Estamos sob uma nova ditadura

Existe uma metáfora que diz que se jogarmos um sapo vivo numa panela com água fervendo, ele imediatamente pula fora. O sapo sai meio chamuscado, mas vivo. Porém, se o sapo for colocado numa panela com a água na temperatura ambiente e esquentarmos aos poucos essa água, o sapo morre cozido sem perceber que a água ferveu. Com as ditaduras ocorre algo semelhante ao segundo caso. Ninguém sabe ao certo quando elas começam e só se dão conta que estão em uma quando a coisa já está muito feia. Foi assim no Golpe de 1964, quando as coisas começaram mais brandas até recrudescerem em 1968. As democracias morrem gradualmente, assim como os sapos em banho-maria. E nós estamos vivendo agora, em 2019, em uma dessas ditaduras em sua fase incipiente.

O processo da ruptura democrática se iniciou em 2014 quando o PSDB do mafioso Aécio Neves não aceitou a derrota para o PT nas eleições presidenciais e começou, junto com a oposição, a boicotar o governo através de pautas-bomba. Em 2016 veio o Golpe parlamentar que mudou radicalmente o plano de governo para o neoliberalismo. Dois anos depois, Lula foi preso de forma ilegal (como o Intercept já provou) para não disputar as eleições e Jair Bolsonaro foi eleito presidente de forma fraudulenta com a ajuda das fake news financiadas por caixa 2 e com a ajuda da bizarra facada que ocorreu em circunstâncias suspeitas.

O ponto crítico que torna o momento que estamos vivendo uma ditadura é a omissão do judiciário, sobretudo do STF, em soltar Lula e em punir a Lava Jato por seus crimes e por sua atuação política. A hipótese tosca do hacker – já desmentida pelo Telegram – virou um escudo para proteger a organização criminosa por trás da Lava Jato e manter as coisas como estão. E a tendência é que, daqui para frente, as coisas fiquem piores, porque sempre há a necessidade de endurecer o regime depois de certo tempo para evitar que verdades venham à tona e que o atual plano de governo (que atende aos interesses das plutocracias) seja modificado. Então é bom se preparar, quem puder, para deixar o país. Não vejo nenhuma possibilidade de se reverter este processo a curto prazo.

Este momento dantesco que estamos vivendo é um reflexo de mais uma crise no sistema capitalista internacional, que sempre exige medidas neoliberais ou/e antidemocráticas nos países capitalistas emergentes como forma de minimizar a crise nos países capitalistas ricos. Como estamos no século XXI, em plena era da informação, essas neoditaduras são mais brandas, mas sempre mantendo as mesmas características: autoritarismo, ausência da separação entre os três poderes, perseguição aos opositores, prisões políticas e uma imposição antidemocrática do plano de governo das elites.

Esse cenário só irá mudar quando essa crise do capitalismo financeiro passar (se passar) ou quando esse modo de produção não tiver mais como se sustentar.
O que fazer até lá? Resistir, lutar e preparar mentes e corações para iniciarmos a nossa revolução no dia que o capitalismo começar a desmoronar em sua centralidade (EUA e Europa). As gerações futuras precisarão estar preparadas para abraçar ou o ecossocialismo, ou uma economia baseada em recursos (Projeto Vênus) caso a espécie humana queira continuar existindo neste planeta por mais de um século.