me parece nada bom.
ExcluirTodas essas religiões abraâmicas, apesar das indiossincrasias, são mais parecidas que diferentes. Isso porque elas derivaram do zoroastrismo e do politeísmo sumério (do Enuma Elish e da Epopeia de Gilgamesh). Toda religião com conteúdo ético (dualismo) - inclua aí o judaísmo - não trata com indiferença os "ímpios".