sexta-feira, 10 de novembro de 2017

Meritocracia: a palavra final


Eu acho engraçado esses mauricinhos e patricinhas que vivem falando bobagens sobre a meritocracia nas redes sociais com seus discursos reacionários e desconexos com a realidade. Noutro dia, por exemplo, eu vi um playboyzinho falando no YouTube que "cotas é racismo contra branco". Aí, no outro dia, veio outro filhinho de papai contanto no seu textão lá no Facebook como foi "difícil" para ele passar no Enem porque, segundo ele, "os pobres estavam roubando as vagas dos esforçados alunos da rede privada". Nessas manifestações vitimistas da classe média fica muito claro que o conceito de meritocracia está fortemente deturpado para muita gente. As pessoas, infelizmente, enxergam o mundo apenas através do seu próprio ponto de vista.
Pois bem, antes de argumentar qualquer coisa, eu gostaria de fazer algumas perguntinhas básicas para quem tanto defende a "meritocracia":

1 - Quantos tiroteios tem por dia no seu bairro?
2 - Quantas refeições por dia você faz?
3 - Quantas pessoas da sua família sabem ler e escrever?
4 - Quantas vezes você dormiu ao relento por não ter casa para morar?
5 - Quantas vezes você precisou largar os seus estudos para ajudar a sua família?

A partir dessas cinco perguntinhas já é possível saber se você é privilegiado ou não. Se for um privilegiado, seria interessante pensar um pouquinho nas pessoas que nunca tiveram condições de competir de igual para igual com você. Será que é justo continuar vivendo num país que além de ser criminosamente desigual ainda tenta naturalizar e manter essas desigualdades? Como dizia um colega meu: é preciso ter mérito para falar de meritocracia.

Como é possível meritocracia num país como este?

É claro que o sistema de cotas não é a solução para resolver os problemas da desigualdade social. A solução definitiva a longo prazo é a tal melhoria no sistema de ensino e a redução drástica das injustiças sociais por meio de políticas públicas. As cotas são parte de uma medida emergencial que precisa ser tomada para que o pobre, negro e excluído tenha condições mínimas de atingir seus sonhos de maneira menos injusta. O grande problema é que normalmente quem é contra as cotas quase sempre também é contra o Bolsa Família; não está nem aí para PEC do teto de gastos que mutilou os investimentos em educação; é a favor da privatização do nosso petróleo, energia e minerais (cujos royalties iriam para saúde e educação) e não move um único dedo sequer para melhorar o ensino público deste país. Essas pessoas reacionárias querem apenas manter seus privilégios.


As pessoas das comunidades carentes nunca terão a chance de ter uma vida melhor se esse pensamento retrógrado e colonial da maioria da nossa classe média prevalecer. O acesso ao capital cultural deve ser um direito de todos. Só porque uma pessoa nasceu pobre ela tem que sofrer muito mais para poder ingressar na elite intelectual? Claro que não! A proposta da criação da civilização humana foi para que as pessoas pudessem viver de forma harmoniosa em sociedade. Mas é impossível harmonia onde há injustiça social provocada e naturalizada. Temos que mudar isso urgentemente.

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