Nesta semana que passou, eu tive o desgosto de me deparar com duas ideias que me soaram como diarreia mental pura a respeito do racismo. A primeira delas foi com relação a (mais) um caso de injúria racial envolvendo os filhos do casal Bruno Gagliasso e Giovanna Ewbank. O caso, como todos já devem saber, foi bastante divulgado pela mídia e causou indignação generalizada. O problema é que nas redes sociais ainda resiste um esgoto de opiniões criminosas que proliferam de perfis fakes e anônimos defendendo o indefensável. Entre os absurdos que li, um que me chamou atenção por vir de alguém supostamente progressista foi um comentário que dizia que brancos não devem lutar contra o racismo, porque assim eles estão "tomando o lugar de fala" e o "protagonismo" dos pretos. Esse pensamento é racista por si só, já que ele parte do pressuposto que cor da pele é critério para se ter atitudes específicas. Além disso, racismo não é uma ofensa só contra negros. O racismo é uma ofensa e um crime que fere a dignidade de TODOS os seres humanos. O racismo, independentemente contra quem for, é criminoso e não só pode como DEVE ser combatido também por pessoas brancas: ainda mais quando é contra os seus próprios filhos. Essa ideia separatista de tentar dividir a luta contra o racismo é, na minha interpretação, uma forma que os racistas encontraram de se infiltrar e tumultuar por dentro os movimentos igualitários. A gente não pode viver num mundo onde a fração opressora (ou privilegiada) da população deve ficar calada diante do crime de racismo. É bom que se diga que o racismo é um crime não apenas contra negros e pardos, mas também contra toda a humanidade. Até mesmo um cidadão branco brasileiro pode sofrer racismo no exterior, já que somos vistos lá fora como sendo "latinos" ou "mestiços". Então, reitero: brancos, caucasianos ou albinos têm, sim, que combater o racismo. Os negros e pardos devem procurar, sim, protagonismo: mas negar a necessidade dos brancos serem antirracistas é um tiro no pé. Ser antirracista é um dever moral e cívico de todos.
Outra porcaria escatológica que me deparei foi com a defesa de algumas pessoas do "direito de serem racistas". Perguntas do tipo: "por que não posso ser racista?" sem ser no sentido de questionamento, mas no sentido de reivindicação de um suposto "direito" é algo estarrecedor. Ora, ninguém tem o direito de ser racista, porque racismo é CRIME. Assim como ninguém pode também se achar no direito de ser ladrão ou assassino. Internamente, você pode até ser um sujeito que não gosta de negros ou pardos, mas a questão aqui não é gostar: a questão aqui é sobre comportamento social. Se você diz coisas racistas dentro da sua casa e mais ninguém ouve, ok. Mas a partir do momento que suas frases racistas ecoam publicamente, elas podem machucar alguém e isso é que torna esse tipo de fala criminosa. Racismo não é algo que apenas ofende: é algo que fere, machuca, humilha, constrange, dói, mata e cria divisões entre os seres humanos. Não é possível se viver em sociedade com atitudes racistas.
Então a pergunta que deve ser feita não é "por que não posso ser racista?", mas, sim: "por que eu quero ser uma pessoa racista?" O que você e a sociedade têm a ganhar com você sendo racista? Botem uma coisa na cabeça: racismo não se discute – racismo se combate. Uma coisa, como citei, é não gostar, outra coisa é desrespeitar. Racismo não é sobre opinião ou gosto: racismo é desrespeito, agressão, violência, intimidação e crime. E, por favor, reaças, parem de mentiras: negros, pretos e pardos não querem privilégios e nem tirar direitos dos brancos. As pessoas oprimidas pelo racismo querem apenas ser tratadas como seres humanos. É muito pedir isso?
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