terça-feira, 16 de dezembro de 2014
Reflexões sobre a guerra 2 - Diário de Guerra
Continuando a trilogia de poemas que escrevi sobre a guerra, segue o segundo deles, chamado Diário de Guerra. Similar ao primeiro, ele conta em primeira pessoa o ponto de vista de um combatente que relata a angústia de sobreviver aos horrores de um conflito.
Diário de Guerra
A tomada foi perfeita.
Tivemos algumas baixas,
Mas o território está dominado.
Antes de partimos para o próximo,
Tomaremos nossas anfetaminas
E engoliremos nossa ração.
Que saudades do papai,
Das histórias que o vovô contava,
Da torta de ameixa da vovó
E dos carinhos da mamãe.
Também sinto saudades
Do meu lar, das minhas coisas,
Dos meus amigos...da minha vida.
Estou cansado, com sono e com frio
E temos que partir amanhã cedo.
Odeio esta maldita guerra!
Odeio mesmo! Odeio tudo!
Quero voltar para casa
Ou morrer logo de uma vez.
Foi uma batalha difícil.
Perdi muitos companheiros
E outros tantos estão mutilados.
A morfina não acabará
Com a nossa dor.
As feridas talvez nunca fechem
E talvez nunca mais eu seja o mesmo.
Há meses não sei o que é conforto
Nem o que é prazer.
Às vezes sinto uma solidão tão profunda
Quanto o vazio em meu coração.
O cheiro aterrorizante da morte
Exala de todos os cantos.
A cada explosão
Vidas se vão,
Ecoando o terror
De um mundo sem amor.
Sei que é triste dizer, mas
Os mortos são os únicos privilegiados.
Por que tudo isso?
Para quê matar?
Aquele homem poderia ser meu amigo,
Poderia ter uma família, um sonho...
Bobagem! Não! Não!
Não sei mais o que é certo ou errado.
Este não é meu lugar.
A face descarnada do cadáver
Revela a angústia desse pesadelo.
Matar é meu dever
E morrer é o meu destino.
Cansei desses espinhos no meu rosto
E dessas bolhas nos meus pés.
Meu ombro é um hematoma só
E esse lugar maldito
É a prova de que o inferno existe.
Estamos a caminho da batalha decisiva
Não sei se sobreviverei dessa vez.
Queria acreditar que Deus existe
E pensar algo de bom.
Os rifles estão engatilhados
É hora de honrar a farda novamente...
A seguir, os links para os demais posts dessa série de poemas sobre a guerra:
Reflexões sobre a guerra 1 - Memórias de um sobrevivente
Reflexões sobre a guerra 2 - Diário de Guerra
Reflexões sobre a guerra 3 - A Última Noite de um Homem
Seus poemas parecem que foram escritos por soldados que já vivenciaram a experiência de uma guerra. Você disse que sempre teve uma intensa atração pelo tema, mas quais meios te levaram a isso? Filmes, livros, contato com soldados? Sua preferência sobre o tema é mais a parte que trata do sofrimento sentido pelo soldado? Gosto mais da parte que trata de estratégia.
ResponderExcluirMuito bom seus poemas. Abraços.
Olá!
ExcluirComo eu disse no primeiro post dessa série de poemas de guerra, sempre achei estranho os meus deja vus sobre o assunto, tanto que cogitei ter sido reencarnação ou mesmo memórias genéticas de algum antepassado meu. Nunca li nenhum livro sobre o assunto e nem conversei com ex-combatentes, mas já assisti filmes como Apocalypse Now, Platoon e Saving Private Ryan que sempre me deram a estranha sensação de já ter visto tudo aquilo em algum lugar.
O foco desses poemas era mesmo a angústia dos soldados. Também houve outros poemas não publicados onde eu relevei mais a questão estratégica e de armamentos, mas esses ficam para um outro post.
Grande abraço e obrigado pela sua participação.