quinta-feira, 5 de junho de 2014

Aborto legal versus aborto ilegal: sabe qual mata mais?


Não é novidade para ninguém que os grupos conservadores da nossa sociedade são radicalmente contra o aborto, alegando, entre outras coisas, que ele é um "infanticídio". Inclusive, até criaram um estatuto para proteger essa suposta "criança" dentro da mulher chamado de 'Estatuto do Nascituro' (já criar estatutos para proteger a mulher, nem pensar). Isso tudo seria muito bonito se não tivesse um porém: proibir o aborto não evita que ele ocorra. Se uma mulher quer interromper a gravidez, ela fará essa interrupção de um jeito ou de outro, sendo legal ou não. O aborto, ao contrário do que os grupos "pró-vida" defendem, não é uma questão espiritual ou moral: é uma questão de saúde pública. Milhares de mulheres são atendidas anualmente no SUS em decorrência de abortos mal realizados: abortos esses realizados quase sempre em gestações avançadas. O aborto clandestino mata dezenas de milhares de mulheres todos os anos no mundo (cerca de 500 por dia), sendo a maioria dessas vítimas mulheres pobres e/ou negras. Só no Brasil, segundo o Ministério da Saúde, pelo menos 250 mulheres morrem por ano em consequência do aborto mal feito, sendo esta a quinta causa de mortalidade materna. É um absurdo que o Estado ou a Igreja queiram controlar os corpos das mulheres sem respeitar a liberdade individual que temos sobre os nossos corpos.
Sabendo desses problemas, o Uruguai descriminalizou o aborto, provocando a ira dos reacionários fanáticos. A jornalista Rachel Sheherazade, no vídeo abaixo, foi uma dessas pessoas revoltadas. Saca só:


Contrariando as palavras reacionárias da jornalista, olha só o que aconteceu no Uruguai após o aborto ter sido legalizado:




Enquanto isso, no Brasil...



Links das notícias abaixo:
Uruguai não registra mortes de mulheres por aborto
Uruguai: 6.676 abortos seguros e nenhuma morte registrada
Nenhuma morte registrada um ano após lei do aborto no Uruguai
ONU critica legislação brasileira por mortes em abortos
ONU quer que Igreja pare de se manifestar contra o aborto

Reacionários e suas contradições

Ao contrário do que pensam os reacionários, um aborto realizado em até 12 semanas de gravidez NÃO é assassinato justamente porque ainda não há a formação do sistema nervoso, não representando qualquer sofrimento para o embrião. E outra coisa: não vai existir um "festival de abortos", como alguns afirmam por aí, isso porque o aborto é justamente o último recurso ao qual uma mulher recorre para interromper a gravidez. Saibam que o aborto é algo sempre traumático e é sempre o último recurso buscado quando todos os métodos contraceptivos falham. Para piorar, a culpa pelo aborto só cai sobre a mulher, como se a responsabilidade de fazer um filho fosse só dela (iuzomi? Ninguém lembra deles nessa hora?).
Portanto, parem de sair dizendo por aí que aborto é assassinato, porque um amontoado de células não é um ser humano, uma mórula não é um ser humano e se uma mulher morre devido ao aborto inseguro, é porque ele é ilegal e não o contrário. Um verdadeiro humanista é aquele que sabe que a vida de uma mulher adulta vale mais que a vida de uma blástula. Não seja massa de manobra de pessoas que só pensam em si mesmas e na elite burguesa (que não são afetas pelo aborto ilegal). Se você é contra o aborto, simplesmente não o faça.

Abra a mente, meu povo!
Países onde o aborto é legal em azul: quase todos de primeiro mundo

10 comentários:

  1. Bom post, só não gostei do argumento seguinte: "Proibir o aborto não evita que ele ocorra." Os libertários usam uma lógica parecida, implicando que proibir o assassinato não impede que ele aconteça. Eu, usualmente, tenho um pouco de divergência com esse argumento. Não é porque uma coisa ocorre que ela deve ser legalizada.
    Não se deve legalizar o aborto SOMENTE porque ele ocorre clandestinamente. Obviamente, é importante que o Estado proporcione serviços de saúde de maneira qualificada para as mulheres que desejam interromper sua gravidez, preservando assim a segurança e vida delas. Todavia, existem, na minha opinião, outras razões de importância correspondente para legalizar o aborto, citadas por você. Essas são:
    1 - independentemente das condições sociais, gravidez indesejada sempre irá ocorrer.
    2 - Não se deve forçar ninguém a ter um filho que a pessoa não quer criar. Pois se a pessoa não demonstra preparo psicológico ou financeiro, ela não tem condições de criar um filho.
    3 - Um amontoado de células não é uma vida. E esse amontoado não é mais importante do que um ser-humano. Você só tem direito a vida depois que nasceu. Antes disso, precisa do consentimento da grávida.
    4 - Ninguém faz aborto porque gosta ou acha legal, mas sim por necessidade.

    Abraços.

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    1. Será que durante a Era Vitoriana as 'leis da sodomia' evitavam que as pessoas praticassem sodomia ou sexo oral? Quem quer fazer, faz: e faz escondido. Se isso não interfere no direito de ir e vir de ninguém, então não é antiético. Mas já que você citou o assassinato, então vamos lá:

      Está certo: proibir o assassinato realmente não impede que ele aconteça. Será que por isso deveríamos descriminalizar o assassinato? Claro que não. Isso porque se você matar alguém, estará violando os direitos de terceiros - exceto, claro, em casos de legítima defesa. Tanto a ética quanto a moral heterogênea dos indivíduos são unânimes em afirmar que matar é errado. Já no caso do aborto, para umas pessoas ele é errado, mas para outras não: há um dilema moral aí. Porém, o que vários grupos conservadores fazem é querer limitar a questão do aborto a um mero dilema moral, quando ele, na verdade, é uma questão ética. Moral é algo individual, cada individuo tem a sua. Já a ética é usada para regular as diversas morais conflitantes. Impor uma moral específica para toda a sociedade é antiético. Conservadores não podem impor de forma autoritária a sua moral aos demais, por isso que a decisão do aborto deve ser algo individual de cada mulher. Além disso, o feto/embrião está no corpo da mulher, não cabendo ao Estado legislar sobre o que uma mulher pode fazer ou não com o seu corpo.

      Reiterando: proibir o aborto não evita que ele ocorra, até porque ele é proibido para algumas, mas não para outras. Mulheres ricas e de classe média viajam para o exterior e fazem o aborto legalmente. Quem sofre com essa pseudo proibição do aborto são as mulheres pobres, que morrem aos milhares todos os anos em verdadeiros açougues.

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    2. Sim, meu jovem. Você leu que eu era a favor do aborto? O que eu estou falando é que a LÓGICA do argumento "proibir x não impede que x ocorra" não é convincente. Obviamente, se o aborto é ou não uma questão de moral subjetiva, isso precisa ser discutido, argumentado e avaliado. Para mim, é, por isso sou a favor dele, mas para outros não. Por tal razão, é necessário que haja um fluxo conflituoso no qual as ideias possam se chocar, pois disso surgirá um vetor que nos orientará ao consenso. Mas fazer isso usando argumento fraco de que proibi-lo não evita sua ocorrência seria empobrecedor e superficial.

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    3. Não tem nada de superficial nesse argumento, porque proibir não adianta nada - muito pelo contrário - só piora as coisas por tratar a mulher que abortou como criminosa e contribui ainda mais para mortes ligadas à gravidez. O direito à vida e ao bem estar das mulheres é sagrado. Fora que o corpo das mulheres não pertence nem a mim, nem a você, nem ao marido e nem ao Estado, pertence somente a ela e a mais ninguém.

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    4. Eu por acaso disse o contrário? Isso soa como uma fuga ao eixo argumentativo principal. Por favor, se desejar, releia o que eu disse e tente ser menos emocional.

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    5. Nada a ver, cara. Eu apenas reafirmei que o argumento não é superficial.

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  2. 1 celula já é uma vida' e outra na hora do entra e sai foi bom neh..Agora assumi sua vadia , aborto só em caso de estrupo! Aborto é ilegal , ninguém as forçaram engravidar , portanto ninguém as obriga também a ir matar o bebe e correr o risco de se matar também , tem que assumir seu filho , e assumir o erro tanto o pai quanto a mae.

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    1. Sim, uma célula realmente é uma vida - só que não é uma vida humana. Se fosse assim, doar sangue seria um genocídio, porque milhões de células humanas diploides (iguais ao zigoto) morrem depois da coleta do plasma sanguíneo.
      Claro que isso não exclui a responsabilidade de evitar uma gravidez indesejada. É preciso investir também em planejamento familiar (sem a interferência da Igreja) e pararem de achar que "culpa" pela gravidez é só da mulher. Nenhuma mulher faz filho sozinha, precisa do homem, que é igualmente responsável.

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  3. cada feto abortado e mais uma morte na conta da esquerda

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