sábado, 11 de outubro de 2014

PT vs PSDB: a velha polarização está de volta


No post anterior, eu havia dito que não falaria sobre política em época de eleição, mas já que o primeiro turno acabou e a minha candidata está fora, não vejo mais sentido em me manter silêncio sobre o tema. Neste post, eu pretendo traçar um paralelo entre PT e PSDB, mostrando os prós e contras de cada lado e abordar diretamente sobre alguns aspectos dessa polarização que já dura 20 anos.

PSDB - Os prós
Quando FHC assumiu a presidência em 1995, o Brasil estava atravessando uma forte instabilidade econômica e vinha de vários planos econômicos fracassados (cruzeiro e cruzado). O PSDB conseguiu a façanha de manter a moeda estabilizada diante de turbulências e de dificuldades diversas. Tivemos também os programas Bolsa-Escola e o Auxílio-Gás, que beneficiaram muita gente carente. Além disso, a economia mais aberta do governo FHC foi responsável por algumas privatizações importantes, como a da Telebrás. O ponto mais forte do PSDB durante os 8 anos no poder foi o aspecto econômico, que, apesar dos altos e baixos, no geral, conseguiu evitar que uma super inflação voltasse a causar terror no país.

PT - Os prós
O grande feito do PT foi o assistencialismo e a redução sistemática das desigualdades sociais. Programas como o Bolsa-Família, o Luz Para Todos, o ProUni, o Mais Médicos, o Minha Casa Minha Vida, o Pronatec, o Fies, o Ciência sem Fronteiras, as cotas em Universidades e o aumento expressivo na quantidade de Universidades Federais mostraram que o PT não estava para brincadeira. Fora que o Brasil pagou a sua dívida com o FMI, os aumentos salariais passaram a ser mais expressivos, milhões de brasileiros saíram da linha da pobreza e as empregadas domésticas tiveram leis que as tratassem como trabalhadoras e não mais como semiescravas.

PSDB - Os contras
Quem não tem memória curta deve lembrar bem que durante os 8 anos de FHC tivemos muito, mas muito desemprego, aumentos ridículos no salário mínimo, escândalos de corrupção abafados, crise energética, ameaça de apagão, baixo investimento em educação, o país teve que recorrer várias vezes ao FMI e até os aposentados foram chamados de "vagabundos" pelo próprio FHC. Mas a maior lambança que o governo do PSDB fez mesmo foi a privatização da Vale do Rio Doce. A Vale foi subavaliada e vendida a um preço muito abaixo do custo sob a suspeita de vários escândalos.

PT - Os contras
As alianças feitas pelo PT e o financiamento de megaempreiteras acabaram deixando o atual governo refém de um centrismo político que acabou mantendo os privilégios dos 1% mais ricos e da elite burguesa. Entre os aliados bisonhos que o PT conquistou, tivemos nomes como Maluf, Sarney, Calheiros e Collor, que por si sós já são autoexplicativos. Infelizmente, o PT continuou seguindo a linha conservadora dos antecessores, sem sequer abordar os temas progressistas. E, claro, tivemos inúmeros escândalos, como o Mensalão e a corrupção nos Correios e na Petrobrás. O PT foi responsável também pela criação e aprovação do Marco Civil da Internet, que na minha opinião foi uma anedota que favorece a possíveis censuras e - falando em censura - algumas emissoras de TV afastaram alguns de seus funcionários por terem contrariado ou criticado o governo. Outro ponto que raramente vejo ser debatido sobre o PT é a eternidade que a transposição do Rio São Franscisco tem levado para ser concluída, o que aumenta o orçamento e adia algo que era para ter sido terminado há tempos.

Pois é, não tem virgem na zona...


Colocando na balança
Fazer comparações entre esses os dois partidos é algo que exige um pouco de cautela pelo fato deles terem administrado o país em momentos sociais e econômicos muito diferentes. No governo FHC, a prioridade era controlar a inflação; já no governo Lula, a prioridade era erradicar a miséria (lembra do Fome Zero?) e melhorar a vida dos mais carentes. As metas principais dos dois partidos foram cumpridas, ao menos parcialmente. Só que o grande problema dessas comparações com o passado é que agora as prioridades do PSDB mudaram. Ao consultar o atual plano de governo do PSDB, há mudanças positivas que o governo FHC nunca ousou por em pauta. E devido à aliança com partidos muito diferentes entre si, como o PSC e o PV, o plano de governo tucano teve que se modificar até agradar a gregos e troianos. O PT, por sua vez, conseguiu reduzir substancialmente a pobreza e a miséria e tem demonstrado que vai persistir nessa meta, mas também teve que agradar a gregos e troianos devido às suas alianças partidárias, deixando muitas pautas esquecidas.
A impressão que fica para mim, no fim das contas, é que PT e o PSDB, apesar das diferenças, têm sido o mesmo produto, mas com embalagens diferentes, uma vez que ambos estão pendendo cada vez mais ao centrismo político em suas alianças e em seus projetos. Ambos fizeram coisas boas e coisas ruins, mas nenhum dos dois representa uma verdadeira mudança. Por mais que a direita vote no PSDB e a esquerda vote no PT, nenhum dos dois partidos possui mais fidelidade às suas raízes ideológicas e nem representa aquela velha polarização entre direita e esquerda.

Tipo de comentário recorrente após as eleições

Sobre a xenofobia
Quem não vive em outro planeta viu que pipocaram nas redes sociais diversos comentários xenofóbicos e bairristas sobre o resultado das eleições para presidente. Enquanto que o sul, sudeste e centro-oeste votaram majoritariamente no PSDB; o nordeste e o norte votaram em peso no PT. Isso causou uma ira muito grande dos anti-PT contra o nordeste, rendendo comentários preconceituosos sobre as regiões onde o PT foi maioria. O preconceito contra nordestinos e nortistas, que é bem antigo, se tornou mais evidente após saírem os resultados dos presidenciáveis por estado. O que esses bairristas não levam em consideração é que no Rio, em Minas e no Rio Grande do Sul, o PT saiu vitorioso - enquanto que em Pernambuco e no Acre, o PT saiu derrotado. E mesmo que todo o norte e nordeste tivessem votado em Dilma, esse tipo de reação preconceituosa não se justificaria. E para piorar, o próprio ex-presidente FHC soltou mais uma de suas pérolas: "O PT está fincado nos menos informados, que coincide de ser os mais pobres. Não é porque são pobres que apoiam o PT, é porque são menos informados". Discordo que a frase do ex-presidente seja ofensiva ou preconceituosa, até porque realmente foram as pessoas de mais baixa renda que votaram no PT. O problema é que os eleitores do PT não são menos informados - muito pelo contrário - eles são bem informados. Basta ver como o PT melhorou a vida das pessoas mais pobres através de todo o assistencialismo que reduziu (mesmo que suavemente) as injustiças sociais. Pessoas mais pobres de todo o país votaram no PT justamente porque melhoraram de vida, e não por serem menos informadas. E se você acha que só gente "ignorante" vota no PT, acho que deveria perguntar isso a nomes como Chico Buarque, Leonardo Boff, Marilena Chaui e Chico César.

"Aqueles que dizem que aqui estão as pessoas com menos compreensão, com menos educação, que não sabem votar é porque não acompanharam tudo o que vem acontecendo aqui nesta região do Brasil. Nós olhamos com atenção especial pra essa região do país que foi tradicionalmente prejudicada por uma visão elitista do Brasil" (Dilma, sobre o nordeste)

O PT reduziu as desigualdades no nordeste

No caso do nordeste, segundo cálculos do Banco Central, a economia da região cresceu 2,55% no segundo trimestre do ano, na comparação com o primeiro – que já havia mostrado expansão de 2,12%. O nordeste também passou a ter mais indústrias, mais empregos, mais renda e menos gente na miséria - mudanças estas que reduziram o fluxo migratório para o eixo Rio-São Paulo em busca de empregos e melhor qualidade de vida. Tudo isso culminou numa maior votação no PT, porque comparando com os governos anteriores, o PT fez muito mais por essa gente, como explica essa página.

"As pessoas que falam mal do Nordeste não conhecem a região. Dizem que aqui as pessoas são desinstruídas. Nunca estiveram aqui, não sabem que o povo nordestino é mais compreensivo e desconhecem a revolução que aconteceu no Nordeste. Vocês têm que superar esta visão porque o Nordeste cresceu muito nos últimos 12 anos" (Dilma, ainda sobre o nordeste)

Maior medo da elite: ver todo mundo rico

Sobre a elite brasileira
A elite brasileira é a mais mesquinha e detestável do mundo, pois ela é esnobe, conservadora, egoísta, egocêntrica, preconceituosa, sádica, fanática, corruptora, fascista, plutocrata e teocrática. Os membros dessa elite não estão nem aí para o povo ou para o país, só pensam no próprio umbigo. Basta ver que muitos elitistas têm raiva do PT porque agora os pobres estão crescendo, mudando de vida e ameaçando o status dessa gente esnobe. Aécio Neves, o seu PSDB e aliados, queiram ou não, são os representantes mais diretos dos interesses dessa classe dominante e do imperialismo na América Latina. O PSDB, que foi social-democrata em sua origem, hoje se tornou praticamente neoliberal e representante da burguesia. O plano de governo "desburocratizador" do PSDB não é ruim em si, mas peca por apresentar propostas que não são adequadas para um país subdesenvolvido (ou emergente), como é o caso do Brasil. Esse liberalismo econômico camuflado funciona melhor em países mais ricos e com menos desigualdades, mas querer essa política num país de grandes desigualdades é extremamente prejudicial, especialmente para os mais pobres. É por isso que toda a turminha da ala da direita conservadora apoia integralmente o PSDB, apesar do PSDB ser, na visão deles, um partido de "esquerda". Nessa turminha da direita conservadora estão a elite burguesa, a classe média fascista, os neoliberais, os coxinhas e as olavettes. Por mais que neguem, eu vi com os meus próprios olhos que governo do PSDB foi voltado durante os oito anos para a elite. O vídeo abaixo mostra bem como é essa gentalha metida a socialite que vive vociferando dementemente contra o PT:


Claro que entre os eleitores de Aécio há pessoas politizadas e conscientes de sua posição ideológica que votam nele por convicção. A esses não tenho nenhuma crítica porque Aécio é o candidato certo para eles. O que me incomoda mesmo é que entre os que votam no Aécio há aqueles que o fazem apenas por ser anti-PT. O cidadão votar no PSDB porque se identifica, acredita no Aécio, vá lá, mas votar contra só porque está de birra e quer ver a cara do outro quando perder é brincar com o seu futuro e o futuro do país. Esse tipo de voto de gente que só sabe gritar: "Fora petralhaaa!" é uma vergonha total, porque eles se comportam como uma manada de despolitizados sem qualquer consciência ideológica ou partidária que escolheu o PSDB como voto de protesto.
Apesar da maioria das pessoas que votam no PSDB estarem ávidas por mudanças para melhor, creio eu que devido às múltiplas concessões dos tucanos feitas em suas alianças e também pelos rachas ideológicos internos, o PSDB vai mudar muito pouco: isso se de fato mudar para melhor.

Tudo isso para terminarmos na mesma?

Sobre a necessidade de mudança
A maioria do povo votou em candidatos de oposição, o que mostra que há uma grande insatisfação com o que aí está. Partidos que permanecem muito tempo no governo tendem a se acomodar e a fazer chantagens para permanecer no poder. O que o Brasil precisa é de uma grande faxina política, mas trocando o PT pelo PSDB há muito pouco a mudar, porque ainda que sejam diferentes entre si, ambos partidos foram seduzidos para um centrismo corrupto. Mas como no segundo turno não há muita escolha, temos que nos conformar em votar no menos pior. Eu, que sou esquerda de coração, não apoiaria jamais um tucano para presidência, então o que resta para mim é escolher mais uma vez entre o PT ou o voto nulo. Afinal, o PT fez muita coisa errada, detestei e me decepcionei com várias coisas feitas pelo partido, mas o PSDB foi infinitamente pior, pelo menos do ponto de vista ideológico e prático. Ao menos o PT tirou muita gente da miséria absoluta, deu a essa gente a chance de ter uma casa própria e estudar numa universidade - coisas que o PSDB nunca chegou perto de fazer.

E para quem não está satisfeito com nenhuma das duas opções, a solução é se mudar do país.

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