segunda-feira, 8 de junho de 2020

Ciro Gomes: Sith ou Jedi?


De acordo com as minhas leituras da atual conjuntura, estou com a nítida impressão que o ex-ministro Ciro Gomes está sendo instrumentalizado pela direita liberal. Isso ocorre por motivos estratégicos na intenção de capturar votos tanto da direita quanto da esquerda para as próximas eleições. Essa instrumentalização se deve ao fato que os dois partidos com maior viabilidade eleitoral, PT e PSDB, estão passando por um mau momento. O PT foi covardemente caluniado pela imprensa corporativa por anos e o PSDB não consegue um candidato sequer que agrade ao establishment. Ciro seria, portanto, um curinga: uma peça descartável para fins eleitorais. Lá no fundo, para a direita, Ciro e Lula são farinha do mesmo saco. Ele seria somente um meio de afastar o PT e a esquerda do jogo eleitoral.

Se Ciro vencesse uma eleição para presidente da república, seria descartado pela direita assim como Collor foi. A burguesia não vai querer lidar com alguém que não é do seu círculo, que tem uma relação obtusa com os parlamentares e que pode virar uma cobra a picá-la a qualquer momento. Essa guinada à centro-direita cirista mostra que ele perdeu espaço no campo progressista e tenta garimpar votos da direita decepcionada com o bolsonarismo e cansada do tucanato. Mas como alertei em outro post, Ciro Gomes não vencerá eleição alguma, porque uma terceira via não se cria no Brasil. Se fosse um país parlamentarista europeu, talvez Ciro pudesse se tornar um primeiro-ministro exemplar. Mas em um Brasil dominado pelo imperialismo, sem uma burguesia nacionalista e sem uma imprensa democrática, Ciro seria obrigado a governar como um social liberal nos moldes do PSDB e com um verniz de progressismo.

Acho que se ainda for possível dialogar, é preciso trazer Ciro para o nosso lado. É sempre melhor tê-lo como aliado do que como inimigo, porque o canto da sereia dele pode induzir boa parte da esquerda ao erro numa eleição. Ciro fala muitas verdades e compreende bem as entranhas do sistema, mas ele pode muito bem usar isso a favor dos interesses econômicos dos que atualmente querem usá-lo como uma isca política para descer o chicote no lombo da classe trabalhadora.

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