quinta-feira, 12 de janeiro de 2017
Guitarra barata presta?
Eu comecei a postar diariamente neste blog desde janeiro de 2016 para poder abordar todos os assuntos que estavam na fila para serem publicados e não atrasar sobre temas atuais. Só que nem postando todos os dias dá para dar conta de tanta informação. Nesses últimos dias teve muita coisa para abordar e não consegui falar nem sobre metade: chacinas nos presídios, pastor levando facada, o blog da Lola sendo covardemente atacado, deputado querendo bloquear pornografia na internet, garota Globeleza "desobjetificada", a política externa predatória dos EUA, Trump brigando com a mídia mainstream norte-americana e mais um monte de outras coisas. Mas como este post das guitarras baratas já estava encalhado há um bom tempo, resolvi atualizá-lo e publicá-lo de uma vez. Vamos lá.
Guitarra baratinha presta?
Uma dúvida comum entre os iniciantes na guitarra, no baixo ou no violão é se os instrumentos musicais de entrada (para iniciantes) são bons. Pois bem, vamos direto ao ponto: instrumento de entrada é bom apenas para iniciantes pouco exigentes, ponto. Essas guitarras de até mil reais são bastante limitadas e são produzidas em larga escala na China para reduzir os custos de produção ao máximo. Não dá para esperar uma qualidade decente desses instrumentos, até porque eles não foram feitos para serem bons, mas para serem baratos.
A construção das guitarras baratas
O primeiro ponto negativo dessas guitarras de entrada são as madeiras com que são construídas. Guitarras baratas não costumam ter madeira boa. Geralmente é usado basswood asiático, compensado ou MDF para o corpo desses instrumentos. Já o braço e a escala quase sempre usam madeiras de segunda. Mas o problema principal dessas guitarras está mesmo na madeira do corpo, que independentemente de qual tipo seja, normalmente é uma madeira mal secada, mal cortada, mal colada e às vezes até verde. Não é possível extrair um som bacana de uma guitarra que tenha uma madeira muito ruim, porque o corpo e as cordas vão perder em vibração, em sustain e em frequências sonoras.
Outro problema são as ferragens e tarraxas dessas guitarras, que seguram mal a afinação e tornam o uso da alavanca um tormento. E não menos grave são os captadores, que são quase sempre campeões do mundo em chiado e tão precários que te impedem de fazer harmônicos artificiais, tapping ou ligados. A parte elétrica então, nem se fala: ausência de blindagem, fiação capenga e os potenciômetros ruins são um imperativo na redução dos custos totais. Já as cordas, putz, vêm tão altas que a guitarra mais parece um berimbau e os trastes vêm tão desnivelados que atrapalham até na hora de fazer um slide. E para completar a obra do cão, esses instrumentos vêm completamente desregulados de fábrica e são vendidos assim mesmo nas lojas. Ou seja: guitarra barata no Brasil é um barato que sai caro.
Claro que as guitarras de 400 paus de hoje são melhores e mais confortáveis que aquelas Tonantes lamentáveis dos anos 80, mas mesmo assim as atuais continuam sendo guitarras fracas.
E o iniciante?
Assim como aconteceu comigo, a maioria dos iniciantes – seja por limitações financeiras, por desconhecimento ou por pão-durismo – acabam indo na onda e comprando essas guitarras baratas. O que o iniciante precisa fazer logo que compra uma guitarra dessas é levá-la imediatamente ao luthier, porque senão vai ter muita dificuldade para tocar. Para se ter uma ideia do quanto essas guitarras baratas acabam saindo caro, o luthier que se prontificou para regular a minha guitarra cobrou quase o dobro do preço dela para fazer o nivelamento dos trastes, baixar a ação das cordas, afinar as oitavas, hidratar a escala, regular da ponte, blindar para diminuir o ruído, regular do tensor, trocar de cordas e alinhar os captadores.
Eu não tinha dinheiro na época para pagar o luthier, então eu mesmo resolvi fazer a regulagem por minha conta. Acabei baixando demais as cordas e elas começaram a trastejar. Mesmo mexendo no tensor, não deu certo e tive que comprar outro nut pra guitarra. Moral da história: não fiz a regulagem completa e o resultado não ficou bom. O que eu recomendo é que as pessoas sempre procurem um luthier de confiança, porque regular sozinho sem ter experiência é bem complicado. Se o iniciante não quiser ter dor de cabeça e mais dificuldade ainda para aprender a tocar, terá que providenciar uma regulagem. Guitarra ruim e desregulada, ninguém merece.
Mas e o som?
Devido às limitações e problemas de construção, essas guitarras de entrada costumam ter diversos problemas na hora de timbrar. Não é raro ver guitarras baratas com algumas cordas tendo o volume muito mais alto que as outras, com falta de médios ou de graves e com captadores que apitam mais que trem a vapor. Isso obriga o guitarrista iniciante a usar pedaleiras que tenham redutor de ruído (noise gate), compressor e equalizador extra para "puxar" os sinais mais apagados. Apesar de algumas terem até um timbre bonito dependendo do amplificador usado, no geral, essas guitarras de baixo custo costumam ser um óbice ao aprendizado.
Conclusão
Guitarras baratas são normalmente muito bonitas no acabamento e na pintura, mas isso serve quase sempre para mascarar a péssima qualidade técnica das mesmas. Eu tenho até hoje a minha strato da Giannini e quando comparo ela com a qualidade de uma Squier ou de uma Epiphone, é como se tivesse comparando um Gol de motor 1.0 com um Honda Civic 1.5 turbo. Nem toda guitarra cara é boa, mas as melhores guitarras são sempre caras. Talvez, o melhor custo benefício esteja nas guitarras intermediárias, ou semiprofissionais, que custam a partir de 2 mil pilas. Geralmente essas guitarras vêm com madeira boa (de lei), com ferragens aceitáveis e com captadores decentes. Essas intermediárias são muito boas para aprender a tocar e para fazer upgrades posteriormente. Pena que a realidade econômica brasileira não permite que se gaste tanto em um instrumento musical. Ainda mais se tratando de guitarra, que exige ainda o amplificador, cabos, pedais, correias e afinadores.
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