quinta-feira, 16 de novembro de 2017
Os caminhos para a revolução
Muitas pessoas dizem que o Brasil só tem jeito através de uma revolução. E essas pessoas realmente estão certas. Só uma atitude profundamente revolucionária salvará o Brasil dessa loucura toda que estamos vivendo. Mas o problema todo aqui é um só: quando e como fazer uma revolução?
E se fizéssemos uma revolução agora?
Se um bando de guerrilheiros tomar o poder hoje com a proposta de reverter as reformas golpistas e governar em prol da igualdade, da justiça social e do nacionalismo, pode ter absoluta certeza de que eles serão arrancados do poder em poucas horas. E a população trabalhadora será a primeira a hostilizar uma revolução de esquerda. Isso por duas razões. Primeiro que o povo está completamente alienado devido à lavagem cerebral cultural e midiática. E segundo que as nossas oligarquias juntamente com os EUA acionariam todos os recursos disponíveis para conter a revolução. A mídia burguesa atacaria 24 horas por dia os revolucionários e instigaria um levante da população contra o novo governo. Os EUA entrariam em seguida com apoio militar e logístico para lutar ao lado das forças armadas brasileiras contra o governo revolucionário. A revolução não passaria de um levante frustrado que só serviria para justificar uma nova ditadura fascista que viria em seguida como resposta. E, dessa maneira, toda a esquerda seria criminalizada e jogada para a clandestinidade por décadas mais uma vez.
Este não é um bom momento para revoluções. Uma revolução só seria viável se, primeiro, tomássemos algumas medidas que preparassem o terreno para tal. E essas medidas passariam obrigatoriamente por reformas em dois setores fundamentais controlados pela burguesia.
Duas frentes de combate: a mídia e a educação
Todas as grandes revoluções tiveram um trabalho ideológico muito forte por trás delas para trazer a população para o seu lado. No caso do Brasil, precisaríamos primeiro desalienar as pessoas, especialmente a classe proletária. E esse trabalho só pode ser feito destravando dois setores controlados a rédeas curtas pela burguesia que são a mídia e a educação.
A mídia brasileira é controlada por meia dúzia de oligarcas que fazem conluio com a alta burguesia plutocrata nacional e internacional. A solução para destruir esse monopólio da informação controlado pela burguesia é justamente a tão falada democratização dos meios de comunicação de massa. Sem uma mídia plural com espaço para o contraditório, será impossível qualquer deslavagem cerebral. Precisamos de mais canais, jornais e emissoras de cunho progressista para mostrar o outro ponto de vista da história e da realidade.
Já a educação brasileira é voltada para criar técnicos e profissionais especializados. O que aprendemos na escola é basicamente a decorar fórmulas, datas e conceitos para concorrer a uma vaga no mercado de trabalho no futuro. Nós não temos no Brasil uma educação que estimule o pensamento crítico, que ensine noções fundamentais de política ou legislação, que ensine cidadania, direitos e deveres. A nossa educação é totalmente controlada pela burguesia e pelo pensamento capitalista. Não se desenvolve uma consciência social, uma consciência de classe ou uma consciência humanitária no nosso atual sistema de ensino. E como parte da burguesia sente que a internet está despertando justamente esse senso crítico e pluralista em muitas pessoas, então começaram a surgir ideias e propostas absurdas para controlar e censurar a educação e a arte. Além da direita reacionária associar a arte progressista à degeneração dos costumes, também está implantando medidas autoritárias como a "escola sem partido" para atacar todo e qualquer pensamento subversivo. Esse avanço truculento da direita é, em parte, desespero, porque o sistema capitalista está em crise e o zeitgeist (espírito da época) está mudando. E a educação precisa acompanhar essa mudança.
O fator patriótico
Mesmo se a educação fosse libertadora e se a mídia fosse regulamentada, ainda teríamos empecilhos graves a qualquer pensamento revolucionário. O mais grave de todos é a nossa submissão econômica e cultural aos EUA. Para os EUA, já basta ter que aturar o crescimento da China. Imagine então aturar o crescimento de outra superpotência bem no seu quintal... Então seria necessário também criar uma visão profundamente nacionalista e patriota do Brasil para desconstruir esse nosso complexo de vira-latas. Ser patriota, ao contrário do que dizem alguns "bundas sujas" por aí, não é "combater o comunismo". Ser patriota é defender a nossa soberania, o nosso povo, as nossas riquezas, a nossa cultura, a nossa tecnologia e criar símbolos nacionais dos quais possamos nos orgulhar. O Brasil precisa pensar alto e ser independente. Não temos as dimensões geográficas e a riqueza que temos para ser um país subdesenvolvido e explorado.
O fator internacional
O Estado burguês, da forma como está consolidado no país, não permite que as vozes das massas sejam ouvidas diante do lobby e do poder do dinheiro. Isso torna reformas na educação e na mídia praticamente impossíveis de serem feitas. E a saída para esse travamento interno é internacional. O mundo está passando por um período de turbulência geopolítica muito forte. São golpes na América Latina (Brasil e Paraguai), golpes no Oriente Médio (Arábia Saudita), golpes na África (Zimbábue), tensão nuclear na Coreia, extrema-direita crescendo no mundo, disputas brutais na Síria, Estado Islâmico em evidência... E desde as eleições de Donald Trump que os EUA também estão atravessando certa instabilidade. Essa instabilidade – além de indicar um abalo no sistema capitalista – aponta para o risco iminente de uma mudança na conjuntura geopolítica global. Se essa mudança ocorrer, é possível que ocorram novas revoluções pelo mundo, inclusive nos próprios EUA. E como tudo que ocorre nos EUA costuma ser "imitado" pelo resto do mundo, esta poderia ser a oportunidade ideal para fazer uma mudança profunda na nossa política. Somente assim teríamos condições de sair dessa sinuca de bico rumo a um país melhor. Além disso, temos que fazer alianças com potências que não compactuam com o imperialismo, tais como Rússia e China.
O fator decisivo
Com a maior parte da população desalienada e com o Brasil realmente independente, aí, sim, seria possível um trabalho político e ideológico nas ruas, na web, nas universidades, na imprensa, nos sindicatos e até nas forças armadas para que as pessoas entendam a necessidade da mudança. Somente aí é que haveria a possibilidade de se fazer uma revolução.
Tudo isso que foi proposto não foi para fazer uma revolução sangrenta, mas sim para fazer uma revolução que torne o Brasil um país digno para todos os brasileiros – e não apenas para oligarquias rentistas que odeiam o próprio país. Só nos tornaremos uma democracia quando a nossa população tiver consciência política e souber defender os seus interesses e os seus direitos. É preciso romper com o pensamento colonial, escravista, elitista e individualista para que possamos construir uma nação verdadeiramente justa e inclusiva.
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