sábado, 19 de julho de 2014

Hipersexualização: por que ela existe?


Sem-querer-querendo este blog acabou virando uma espécie de referência na web contra essa paranoia toda de objetificação sexual tão falada por aí. A objetificação, também chamada de "hipersexualização da mulher", já foi debatida aqui em diversos posts sob diversas óticas e eu tenho muito pouco a dizer além de tudo que já foi dito. Porém, alguns argumentos anti-objetificação usados por aí são ingênuos e não atacam a raiz do problema. E sabe qual é a raiz do problema?

As pessoas falam mais do que fazem...

A falta de sexo
Sexo vende... e muito!
Verdade seja dita: homens – com exceção de uma minúscula minoria privilegiada – passam muita fome de sexo. E o forte apelo sexual nas ruas e na mídia fazem com que os homens sintam-se ainda mais atiçados sexualmente e cedam facilmente diante de qualquer tentação visual. O capitalismo apenas explora essa 'fome sexual' masculina, colocando diante dos homens imagens de corpos femininos que despertem neles a libido e o desejo, sendo essa a isca perfeita para atraí-los para seus produtos. Se não fosse por essa sede sexual toda, talvez um cartaz com uma mulher sensual não chamasse tanta atenção. O capitalismo, a publicidade e os chefes do sistema sabem muito bem de tudo isso: tanto que exploram a sensualidade feminina à exaustão. Manter o acesso ao sexo (de qualidade) difícil e bombardear os homens desde a infância com estímulos sexuais é uma receita perfeita para transformar a beleza feminina num verdadeiro produto. Quando as feministas atacam a objetificação, elas estão atacando apenas a superfície desse problema. O problema está no capitalismo, na carência sexual, no moralismo, no sexismo, na castração psicológica das meninas e num mundo onde é preciso pagar para se ter sexo de qualidade.

E haja apelo sexual!
Claro que muitas mulheres (a maioria) também têm uma vida sexual horrível, mas devido a nossa sociedade ser machista e homofóbica (e talvez pelas mulheres serem menos visuais que os homens), o uso da sensualidade masculina seja muito pouco utilizada em campanhas publicitárias e na mídia em geral. Pessoas monogâmicas quase sempre vivem monotonamente as suas vidas sexuais, com experiências repetitivas, rasas e desgastadas que tornam o sexo burocrático e apático. Os solteiros, apesar da maior liberdade sexual, também sofrem, porque conseguir uma parceira para transar sem compromisso (e com qualidade) não é tão fácil quanto parece – exceto se estiverem dispostos a pagar por isso. Se as pessoas tivessem uma vida sexual mais saudável e mais livre, tenho plena convicção de que a pornografia, a prostituição e a objetificação não teriam todo esse glamour que possuem hoje. Não vou nem entrar na questão moralista e religiosa, que também ajudam a piorar as coisas, deixando a sexualidade humana sempre à margem da sociedade. Aliás, o sexo está tão à margem da sociedade que ele virou motivo de vergonha, bullying e até de vingança (pornô de vingança).

O sexo (ou melhor, a promessa de sexo) é uma arma de sedução do capitalismo

A paranoia feminista-moralista
A luta contra a objetificação se fortaleceu entre algumas feministas e grupos religiosos basicamente por duas razões: primeiro porque eles creem que isso seja nocivo para as mulheres e segundo porque se incomodam com isso de alguma maneira. Quanto à nocividade da objetificação, eu concordo apenas em três pontos, que são:

1- Quando os veículos de comunicação abusam do uso da imagem da mulher, mostrando a sensualidade de forma apelativa demais e descontextualizada.
2- Quando se insiste demais em um único tipo de padrão de beleza, excluindo outros tipos de beleza.
3- Quando somente as mulheres são objetificadas e não os homens.

Quanto ao resto das críticas à objetificação, elas me parecem uma mera síndrome de mulher mal comida ou então um subterfúgio de mulheres que querem controlar os homens sexualmente, sendo, por tabela, contra a prostituição, contra a pornografia e agindo de forma totalmente possessiva com os seus parceiros. Claro que entre essa gentalha há aquelas que são também contra o futebol (por considerá-lo machista), contra os videogames (também por serem machistas) e até contra a cerveja (porque ela é associada ao comportamento machista dos homens que bebem demais). Ou seja: tudo que os homens gostam sofre algum tipo de implicância ou tentativa de censura por parte dessas neofeministas revanchistas. Uma coisa é ser a favor de haver mais mulheres no futebol e menos machismo nos games ou na pornografia, mas censurar, querer proibir... Aí já é demais. Essa implicância toda não me parece nada igualitarista, mas, sim, uma vingancinha contra os homens. Pobres dessas revanchistas que não sabem que muita mulher ama futebol, adora cerveja, joga muito videogame e curte bastante pornografia.

Guia turístico oficial de 78
Ao contrário dos que são a favor da extinção da objetificação, eu acho que deve haver uma diversidade maior na forma de se mostrar na mídia os corpos de homens e mulheres. Não me parece saudável padronizar certos tipos físicos e mostrar mulheres exclusivamente de forma sensual. Mas ser contra qualquer forma de sensualidade é somente moralismo travestido de politicamente correto.
Claro que há casos onde o uso da sensualidade é contestável, como foi com os materiais de turismo oficiais dos anos 70 e 80 onde o corpo de uma mulher brasileira era colocado como um atrativo turístico. Mas temos que ter a maturidade e o discernimento para saber separar o joio do trigo para não fazer como certas paranoicas que acham que qualquer mulher de biquíni ou em pose sensual está, obrigatoriamente, sendo objetificada. Acho que há um limite saudável que separa o abuso da sensualidade natural.

Isso é democrático, mas... e a audiência?

Por que não objetificam os homens também?
A nudez masculina também vale
A objetificação masculina não é aproveitada porque ela traz prejuízo ao invés de lucro. A exibição pública da bunda masculina, por exemplo, é considerada "coisa de gay" e é tão imoral para a nossa cultura quanto é uma mulher mostrar os peitos. Imagine a cena: um grupo de homens está assistindo uma partida de futebol e, no intervalo, aparece um comercial com um monte de homens com a bunda de fora insinuando sensualmente para vender absorvente íntimo. Qual é a reação mais óbvia neste exemplo? Certamente os homens vão mudar de canal porque há uma intolerância muito grande diante da nudez masculina. E mudando de canal, outros patrocinadores e comerciais acabam não sendo vistos. Os homens héteros são muito autoritários nesse aspecto. Eu não acho que seja ridículo (como algumas castradas pensam) ver homens sensualizando num comercial. Eu acho natural. Claro que eu, como homem hétero, prefiro muito mais ver a mulherada sensualizando, mas não repudio que homens tenham o direito de fazer o mesmo. Se a mídia é democrática, então tem que agradar a todos os públicos, e não só ao masculino. O que deveria ser evitado, ao meu ver, são os exageros desnecessários e coisas fora de contexto, afinal, qual é a lógica de usar uma bunda para vender geladeira?

Anedotas sexuais com homens na publicidade também existe

O comercial abaixo faz uma paródia usando a objetificação masculina sendo colocada no lugar da feminina. Algumas coisas parecem meio sem noção justamente porque dessa vez, sim, há uma falsa simetria, uma vez que a sensualidade do homem não é rigorosamente igual a da mulher, logo deveria ser retratada de forma mesmos literal. Saca aí:



Objetificação ou beleza?
As mulheres (e homens homossexuais) podem (e devem) objetificar os homens também. O que tem de errado nisso? Ser contra isso é reforçar o sexismo e ir contra a liberdade feminina de expressar seus desejos. Eu discordo que uma mulher é julgada mais pela aparência do que por outros atributos não-físicos por causa da objetificação. Creio que isso ocorra porque o monopólio de opiniões do mundo geralmente é de homens héteros. A culpa é do machismo, e não da objetificação. Se fosse assim, o jogador Hulk (e outros bonitões da Copa de 2014 que foram objetificados) só teria valor pela sua aparência e beleza física. Desejar sexualmente não é objetificar – e se for, é uma objetificação saudável. Mas se você discorda disso, desculpa, mas acho que você será mais feliz vivendo num país de teocracia islâmica, como no Paquistão, por exemplo, onde a objetificação sexual simplesmente não existe. E nem queira saber o porquê...

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Sabe de nada, inocente!

4 comentários:

  1. "Mas temos que ter a maturidade e o discernimento para saber separar o joio do trigo para não fazer como certas paranoicas que acham que qualquer mulher de biquíni ou em pose sensual está, obrigatoriamente, sendo objetificada. Acho que há um limite saudável que separa o abuso da sensualidade natural." É o que eu sempre digo: contextualização. Existem contextos em que o uso da sensualidade pode ser rebaixante e agressivo, já em outras situações (até mesmo na maioria delas), não há nada de errado em utilizar a sensualidade como via de promoção de um produto, loja ou indústria. A questão é saber diferenciar qual uso é degradante, e qual é saudável. O problema é que os moralistas (sejam eles feministas ou religiosos) tendem a ter transtorno ao ver qualquer foto que contenha uma pessoa expressando maior ousadia e sensualidade.
    Creio que os campos de trabalho que abranjam temáticas sensuais e sexuais - como prostituição sexual, modelo e etc - deveriam ser compostos de homens também. Mas como você ressaltou, a indústria muitas vezes atende aos interesses dominantes da sociedade, que tem aversão á sensualidade masculina. Para superar isso, só combatendo o machismo e a intolerância. Democratizar a mídia é também suprir demandas de outros hemisférios, não só o masculino.

    Parabéns pelo texto e pelo fato de seu blog ter virado referência nesse assunto. O tema muitas vezes é constituído de opiniões globais e uniformes, que dificilmente são desafiadas. Você produziu rupturas fundamentais nesse paradigma e trouxe novas perspectivas.

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    1. Exato, esse é o grande 'X' da questão. Não é qualquer sensualidade que é ruim. O problema é justamente a falta de contexto e os exageros desnecessários. Não estou afirmando isso para irritar os religiosos mais conservadores, até porque nós vivemos num país onde as pessoas saem nas ruas usando pouca roupa e fazem uso de sua sensualidade de forma natural - e nem por isso temos que censurá-las também. Temos que fazer exatamente isso: combater o machismo, a intolerância, o falso moralismo e democratizar o direito de todos fazerem uso de sua sensualidade.

      Agradeço pela sua participação e pela sua compreensão.

      Namastê!

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  2. Vitimista e machista demais esse texto. Homens deveriam de preocupar mais com DSTs e comportamento de risco. São emocionalmente reprimidos demais para confundirem amor com sexo.

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    1. Discordo. Aliás, é engraçado como tudo que contraria o senso comum feminista acaba sendo imediatamente rotulado de machista/iuzomismo. Sou levado a crer que isso não passa de falta de argumentos.

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