Cartaz do designer soviético Aleksandr Rodschenko. |
Seguindo a tendência do post anterior, onde respondi se é incoerente ser de esquerda num mundo capitalista, neste post aqui eu pretendo desmistificar a ideia equivocada de que todos os designers têm que ser capitalistas. Essa discussão começou no lá início da minha graduação, onde alguns dos meus colegas associaram, equivocadamente, a atividade de designer exclusivamente ao capitalismo. E alguns comentários aqui neste blog também disseram que eu não posso ser de esquerda por ser um designer, já que, segundo esses comentaristas, a atividade de designer é uma atividade única do sistema capitalista. Ledo engano...
Designers são, por definição, projetistas. E para você desenvolver projetos, ser de direita ou de esquerda é completamente irrelevante. Temos designers tanto em países capitalistas quanto em socialistas. O designer, ao contrário do que os leigos pensam, não é aquele cara que cuida apenas do aspecto aerodinâmico dos carros superesportivos. O designer é um criador, um solucionador de problemas, um estrategista da inovação que atua em variadas áreas. Quando a União Soviética colocou seus foguetes no espaço, por exemplo, lá estavam também designers que usaram a ergonomia para solucionar questões de comodidade e mobilidade. Quando Cuba desenvolveu os selos e caixas para seus charutos, houve também designers que trabalharam questões de semiótica e estética nos logotipos e formas. Isso para ficar apenas em dois exemplos.
O que algumas pessoas não entendem é que o designer não está preso a um modo de produção específico. É verdade que o capitalismo traz inovações mais rapidamente que o socialismo devido à competição, à concorrência e à selvagem do mercado. Porém, o capitalismo não prioriza a eficiência e a durabilidade, mas, sim, o lucro. No socialismo as coisas são feitas para durar; no capitalismo, para vender. Lembro-me que meu pai contava uma história de um brasileiro que morou na URSS e uma das coisas que ele dizia era que os produtos lá duravam muito mais que os daqui. Esse brasileiro que morou na URSS tinha o hábito de mostrar seus sapatos aos brasileiros daqui e perguntar: "Sabe há quantos anos tenho este mesmo sapato? Há quase 40 anos!" Aqui, no mundo capitalista, os sapatos raramente duram mais de uma década sem perder a sola ou sem se deteriorarem. Somente marcas muito caras é que duram bastante no capitalismo. O capitalismo fatura muito mais com modelos mais baratos e de menor durabilidade que, ao serem descartados, contribuem para aumentar o lixo não reciclável no mundo. E uma das preocupações dos designers de hoje do mundo inteiro é justamente a sustentabilidade. Como produzir produtos baratos, duráveis e que não tragam problemas ambientais ao serem descartados?
ZAZ Zaporozhets, famoso automóvel soviético. |
É verdade que os smartphones, carros superesportivos e eletrodomésticos a preços acessíveis são uma das (poucas) coisas bacanas no capitalismo. Mas mesmo esses artefatos raramente são lançados no mercado com toda a sua tecnologia mais recente. Normalmente, as empresas de eletrônicos vendem produtos novos com uma ou duas inovações, quando já poderiam lançar o mesmo produto com quatro ou cinco inovações. Deixam para incluir as outras inovações posteriormente, após vender totalmente a geração anterior. No socialismo, isso não ocorre. O consumismo não é um problema no socialismo.
Já o design gráfico era amplamente difundido nos tais países comunistas, seja através da propaganda governamental ou das identidades visuais de livros, revistas, cartazes e marcas. Inclusive, o design gráfico soviético era bastante vanguardista para os padrões da época. Um dos maiores exemplos de designers na URSS era o artista e fotógrafo Aleksandr Rodschenko, bastante notável por suas criações deveras inovadoras.
Cartazes cubanos |
Portanto, não existe qualquer contradição entre ser designer e ser de esquerda. Ser de esquerda ou de suas mais variadas vertentes (social democracia, socialismo, comunismo, anarquismo, cooperativismo, etc) representa um posicionamento político – e não profissional.
Ligações externas:
Temporal Cerebral - Marcas Soviéticas
Instituto de Engenharia - Dez incríveis carros soviéticos
Tipografos - Aleksandr Rodschenko
Russia Beyond - Marcos do design Soviético
Wellington estou pensando no que trabalhar , design é uma boa profissão ? Sobra tempo livre? Estressa ? Tem que saber outro idioma ?
ResponderExcluirOlá. É uma boa profissão, sim, porque te permite atuar livremente em várias áreas, seja na educação, na área de pesquisa, no entretenimento, na saúde e até na área de exatas. Hoje temos design editorial, web design, design de jogos, design de produto, design gráfico, design de embalagem e até design de alimentos. É uma profissão bacana, nem muito e nem pouco estressante. Saber inglês ajuda, mas não é obrigatório. Dá para se virar bem só com uma língua, mas para projetos internacionais ou para jogos, aí saber outra língua é necessário. Quanto a sobrar tempo livre, isso depende muito da sua carga de trabalho. Quem trabalha como freelancer em casa costuma ter mais tempo, mas também estressa mais. Enfim. é a minha opinião, cada designer tem a sua.
Excluir