domingo, 20 de outubro de 2024

A ignorância NÃO é uma benção


Dizem por aí que a ignorância é uma benção, porque o ignorante vive preso na feliz ilusão de uma falsa esperança. Pois bem, eu até sou fã do estilo Hakuna Matata que prega que devemos ignorar os nossos problemas para sermos mais felizes no presente. Contudo, ser ignorante dá as pessoas o risco de ostentar algo muito perigoso que é a ilusão do conhecimento, também conhecido como Efeito Danny Kruger. A ilusão de sabedoria é mais perigosa que a própria ignorância, porque ela faz os indivíduos acreditarem convictamente nas próprias mentiras, fazendo elas chafurdarem no poço sem fundo do sofrimento sem entender o porquê. Assim é o caso do trabalhador assalariado que defende a propriedade privada dos meios de produção. É bizarro e lamentável ao mesmo tempo ver um capitalista sem capital defendendo a própria exploração e batendo no peito para dizer que é de direita. Daí que governos de extrema direita estão sempre indo e voltando ao poder graças a essa ignorância quanto à consciência de classe. 

Mas não é só o trabalhador pobre e a classe média fascistoide que são ignorantes. A própria elite econômica também é. Somente uma classe dominante burra, arrogante e imediatista que não percebe que ao acelerar o processo de exploração capitalista, aumenta com isso as chances de ruptura do tecido social, criando o risco precoce de convulsão social antes do fim inevitável do capitalismo. Se é que ninguém percebeu ainda, só existem três formas naturais do capitalismo terminar: ou em guerra nuclear, ou em apocalipse climático, ou em revolução socialista. E ao aumentar a desigualdade em nome do lucro imediato, as elites tornam o risco de colapsar o sistema ainda mais cedo, causando explosão de violência, desabastecimento e prejuízos às classes dominantes.

Então até para ser ignorante é preciso ter um mínimo de sabedoria.

segunda-feira, 30 de setembro de 2024

O monstro fascista ressurge no Oriente Médio


Existe uma frase não sei de qual autor que diz que "se você age igual ao seu inimigo, você NÃO é diferente dele." Essa frase pode até soar como um provérbio do Capitão Óbvio, mas ela serve para desmascarar a hipocrisia de pessoas que confundem justiça com vingança. Logicamente, estou a me referir mais uma vez a respeito das atitudes belicosas do governo de extrema-direita israelense. Perceba que não estou criticando judeus ou mesmo o Estado de Israel. Não há qualquer antissemitismo ou antissionismo aqui, antes que alguém confunda as coisas. Minha crítica é contra a choldra de genocidas lideradas pelo atual primeiro ministro israelense cujo nome recuso-me a digitar tamanha repugnância que tenho do mesmo. É evidente que os atos terroristas do Hamas são duramente reprováveis, mas a resposta israelense é errada e desproporcional. A prioridade tinha que ser a negociação pelo resgate dos reféns, mas, ao invés disso, algum "gênio" achou que seria melhor bombardear alvos civis, incluindo aí escolas, hospitais e maternidades. Tsc, tsc, tsc... Além de não salvarem os reféns, ainda matam civis inocentes com essa atitude de vingança sanguinária, realimentando ainda mais o ódio palestino por Israel dentro e fora da Faixa de Gaza. 

Mas a catástrofe não parou por aí. Agora foi a vez de Israel atacar o Líbano também com a desculpa debiloide de enfraquecer o Hezbollah. Essa loucura bélica toda só vai servir para aumentar a crise de refugiados, tornando a Europa ainda mais xenófoba. Tanto EUA quanto Europa fingem ser contra a guerra por questões meramente eleitoreiras, mas por baixo dos panos, apoiam Israel logisticamente. Mas até aí tudo ok. Nada que me surpreenda. O que me deixa realmente triste e assustado é ver inúmeros judeus pelo mundo apoiando o genocídio e a guerra contra os muçulmanos como se eles não tivessem qualquer humanidade, como se TODOS fossem terroristas. Como um povo massacrado e ferido pelo holocausto pode apoiar uma coisa tão aterrorizante e desprezível como o genocídio de muçulmanos civis inocentes? É por isso que Lula não estava errado quando comparou certos israelenses com o Führer. Seriam eles os nazijudeus?

segunda-feira, 2 de setembro de 2024

Estamos vivendo a era dos vícios


Desde 1960 para cá que cada década correspondeu a um período triunfal de algum entretenimento da cultura humana. A década de 1960, por exemplo, foi a década de ouro do rádio. Os anos 1970 foram os anos de ouro da música. Já os anos 1980 corresponderam à década de ouro do cinema. 1990 foi a década de ouro da televisão. A década de 2000, por sua vez, foi a década de ouro dos games. E a década de 2010 foi a década de ouro da internet. Quanto à década atual, de 2020, pelo andar da carruagem, está sendo a década de ouro das apostas online. Ou sendo mais específico: a década de ouro dos jogos de azar via smartphones. Só que diferentemente das outras formas de entretenimento, as apostas são um tipo de entretenimento que é quase um golpe, porque elas não entregam de fato o que prometem, porque tudo depende de uma sorte que estatisticamente está voltada contra você. É preciso deixar claro que essas empresas de apostas (as tais bets), como qualquer grande porcaria do capitalismo, não existem para fazer seus clientes felizes. Elas existem simplesmente para lucrar na base do vício que esse tipo de jogo gera. Para piorar, as pessoas mais afetadas são justamente as que têm menor renda. Pessoas essas que chegam ao ponto de se endividarem só para manter o vício. E como se isso não fosse o suficiente, ainda temos outros vícios "legais" que têm afetado especialmente os mais jovens que vão desde as redes sociais até o perigoso cigarro eletrônico.

Estamos vivendo a década dos vícios porque usamos esses vícios como escapismo para nossas angústias, dores e frustrações com nossas vidas. Mas a solução para nossas inquietações existenciais não está nos vícios, nem na música, nem nos games, nem nos filmes e em nenhuma forma de entretenimento. A solução para isso, individualmente falando, está em buscar uma vida saudável, em parar de se comparar com os outros, em parar de procurar soluções fáceis para problemas complexos. Se estamos com angústia, depressão ou sofrimento, precisamos buscar ajuda profissional. Seja psicológica ou psiquiátrica. Os profissionais dessas áreas são os anjos da guarda que nos darão as ferramentas necessárias para vencer as nossas crises existenciais sem recorrer a mentiras ou prazeres momentâneos que não nos darão nada além de mais sofrimento. Já a solução a nível político está na regulamentação. Não podemos deixar que da década de 2020 para frente tenhamos décadas e mais décadas de vícios disfarçados de entretenimento.

segunda-feira, 19 de agosto de 2024

O fim de uma era da TV brasileira


Acho engraçado quando as pessoas me perguntam o que eu achei da morte do Silvio Santos no último sábado, 17 de agosto. Eu não tenho o que achar nada da morte de ninguém, porque a morte faz parte da vida. É o fim inevitável de todos. O melhor que eu posso fazer sobre a morte é deixar minhas condolências à família e aos amigos do ex-apresentador. O que eu posso opinar a respeito de alguém é apenas sobre sua trajetória de vida. Ou melhor: sobre suas atitudes em vida. 

Quando falamos de Silvio Santos, porém, é preciso diferenciar a figura pública Silvio Santos do empresário, banqueiro e bilionário Senor Abravanel. Silvio Santos era carismático, visionário, divertido, querido, empático: praticamente um membro da família de milhões de brasileiros por ter passado décadas à frente dos programas de auditório dos domingos. Já o empresário Senor Abravanel era um burguês que estava atrás de mais e mais acúmulo de capital que se multiplicou graças à venda de ilusões com o Baú da Felicidade e da Tele Sena. Algo absolutamente normal e esperado dentro do capitalismo. Ainda mais se tratando de alguém que teve uma origem humilde, o que torna sua trajetória de vida ainda mais emblemática para um sistema que possui pouca mobilidade social como o capitalismo financeiro. 

O problema de glorificar a origem simples do Silvio é que muitos são tentados a achar que basta vender muitas bugigangas como autônomo que ficará milionário. Óbvio que as coisas não são assim na prática para 99,9% dos casos. Silvio Santos foi uma exceção total à regra que teve uma sorte descomunal e contatos certos no momento certo de sua vida – além de ter bastante talento. É mais fácil um pobre acertar na Mega Sena do que enriquecer como vendedor ambulante. Mas os capitalistas adoram transformar essa exceção em regra, como se todo camelô fosse se tornar um Jorge Paulo Lemann. 

Tirando esse fator estatístico, o grande problema do Senor Abravanel foi que ele teve a sua emissora, o SBT, como um grande veículo de propaganda dos governos de extrema-direita, seja durante a ditadura civil-militar, seja durante o governo Bolsonaro. Claro que o SBT não podia se opor ao regime militar para não ser fechado como ocorreu com a TV Excelsior, mas a bajulação ao governo era tão descarada que chegava a beirar o ridículo. Além disso, ao flertar com o conservadorismo crescente do final da década passada, Silvio Santos foi se tornando cada vez mais machista e sem noção, como naquelas abordagens de duplo sentido às crianças nos programas de tevê. Mas enfim, há quem defenda tais coisas alegando que era sinal de senilidade. 

Para mim, Silvio Santos, assim como Pelé, não era nem bom e nem mau. Era um ser humano com suas qualidades e defeitos como todos nós e que teve mais acertos que erros em sua vida. Eu gostava muito do programa Silvio Santos quando era criança e da programação infantil do SBT. Mas desde adolescente que perdi o interesse na tevê aberta como um todo e de lá para cá, não acompanhei mais nada além da Casa dos Artistas e do Show do Milhão. E sendo bem honesto, acho que a morte do Silvio Santos marca o fim de uma era na televisão brasileira. O tempo de ouro da TV como conhecemos acabou e ela precisa se reinventar para que possa sobreviver contra a concorrência dos serviços de streaming. Do contrário, a televisão irá se unir ao rádio no museu dos meios de comunicação.

quarta-feira, 31 de julho de 2024

Capitalismo não rima com democracia


Todo mundo já devia saber que capitalismo e democracia não podem coexistir numa mesma frase sem causar um paradoxo. O que existe no capitalismo é uma pseudo democracia semi-representativa que é forçada a atender aos interesses das classes dominantes. A eleição norte-americana, por exemplo, é uma farsa burguesa onde um partido de direita liberal concorre contra partido de direita conservadora. Tanto democratas quanto republicanos vivem de política externa predatória onde guerras, roubos, crises e desigualdades são necessários para manter os EUA como nação mais rica e poderosa do mundo. Mas ninguém se atreve a criticar a eleição americana. A nossa imprensa burguesa só ataca as eleições da China, Rússia, Cuba e Venezuela porque são países que representam uma pedra no caminho do imperialismo estadunidense. Honestamente, não me interessa se as eleições da Venezuela são legítimas ou não. Isso não é problema nosso. O Brasil tem o dever de respeitar as eleições da Venezuela assim como respeita a dos EUA e demais países da panelinha capitalista do G7. 

A narrativa da mídia corporativa – alinhada com os interesses americanos – quer mostrar que Maduro é um "ditador sanguinário" que realizou eleições ilegais com a óbvia intenção de desacreditá-lo para, naturalmente, facilitar sua deposição e entregar o petróleo Venezuelano numa bandeja para as "Sete Irmãs" via políticas neoliberais. Ora, se a Venezuela é uma ditadura, os EUA são uma muito pior onde a classe trabalhadora não tem nenhum representante federal para brigar com a direita. Escolher entre Kamala Harris ou Donald Trump é meio como escolher com qual vaselina o povo vai ser enrabado, ou, numa linguagem mais douta: escolher entre o Alien ou o Predador no filme Alien Versus Predator. Não importa quem vença: todos nós seremos devorados no final.

Democracia só é possível quando o poder real estiver nas mãos na classe trabalhadora. O resto é conversa pra boi dormir.