Toda essa onda antipornografia que vem tomando as redes sociais de uns tempos para cá não possui mais tanta ligação com seus apoiadores tradicionais como o feminismo abolicionista ou como as religiões abraâmicas. O que mais tenho visto nessas campanhas antipornô são moralistas modernos escondidos por trás de diplomas decorativos e títulos de fachada usando estudos inconclusivos para alegar que a pornografia é a pior praga do momento. Falam que pornografia causa impotência, ejaculação precoce, anedonia, violência sexual, etc. baseando-se em dados quase sempre tendenciosos. A pornografia só é um problema do ponto de vista clínico quando ela se torna um vício ou um problema para a vida de quem se sente dependente dela. Fora isso, não há um único argumento que não seja pelo menos parcialmente moralista. É claro que a pornografia possui outros problemas reais, como a deseducação sexual, a exploração sexual e a tentativa de criar uma dependência dopaminérgica nos usuários. Mas isso não justifica todo o alarmismo feito pelos NoFaps da vida. Quer dizer, na realidade, justifica, sim. Pois o que não faltam são supostos "sexólogos" por aí vendendo cursos e métodos – bem caros, por sinal – para "libertar" os usuários da pornografia. Como eu estou cansado de dizer por aí, pornografia é que nem fast food. Você não precisa achar que tem um problema por comer ocasionalmente alimentos hiperpalatáveis ou hipercalóricos. O problema é comer fast food todo dia e perder o prazer de comer alimentos naturais e saudáveis por conta disso. Com pornô é a mesma coisa. Fora isso é ado-a-ado cada um no seu quadrado. Se você é feliz com seus vídeos, fotos e textos de putari@, quem sou eu para dizer o contrário?
Stoya e Sahsa Grey mostrando o que o povo quer ver. |
Nunca é demais dizer também que a pornografia ainda é muito estigmatizada pelo fato dela ser, de certa forma, a dedo-duro da moral hipócrita da nossa sociedade reprimida e preconceituosa. Não é à toa que os vídeos mais acessados em sites pornográficos são justamente os vídeos com temática gay, trans, lésbica, bissexual, inter racial, ninfomaníacas e ménages a trois. Isso reflete exatamente o nosso padrão de sociedade, onde a poligamia é criminalizada; onde mulheres são reprimidas sexualmente; onde gays, trans e lésbicas sofrem homo/transfobia e onde o sexo inter racial é a categoria mais acessada nas regiões mais racistas dos EUA. Fora que a pornografia apela para fetiches geralmente proibidos e usa personagens irreais como seres mitológicos, aliens e animes. Então a pornografia é, sim, uma válvula de escape. Se você quer combater a pornografia ou tornar a sociedade menos dependente dela, então, primeiro, terá que resolver nossos conflitos sexuais fora da pornografia. E isso passa, queira ou não, pela educação sexual. Essa coisa de criminalizar a pornografia ou de "tratar" seus usuários não funciona sem entender o porquê das pessoas assistirem e pagarem por este tipo de material.
Não gostou?
Então beijinho no ombro pro recalque passar longe. |
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