segunda-feira, 11 de julho de 2016

A recolonização do Brasil #2


No século XVI, os índios que habitavam o então recém descoberto Brasil entregaram nossas riquezas naturais para os portugueses em troca de espelhos e outras quinquilharias. Os índios trabalhavam arduamente para entregar o pau-brasil, acreditando que estavam fazendo um bom negócio. Quando essa política do escambo passou a não dar mais certo, foi que os indígenas perceberam, tardiamente, as reais intenções dos colonizadores. Daí para frente, os nativos foram escravizados, tiveram suas terras saqueadas, sua cultura destruída e boa parte da sua população dizimada. A questão que volta depois de cinco séculos é a mesma: vale a pena repetir tudo aquilo?

Sim, o Brasil está sendo recolonizado por uma nova metrópole: os EUA. Se você acha que estou exagerando, ficando paranoico ou criando uma teoria conspiratória, deixe de preguiça e digite no seu site de busca a expressão "american way of life". O Brasil – a América Latina, aliás – tem sido bombardeada pelo estilo de vida norte-americano. O que comemos, o que assistimos, o que pensamos, o que acreditamos, o que usamos para nos divertir, como nos comportamos e até as gírias que usamos na nossa língua sofrem uma forte influência dos EUA desde o século XIX. Mas a coisa não acaba por aí. Ser como os EUA tornou-se modelo de sucesso e felicidade para as pessoas em todas as Américas. Mas será que isso seria realmente bom para nós?
Para ajudar na reflexão, vou destacar abaixo uma parte de um texto escrito pelo professor de Filosofia e Psicologia da UFJF, Gustavo Castañon, onde há uma definição resumida do que é a sociedade norte-americana:

"Quanto a sociedade americana, ela é o câncer do mundo moderno. Uma sociedade que vive de saquear o mundo através da emissão de dólar, que tem um padrão de consumo e desperdício imoral e insustentável, que oprime, invade e saqueia países periféricos, promove terrorismo de estado no mundo todo, não garante condições básicas de igualdade de oportunidade aos seus cidadãos, não tem sistema de saúde pública, férias ou qualquer outra garantia trabalhista, é o país mais desigual do mundo desenvolvido, autoritário, sem democracia, na qual o processo eleitoral é uma farsa movida a dinheiro e a um bipartidarismo fictício."

Diante de falas como essas acima vindas de pessoas instruídas, que fazem parte da elite intelectual brasileira, o que resta como alternativa para os antipatriotas é usar argumentações ridículas de que "os professores são comunistas" ou mandar o interlocutor para Cuba. Como já dizia um amigo meu: "a ignorância da classe média brasileira é tanta, que o primeiro a falar a verdade é xingado de comunista por ela". A classe média reacionária sequer se dá ao trabalho de refletir e já xinga quem pensa diferente, mesmo que este diga a verdade. Esse tratamento hostil, beirando o fascismo, é frequentemente usado contra qualquer um que destrói as crenças pré-fabricadas da nossa pobre classe média ou que percebe a decadência estrutural, política e moral da sociedade americana.
As pessoas comuns tornaram-se tão estúpidas pela lavagem cerebral midiática e cultural que sequer aceitam refletir sobre a sua crença anedótica de que os EUA são "um modelo ideal de nação". Não, eles não são. E antes que me mandem para lá, Cuba também não é. Mas existe uma diferença fundamental entre Cuba e os demais países americanos ao sul do trópico de câncer. É que em Cuba, os EUA não conseguiram impor seu american way of life. Cuba é livre da neocolonização ianque, mas sofreu inúmeras retaliações por isso, sendo o embargo econômico a pior de todas. Os únicos países que o Tio Sam respeita mesmo são os do Clube da Bomba. Todo o resto do mundo é o quintal da Casa Branca e dos magnatas que controlam o sistema econômico dos EUA.

Capitalismo selvagem

O ponto central da história, como já expus, é que o Brasil é uma colônia dos EUA em pleno século XXI. E ainda seremos muito mais. Com um partido descaradamente entreguista apostando no jogo sujo para retomar o poder, fica muito evidente que é apenas uma questão de tempo até esta nação estagnar e naufragar em menos de duas décadas.
Para os que nasceram depois do primeiro álbum da Legião Urbana, não custa nada lembrar das frases do poeta Renato Russo sobre este assunto em uma canção quase punk:

"Quando nascemos fomos programados
A receber o que vocês
Nos empurraram com os enlatados dos Usa, de 9 às 6.

Desde pequenos nós comemos lixo
Comercial e industrial
Mas agora chegou nossa vez
Vamos cuspir de volta o lixo em cima de vocês."

(Geração Coca-Cola, Legião Urbana)


Nos livros de história do futuro, o que estará escrito sobre o Brasil do século XXI é o mesmo que os historiadores da nossa época estão cansados de dizer: a nossa independência foi uma farsa comprada por 2 milhões de libras esterlinas para Portugal. Então saímos das mãos de Portugal para cair direto nas mãos da Inglaterra – e das mãos dos ingleses passamos para as mãos dos americanos. E hoje, não por acidente, teremos que comprar por um preço altíssimo a nossa independência para os EUA também. A menos que um espírito de luta patriota que nunca tivemos surja do nada, pagaremos a longas prestações a nossa "independência" aos donos do planeta. Para começar, teremos que dar o Pré-sal, depois a Petrobras, depois a Amazônia, depois a água, depois o ensino público e depois a saúde pública. Isso sem mencionar a quebra da indústria nacional e o sucateamento dos nossos investimentos em tecnologia até não sobrar mais nada para ser vendido, desmontado ou usurpado. Daí para frente, sobrará apenas a exploração criminosa do nosso povo com juros exorbitantes, carga horária de trabalho de 80 horas semanais, aposentadoria acima dos 75 anos, salários irrisórios, aumento abusivo da carga tributária para os trabalhadores e, quem sabe, talvez a revogação da Lei Áurea não caia tão mal. Talvez, depois disso tudo, os EUA desistam de nós e nos deixem livres: livres para ser uma gigantesca Somália piorada bem no meio da América do Sul. Só lembrando que tudo isso ocorrerá com o aval da nossa elite econômica rentista, entreguista, predatória e plutocrata.

Mas se tudo isso não passa de "teoria da conspiração de petralhas" para você, tome a pílula azul, ou melhor, o seu Lexotan, e volte para os seus sonhos. Deixe a realidade para quem não tem medo de sair da sua zona de conforto.

2 comentários:

  1. O que é o Clube da Bomba?

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    1. É o clube dos países com armas nucleares. Chamo eles de "clube" porque todos eles se respeitam entre si por razões óbvias.

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