domingo, 29 de maio de 2016

Se não é cultura do estupro, é o que então?


Vamos refletir sobre os seguintes fatos:

1-Um rinoceronte de sunga relatou em rede nacional um estupro praticado por ele mesmo em tom de piada e todos aplaudiram.
2-Um deputado federal disse que não estupraria uma deputada porque ela "não merecia ser estuprada".
3-Um vereador em Minas disse que uma jovem violentada sexualmente "quis ser estuprada".
4-Um grupo de mais de 30 homens estupraram uma adolescente e colocam as imagens nas redes sociais, mostrando orgulho e escracho diante da situação.
5-Um ministro do STF libertou um médico estuprador que, posteriormente, foi detido pela Interpol.
6-Estima-se que a cada 11 minutos, uma mulher é estuprada no Brasil. Isso, claro, sem mencionar a subnotificação dos casos de estupro.
7-A pena dada pelos presidiários a outros presos estupradores é o próprio estupro.
8-A bancada evangélica é contra leis que dão garantias a vítimas de estupro.

Os fatos acima mostram que a tolerância, a relativização, o descaso e, em casos mais extremos, o orgulho pelo estupro estão se tornando cada vez mais recorrentes no Brasil. Está começando a haver uma aceitação social para o crime de estupro, e isso é extremamente perigoso. Países como Congo, Índia e alguns pelo Oriente Médio mostram o extremo a que podemos chegar se a nossa cultura não mudar. As feministas estão cansadas de dizer há tempos que há algo errado envolvendo a violência sexual neste país e precisamos todos acordar enquanto há tempo.


No caso do estupro coletivo daquela adolescente por mais de 30 homens, ainda houve quem relativizasse o ocorrido, atenuando o crime com desculpas como: "ela gostava de bandido", "ela dava pra todo mundo", "ela mereceu" e até "não houve estupro". Nenhum desses argumentos justifica o estupro. Aliás, NADA justifica o estupro. Estupro não é como o assassinato, que pode ser cometido em legítima defesa. Estupro é feito sempre de forma consciente pelo agressor com a intenção direta ou indireta de causar sofrimento e humilhação à vítima.
Quando usamos eufemismos para justificar a violência sexual, estamos contribuindo para a relativização do estupro e fortalecendo a cultura do mesmo. Quando passamos a defender o estuprador e a culpar a vítima, estamos, sim, contribuindo para a aceitação cultural do estupro. O resultado disso é impunidade, mais estupros, mais violência, mais mulheres sendo atacadas, mais vítimas se suicidando e o fortalecimento da famigerada cultura do estupro.
O estupro não se justifica numa sociedade civilizada. O impulso sexual dos homens não é justificativa, porque temos filmes pornográficos e prostitutas como válvula de escape. A veste "provocante" não justifica, porque a roupa, como já foi comprovada, não tem qualquer influência sobre o estupro. O fato da mulher andar sozinha ou estar bêbada também não justifica a violência, porque o corpo dela não é um objeto de uso público. Enfim, não existe justifica do ponto de vista ético para o estupro.


Assim como já temos cultura do assassinato, cultura da corrupção e cultura da violência, estamos inaugurando uma nova e lamentável cultura: a cultura do estupro. Nunca gostaria tanto de estar errado.

Como de costume, um vídeo para desemburrecer no final:

2 comentários:

  1. olha so esse texto! muito bomhttp://www.deminuto.com.br/index.php/2016/05/27/voce-e-conivente-com-o-estupro/

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    1. Sim, o texto é esclarecedor, lúcido, conciso e fala verdades que a maioria das pessoas não gosta de ouvir, mas que precisa ouvir para deixar de apoiar tanta misoginia e violência contra a mulher.

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