quarta-feira, 24 de fevereiro de 2021

Grupos antivacina são terroristas por excelência


O Brasil atingiu hoje a aterrorizante marca de 250 mil mortos pela Covid-19. Foram 250 mil conhecidos, colegas, amigos, entes queridos e pessoas públicas que nos deixaram para sempre. São 250 mil famílias chorando por pessoas que poderiam ainda estar vivas se não fosse pelo vírus. E o mais assustador é saber que se as coisas continuarem como estão, em, no máximo, quatro meses chegaremos ao dobro de vidas perdidas. Nos próximos meses, qualquer um de nós poderá ser uma dessas vítimas fatais. 

O vírus está se espalhando mais rápido, porque há variantes mais contagiosas dele circulando, os municípios estão relutando em fazer lockdown, as pessoas estão deixando de fazer isolamento social, o auxílio emergencial acabou, as vacinas estão sendo distribuídas de forma lenta demais, os hospitais estão lotados e temo, com tudo isso, que o colapso funerário seja inevitável. Mas o que me deixa mais perplexo e indignado nisso tudo é que, apesar desse cenário apocalíptico, os grupos antivacina continuam a fazer terrorismo pela internet.

Ora, se a vacina causa tantos males e efeitos colaterais ruins, como alegam as fake news, então por que os países ricos estão minando o sistema equitativo de distribuição de vacinas pelo mundo? Se as vacinas fossem ineficazes ou fizessem qualquer mal, seria o contrário: os países pobres é que serviriam de cobaias. Isso sem falar das toneladas e mais toneladas de mentiras sobre as vacinas pipocando nas redes sociais e whatsapps da vida, com gente chegando a alegar o absurdo de que ela teria um "chip" de controle mental e outras loucuras do gênero. E, infelizmente, há quem acredite nessa desinformação toda.

Estamos numa guerra contra um inimigo invisível. É toda a humanidade contra um vírus. E nossas únicas armas são o isolamento social e as vacinas. Qualquer um que seja contra um ou outro é um terrorista que está lutando contra si mesmo e contra toda a sua espécie nessa guerra onde tivemos 2,5 milhões de baixas para o nosso lado. Não é hora de brincar, é hora de lutar.

sábado, 20 de fevereiro de 2021

E se o Golpe de 1964 não tivesse ocorrido?


Já se perguntou como seria o Brasil hoje se o Golpe de 1964 não tivesse ocorrido? O Brasil teria virado uma nova Cuba? Seríamos um país comunista? Teríamos uma ditadura sanguinária? Não, não e não. Se João Goulart tivesse realizado as reformas de base que pretendia, hoje teríamos um país CAPITALISTA menos desigual. Teríamos passado por reformas como a agrária, urbana, fiscal, eleitoral, educacional, bancária e política. Todas essas reformas já foram feitas em países de primeiro mundo, inclusive nos EUA – mas aqui no Brasil foram pintadas como "coisas de comunista". A ditadura militar foi algo tão nocivo para o país que, só para se ter uma ideia, separou os diversos centros nos campus das universidades para evitar a integração do conhecimento e retirou da grade curricular disciplinas como filosofia, sociologia, teoria política e antropologia, as substituindo por educação moral e cívica.

Se a ditadura não tivesse acontecido, talvez as canções de Chico Buarque não fossem tão conhecidas, mas certamente teríamos aberto espaço para outros artistas fantásticos. Milhares de vidas teriam sido poupadas, torturas não teriam ocorrido, a censura não teria existido e hoje poderíamos ter um país muito mais desenvolvido. Sem falar que aberrações fascistas como Jair Bolsonaro não existiriam ou sequer chegariam perto de se tornar parlamentares. E, obviamente, os militares seriam mais respeitados e saberiam o lugar deles dentro de uma democracia.

Panair: empresa aérea destruída pela ditadura

Se a ditadura não tivesse ocorrido, empresários democratas como Mário Wallace Simonsen não teriam sido perseguidos e difamados pelo regime militar. Para se ter uma ideia da coragem deste empresário, Simonsen chegou a usar sua influência e sua rede de televisão, a TV Excelsior, para criticar a ditadura e defender o restabelecimento da Democracia. Mas ao invés de uma imprensa democrática, o que tivemos foram emissoras de televisão parceiras da ditadura, como foi o caso da Rede Globo – fato este muito bem abordado no documentário britânico "Muito Além do Cidadão Kane" (Beyond Citizen Kane).

Ainda sobre Simonsen, a Panair do Brasil, uma de suas empresas, tornar-se-ia a maior empresa aeronáutica da América Latina e seu conglomerado controlava a Celma, na época a maior e mais importante empresa de manutenção e retífica de motores e turbinas aeronáuticas do Hemisfério Sul. Daí que perdemos tanto um grande empresário quanto uma grande empresa para a ditadura. A seguir, deixo uma reportagem da Rede Record sobre o tema:


Por fim, vou deixar um trecho da entrevista com o professor de História Warde Marx para o Guia dos Curiosos onde ele responde bem a essa questão:

"Entrevistador - O principal argumento usado pelos militares que executaram o golpe era o de que João Goulart implantaria o comunismo. Jango realmente teria organizado um golpe comunista? Se ele não tivesse feito, algum movimento de esquerda teria conseguido?
"Marx - Quem? João Goulart? O latifundiário? De jeito nenhum. Nem teríamos uma esquerda com tanto poder para isso. Se desenvolvêssemos suficientemente nossa democracia, poderíamos ter no governo um comunista ou socialista, tal como acontece na França, na Espanha. O máximo que alcançaríamos, com o passar do tempo, seria um governo mais à esquerda, com ambições socializantes; mais ou menos o que aconteceu nos Chile de Allende. Para implantar mesmo o comunismo, teríamos que partir para uma revolução. De verdade. Muito sangue, sem garantia de resultados, para nenhuma das partes."

Enfim, ditadura NUNCA MAIS.

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2021

A necropolítica bolsonarista


Jair Bolsonaro não assumiu a presidência apenas para agradar aos plutocratas, generais, latifundiários, banqueiros, milicianos e alta burguesia em geral. Bolsonaro assumiu a presidência para adotar uma política de terra arrasada e para causar um genocídio contra a população brasileira. Primeiro, vimos o descaso diante da pandemia do coronavírus que foi desde o discurso negacionista indo até a incompetência total na compra e distribuição das vacinas. Agora, para piorar, veio a flexibilização do acesso às armas de fogo. E a equação das armas é simples: quanto mais armas, mais mortes. A criatura vil que preside a república não tem nenhum compromisso com a democracia, com o nosso povo ou com a vida. É um psicopata neofascista que sente prazer em adotar uma política de extermínio contra a própria população. Daí eu me questiono: foi para ISSO que tiraram o PT do governo e digitaram 17 nas urnas? Francamente, que horror.

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2021

Uma ditadura sem ditadura (ou não)


O Golpe parlamentar sofrido por Dilma Rousseff em 2016 abriu as portas para todo tipo de violação da normalidade institucional. Aproveitando essa onda golpista, os militares então pegaram carona no bolsonarismo como forma de retornar ao poder. E aqui estão eles novamente dando as cartas dentro da institucionalidade burguesa. Só que dessa vez a estratégia é um pouco diferente de outrora. Estamos vivendo numa espécie de ditadura sem ditadura, ou uma "ditabranda", se preferir. Saíram de cena os tanques e a força bruta em tomadas violentas do poder e agora subiram no palco os tuítes ameaçadores e as fake news. Tudo agora é feito de maneira sorrateira, disfarçada – com aparência de normalidade democrática – de forma que nem parece que estamos em um estado de exceção.

Essa nossa atual "ditabranda" seria, segundo alguns palpiteiros, uma forma apaziguadora das FFAA se "redimirem" da ditadura militar (1964-1985), tentando fazer, desta vez, um governo militar menos autoritário, sem prisões políticas, sem desaparecidos, sem mortes, sem tortura, sem censura, sem bombas e com crescimento econômico. Porém, se esse realmente era o plano dos milicos, então ele está dando totalmente errado. As mais de 240 mil mortes pelo coronavírus já são um genocídio por si só, porque são fruto de negacionismo e incompetência do atual governo. E o crescimento econômico... Putz. Isso, claramente, é uma piada. Basta olhar para o PIB, para a renda per capita e para o Coeficiente de Gini desde que os militares entraram no poder, em 2018, até hoje que você verá que estamos longe disso. Essa hipótese de apagar o "passado sombrio" com um governo "bonzinho" é uma mera desculpa esfarrapada. Até porque é impossível apagar da memória – e da história – o que ocorreu nos anos de chumbo. O que os generais queriam mesmo era arrumar uma desculpa para voltar ao poder.


Enfim, o fato é que estamos atravessando um momento de anomalia institucional. Mas como há essa aparência de que está "tudo normal", as pessoas acham que nada de incomum está acontecendo. É preciso avisar para essa gente que ditadura não se faz só com tanques na rua e que as estratégias de controle do poder evoluem com o decorrer do tempo. A coisa evoluiu tanto que esses "golpes brancos" passam totalmente despercebidos para o desavisados e para as pessoas comuns. Ditaduras brandas são muito mais sofisticadas porque são mais difíceis de se reconhecer e de se lutar contra. Isso porque continuamos a votar, continuamos a nos expressar livremente, continuamos tendo o direito de ir e vir, o congresso segue funcionando normalmente com suas maracutaias... Além disso, qualquer um que tentar combater uma ditabranda com uma postura mais contundente será imediatamente rechaçado pela população e até por seus correligionários, afinal é estupidez usar violência explícita para combater a violência implícita. E assim a banda segue tocando. Tocando "coisas de amor", claro, porque coisas de ódio é uma estratégia démodé do século passado.

É bom que se diga que toda essa retórica da "ditadura disfarçada" serve, lá no fundo, para garantir os interesses da burguesia em um momento de crise do capitalismo financeiro. A esquerda não pode voltar ao poder, mas também não fica bem para a imagem do país um golpe militar tradicional (a famosa "sargentada"). Então a saída encontrada para manter o projeto de dominação das elites é esse meio-termo entre o autoritarismo e a democracia burguesa. Bom, pelo menos essa é a minha interpretação.

O problema dessa história toda é que nunca se sabe como será o dia de amanhã. Essa nossa ditabranda pode, a qualquer momento, virar uma ditadura pra valer. Ninguém pode garantir que os generais continuarão a ser bonzinhos dessa vez só porque estamos no século XXI. Basta lembrar que a ditadura militar só começou pra valer mesmo em 1968 com o AI-5, quatro anos depois da deflagração do golpe. Numa eventual derrota de Bolsonaro em 2022, pode ser que as coisas se encaminhem para um regime mais autoritário. Afinal de contas, o próprio Bolsonaro prometeu um Golpe de Estado tradicional caso perca as eleições. E eu não pagaria para ver o que viria depois.

terça-feira, 16 de fevereiro de 2021

Chegou a hora de acordar


Você nasce, cresce, passa 20 anos decorando conteúdo na escola, passa 2/3 da vida trabalhando duro, ganha um salário menor do que o merecido, paga pilhas de boletos, compra centenas porcarias inúteis, come quilos e quilos porcarias inúteis, não tem tempo para ficar com a família, passa o resto da vida tomando remédios caros, envelhece sem saúde e morre tendo vivido uma vida medíocre e sem significado. E você sabe muito bem de quem é a culpa por tudo isso. E não, não é sua culpa. É culpa do sistema que nos torna uma mera peça de engrenagem que faz a fortuna dos mais ricos aumentar cada dia mais. 

Somos humanos, mas vivemos como máquinas – como escravos – nos apegando a prazeres efêmeros como fuga dessa realidade opressora. É preciso quebrar esse ciclo e sair dessa prisão. Não seja mais um escravo. Não se conforme em sobreviver ao invés de viver. Quebre os grilhões que te mantém um zumbi do sistema. Acorde para a realidade de que é possível fazer um mundo melhor para você e para todos. Tenha coragem de pensar fora da caixa e de sair da zona de conforto. Chega de sofrimento e de lamúrias, porque chegou a hora de abrir os olhos e despertar para a luta.

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2021

O que pode salvar a imagem das FFAA?


Analisando friamente os fatos, a sensação que eu tenho é que as Forças Armadas brasileiras não possuem qualquer salvação. Não bastasse serem mal treinadas, mal instruídas, mal remuneradas e mal equipadas, as FFAA têm agora sua imagem associada ao caos e ao genocídio por omissão causados pelo descaso do governo Bolsonaro durante a pandemia do coronavírus. Mas a tragédia não para por aí. O negacionismo da ditadura militar, a perda do senso do ridículo, a corrupção com banquetes superfaturados, a formação fascistoide nas academias militares, o desrespeito com a própria história e o serviço de "tropas coloniais" a favor dos interesses estrangeiros mostram que as FFAA além de serem inúteis do ponto de vista de defesa, não possuem a menor consideração com os interesses do próprio povo. E para coroar com a cereja do bolo, o General Villas Boas admitiu o crescimento do apoio a Jair Bolsonaro nos quartéis desde 2018: fato este que culminou no tuíte golpista em abril de 2018 onde ameaçou o STF caso Lula não fosse preso. Enfim, são as piores Forças Armadas do mundo. E nem tão cedo esses milicos irão sair do poder.

A única coisa que pode salvar a imagem das FFAA é uma atitude que jamais irá ocorrer: uma retratação pública por todo mal que elas fizeram ao país e ao povo brasileiro ao longo da história e, claro, a sua retirada total do poder. Mas como isso é praticamente impossível, então teremos que sentir para sempre vergonha e nojo de uma instituição que sempre agiu na defesa dos próprios interesses.

domingo, 14 de fevereiro de 2021

O capitalismo desperta o que há de pior em nós


A classe média tem um caso de amor e ódio com os pobres. Isso porque a classe média precisa dos pobres para basicamente duas coisas. A primeira coisa é para mostrar que ela é "superior" aos pobres. Se você tem uma quitinete de 10m² alugada, um carro popular parcelado em 600 vezes e um PolyStation usado, então você já se considera superior aos pobres que moram num barraco de papelão e mal conseguem se alimentar com a renda que têm. A segunda razão pela qual a classe média precisa dos pobres é para mostrar uma pseudo empatia e uma bondade de fachada ao fazer atos de caridade ocasionais pelos mesmos na tentativa de "subornar" Deus com sua falsa preocupação com os mais humildes. Por outro lado, a classe média sente ódio dos pobres porque eles são a prova de que o capitalismo deu errado. Ora, se o capitalismo "deu certo" e é o sistema "menos mau" que existe, então como explicar que nesse mesmo capitalismo tenhamos tantos pobres, tantas crianças passando fome, tanta miséria, tantos moradores de rua? E nem adianta culpar as pessoas por suas próprias pobrezas, porque ninguém passa fome porque quer. 


O grande problema do capitalismo ao combater a desigualdade é que ele se foca em eliminar o pobre ao invés de eliminar a pobreza. A classe média sabe disso e, mesmo assim, age como carrasca dos reais donos do poder que olham para a classe média com o mesmo desdém e nojo que ela olha para os pobres.

Só que a desgraça não para por aí. As contradições do capitalismo são muitas. O racismo, o machismo e a homofobia também são agravados pelo sistema de hierarquização social presente no capitalismo. O homem branco hétero de classe média decadente encontra no racismo uma forma de se sentir superior ao negro, no machismo uma forma de se sentir superior à mulher e na homofobia uma forma de se sentir superior ao homossexual. O capitalismo desperta o que há de pior em nós, porque ele nos estimula a sermos excludentes, individualistas, egoístas, avarentos e soberbos. Somente sistemas que combatem essa estrutura de hierarquização social, como o anarquismo e o comunismo, é que podem nos dar uma esperança de acabar com todos esses preconceitos inúteis. 

Porém, o grande obstáculo para mudança não são nem os verdadeiros vilões (plutocracia e Estado burguês, no caso) que exploram, roubam e ainda alienam a classe média, nos colocando uns contra os outros. O grande empecilho para a mudança é a própria classe média reacionária que prefere pegar em armas para defender seus pequenos privilégios a ter que aceitar que só se muda o mundo para melhor quando ele for, de fato, melhor para TODOS, especialmente para os mais pobres. Aliás, pobres nem deviam existir, ou melhor: classes sociais não deviam existir. Mas haja consciência de classe e politização para a classe média entender isso...

sábado, 13 de fevereiro de 2021

Um carnaval sem carnaval


Eu sou um cara estranho. Não gosto de bebida alcoólica, não gosto de multidão, não gosto de dançar, não gosto de barulho, não gosto de calor e, por consequência, também detesto carnaval. Mas ao contrário de muitos haters de carnaval por aí, nunca fui contra o carnaval, porque reconheço a sua importância cultural, social e histórica. Inclusive, lamento pelo seu cancelamento em várias regiões do país por conta da pandemia do coronavírus; cancelamento esse que, diga-se de passagem, foi uma necessidade imprescindível para se poupar vidas. Aliás, será a primeira vez em muito tempo que teremos uma época de carnaval sem nenhum carnaval no Brasil. Isso na teoria, porque apesar das proibições de aglomerações, as pessoas não parecem estar dando muita bola para o isolamento. Praias lotadas, festinhas em estabelecimentos e eventos ilegais cheios de pessoas sem máscara só mostram que boa parte da população não está dando a mínima para os mais de 237 mil mortos pela Covid-19. É lamentável. 

No meu caso, vou passar o carnaval inteiro fazendo exatamente o mesmo que faço todos os anos nessa época: mofando dentro de casa. Ouço música, como alimentos enlatados, faço exercícios físicos e mexo no computador mais ou menos como o personagem Desmond da série Lost fazia dentro do bunker no início da segunda temporada. Aliás, a cena da escotilha do seriado é tão marcante que vou deixá-la abaixo para servir de inspiração para quem sabiamente decidir aderir ao isolamento. #BoraVirarDesmond


quinta-feira, 11 de fevereiro de 2021

O neoliberalismo é a ciência da destruição de uma nação


Qualquer cidadão que conheça o básico sobre política econômica sabe que o neoliberalismo é a receita perfeita para o subdesenvolvimento de uma nação. Todos os economistas sérios afirmam isso há décadas, mas parece que no Brasil há um complô envolvendo as elites locais que obrigam os governos a seguirem o Consenso de Washington como se fosse uma espécie de doutrina sagrada para a plenitude econômica. Toda essa glamourização midiática em torno de ideias envolvendo o Estado mínimo, o corte de investimentos sociais e o foco no empreendedorismo são a prova de que o Brasil virou um cassino dos magnatas do sistema financeiro. Isso só mostra a necessidade urgente de politizar a população e de desmentir toda essa mitologia neoliberal que nunca deu certo em lugar nenhum do mundo. Ou melhor, deu certo, sim, mas para uma minoria bilionária que vive de parasitar a única classe que gera a riqueza de um país que é a classe trabalhadora. 

Quando falamos de luta contra o neoliberalismo, é preciso entender, antes de tudo, que ela não se trata de uma briga entre direita e esquerda. O neoliberalismo é inimigo de 99% da população, independentemente de posicionamento político. Porém, a doutrina neoliberal baseada na Escola de Chicago se assenta tradicionalmente na centro-direita política que ora se apresenta como "social-liberal", ora se apresenta como "centro". Isso ocorre porque essa centro-direita possui um alinhamento ideológico natural com a elite financeira. Já a direita nacionalista – que virou uma raridade quase folclórica no Brasil – se opõe a essa praga neoliberal desde os tempos de Getúlio Vargas. O último grande nome da direita nacionalista, Dr. Eneas Carneiro, sempre enfatizou a importância de combater a loucura neoliberal. A esquerda, por sua vez, se mantém praticamente inteira contra o neoliberalismo, porque ela não costuma ter o mesmo projeto de desenvolvimento da nossa elite do atraso. Aliás, essa é uma das razões pela qual a imprensa burguesa bate tanto na esquerda, porque essa imprensa age de maneira totalmente vassala ao sistema financeiro. Isso se observa também num apoio midiático quase descarado aos partidos de centro-direita (como DEM e PSDB, por exemplo) e numa defenestração criminosa contra partidos de centro-esquerda (como PT e PC do B, por exemplo).

Enfim, o propósito desta postagem é mostrar que para um país se desenvolver, ele precisa primeiro se livrar de qualquer pensamento que favoreça a concentração de renda nas mãos de uma minoria. A riqueza de uma nação NÃO se constrói de cima para baixo, mas sim de baixo para cima. Temos que pensar mais no coletivo e menos no individual para valorizar a base que sustenta a sociedade: os trabalhadores. Independentemente de você SER um patrão, de você TER um patrão, de você ser O SEU PRÓPRIO patrão ou de estar desempregado, as políticas de transferência de renda afetam a TODOS NÓS. Esqueça esse conto de fadas do empreendedorismo fácil, do Estado mínimo, da panaceia entreguista e de que imposto é roubo. A solução para um país crescer passa pelo pleno emprego, pela educação libertadora, pela consciência de classe, pela redistribuição justa de renda e pela valorização do trabalho. 

Para terminar, segue adiante um ilustre representante da direita conservadora falando a verdade sobre a podridão neoliberal:



terça-feira, 9 de fevereiro de 2021

A Lava Jato já foi tarde


O maior escândalo judicial da história brasileira chegou ao fim de maneira melancólica e desmoralizante. A Operação Lava Jato terminou com todos os podres dos seus bastidores sendo expostos para o mundo inteiro saber do que ela realmente se tratava. Tudo que a Vaza Jato já havia mostrado via The Intercept agora foi confirmado (e com muito mais detalhes) nas conversas liberadas pelo ministro do STF, Ricardo Lewandowski, que deu ao ex-presidente Lula acesso a todo o material envolvendo as conversas escusas da turma da "República de Curitiba". Lula, para quem se esqueceu, foi preso sem provas com base em acusações levianas feitas em um Power Point tosco de um cara que só ofereceu "convicções". Eu não cheguei a ler todas as conversas divulgadas, mas o que li me deixou tão indignado que me fez concluir que a única saída que deveria restar para Moro, Dallagnol e outros membros da força-tarefa seria a cadeia. Lá no fundo, eu já sabia de tudo isso desde quando acompanhava os eventos em tempo real na década passada. Toda aquela movimentação suspeita de Moro e Dallagnol envolvendo a condução coercitiva, o grampo ilegal de Dilma Rousseff, o Power Point, as prisões arbitrárias, as delações premiadas seletivas, a sincronia das ações com a imprensa golpista, o tuíte ameaçador do general Villas Boas e o alinhamento das condenações com o TRF-4 falavam por si só. Os personagens principais da Lava Jato só queriam ter mais e mais poder e em troca aceitaram obedecer o velho plano imperialista do Departamento de Estado Norte-americano com suas políticas de destruição de soberanias pela América Latina.

Enfim, a Lava Jato foi apenas mais um tentáculo do imperialismo para destruir as empresas de engenharia brasileiras, para prender o maior líder político da América do Sul e para que políticas neoliberais – incluindo aí o roubo do nosso Pré-Sal – fossem colocadas em prática na marra. Fora que a verdadeira corrupção nunca foi combatida pela Lava Jato. Os lucros obscenos, os juros exorbitantes e a especulação é que são a verdadeira corrupção, mas quem é que vai "melindrar" esses corruptos, né?

Tomara que o escândalo judicial da Lava Jato sirva de lição para que nunca mais esse tipo de operação criminosa ocorra outra vez no país. Se é para combater a corrupção de verdade, é necessário ser justo, imparcial e respeitar a soberania nacional: o extremo oposto do que foi a Operação Lava Jato.

domingo, 7 de fevereiro de 2021

O fim da Globo


O Grupo Globo, que abrange o megaconglomerado de mídia comandado pela família Marinho, está indo de mal a pior. Tanto o jornal digital/impresso, quanto a rádio, quanto os canais de tevê estão numa situação bastante difícil de uns tempos para cá. Mas o tentáculo mais comprometido do conglomerado é, sem dúvida, o da Rede Globo, porque é ela que está atravessando o pior momento de sua história. E olhe que eu não estou nem me referindo ao fato da emissora estar sempre sendo atacada por Bolsonaro e sua milícia digital. O que está ameaçando destruir o império da Vênus Platinada é o surgimento de outros impérios encabeçados pelas redes sociais e serviços de streaming. Afinal de contas, quem é que vai preferir hoje em dia assistir uma programação chata, antiquada e limitada ao invés de maratonar suas séries favoritas na Netflix?


Não sei se o caro leitor já sabe, mas o apresentador Fausto Silva não renovará seu contrato com a emissora – contrato esse que terminará no final deste ano. Isso porque artistas como o Faustão custam muito caro para serem mantidos em programas que têm perdido cada dia mais audiência. E isso é só a ponta do iceberg, porque a emissora da família Marinho tem perdido vários bons jornalistas, vários bons atores e até mesmo perdido o direito de transmitir alguns jogos das eliminatórias da Copa do Mundo – fora a Libertadores da América que sequer foi transmitida. Com o agravamento da pandemia do coronavírus então foi que as coisas pioraram para valer, porque o Projac tem andando muito parado desde o início do isolamento social. Aí então você junta as perdas financeiras da emissora, as perda no futebol, a não transmissão de novas novelas, a perda de jornalistas, apresentadores e atores junto com a concorrência com serviços de streaming que isso tudo vai virando uma bola de neve contra a Globo.


É claro que eu acho bem feito tudo isso, porque a Globo, como Brizola cansou de dizer, é inimiga do Brasil. Um grupo de imprensa que fazia (e faz) política pró-imperialismo, que esteve envolvido em escândalos de propina, em escândalos de delação premiada, no escândalo da Lava Jato, no escândalo da Mossack Fonseca, em condutas anticompetitivas, na corrupção do futebol, que apoiou o Golpe de 2016, que fez parte do complô de perseguição ao ex-presidente Lula e que foi fundada durante a ditadura civil-militar para apoiá-la merece isso tudo como castigo. Não que com o fim da Globo tenhamos um Brasil melhor, porque as redes sociais e as fake news estão aí para mostrar que as coisas sempre podem piorar. Mas que será uma satisfação intraduzível ver a Globo falir, ah, isso será.

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2021

O roteiro do golpe e seu inevitável fracasso


Que fique bem clara uma coisa: o objetivo do Golpe de 2016 NÃO foi o de tirar a ex-presidenta Dilma Rousseff por suas "pedaladas fiscais". Isso foi só uma desculpa esfarrapada, um engodo, para dar um verniz de legitimidade a uma grande farsa. O verdadeiro objetivo do Golpe de 2016 foi o de abrir as portas para uma agenda ultraliberal que o PT jamais aceitaria pôr em prática por seu respeito ao povo, aos trabalhadores e a sua história de lutas sindicais. O que ocorreria da deposição de Dilma Rousseff em diante seria a aplicação de uma agenda antidesenvolvimentista favorável às reformas neoliberais que aprofundariam a recessão e o desemprego. E o roteiro dessa barbaridade neoliberal seguia mais ou menos o seguinte:

  • Teto de gastos (PEC da Morte)
  • Reforma trabalhista
  • Reforma da previdência
  • Reforma tributária
  • Reforma administrativa
  • Terceirização irrestrita
  • Arrocho salarial
  • Privatizações

A nossa sorte foi que no meio do caminho tinha uma pedra, ou melhor, uma pandemia. Não sei se a palavra "sorte" seria apropriada para ser usada neste caso devido aos mais de 228 mil brasileiros mortos pela Covid. Mas como nada na vida é 100% bom ou 100% ruim, eu me apego aqui ao "lado bom" dessa tragédia. Foi a pandemia que obrigou o governo a furar o teto de gastos e a oferecer o auxílio emergencial. Essa conversa mole de que sem o teto de gastos o país quebraria ou de que não havia dinheiro é, obviamente, uma mentira ridícula para manter o ganhos do capital especulativo. A moral da história é que a pandemia do coronavírus serviu para mostrar duas coisas. A primeira é que o neoliberalismo não funciona. E a segunda é que o governo, ou melhor: os golpistas mentiram ao alegar que não havia outra saída para a crise.

O objetivo do Golpe sempre foi de ferrar com os trabalhadores e os mais pobres. Mesmo a classe média, tão raivosa contra o PT e a esquerda, acabou sofrendo com perda de renda, desemprego e aderência a subempregos. Uma classe média que antes tinha medo de perder seus privilégios devido à ascensão dos mais pobres, agora tem que amargar o risco de virar "pobre de verdade" com uma renda baixíssima como entregadora de alimentos ou motorista de aplicativos. Afinal, será que foi para isso que a classe média gastou tanto em faculdades, cursinhos e nos seus gritos ensandecidos de "fora PT"? 


Já passou da hora de despertar para a realidade. Essa ilusão liberal de ser um empreendedor de sucesso foi um conto do vigário criado pelas classes dominantes para que elas pudessem parasitar ainda mais a nós e o Estado. Se você está entre os 0,5% mais ricos que não precisa trabalhar para sobreviver por viver de renda, herança e especulação, esqueça tudo que eu escrevi e vá lá idolatrar o Paulo Guedes. Mas se você faz parte do 99,5% que precisa vender sua força de trabalho para pagar suas contas, entenda que essa é a hora de começar a apoiar políticas de valorização do trabalho, de desenvolvimento estratégico, de investimento público e de autonomia do Estado em relação ao capital especulativo.

Para ajudar a abrir a mente, vou deixar indicado esse post onde dois economistas, um de direita e outro de esquerda, fazem uma deslavagem cerebral em poucos minutos.

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2021

Alienação musical

Pegue as músicas mais tocadas nas rádios das últimas décadas para cá no país e você sempre verá entre elas uma abundância de letras ruins, medíocres, rasas e falando sobre futilidades que não acrescentam em nada ao público nem em conhecimento e nem em reflexões sobre a vida. São milhares de canções-chiclete, com refrões pegajosos, com rimas toscas e temas apelativos em todos os estilos. Parece que todas as músicas das top lists precisam seguir alguma espécie de decreto federal para falarem somente sobre paixão, pegação, amor romântico, saudade e casamento. Mas a alienação não fica só na música, porque as novelas, filmes e até jogos de videogames seguem a mesma padronização alienante, salvando-se, claro, honrosas exceções.

Músicas inteligentes que despertem o senso crítico, a consciência de classe, a solidariedade, a luta por um ideal e que instiguem o intelecto dos ouvintes praticamente não existem mais. Não afirmo isso por arrogância intelectual, até porque não tenho nada contra uma forma de arte mais 'alienante', porque todos nós precisamos de um pouco de escapismo e fuga da realidade de vez em quando. O problema é que tem se tornado cada vez mais raro algo que fuja de fofocas, baixaria, safadeza e trivialidades no mundo da música. Ora, justo aqui no Brasil que temos um histórico fascinante de músicas de protesto contra realidades opressoras e governos autoritários é que vamos aderir ao tosco, ao sem noção e ao bizarramente vulgar? Acho que já passou da hora de filtrarmos melhor as "músicas" que ouvimos, porque, queira ou não, somos nós, o público em geral, que financiamos essas porcarias de músicas, filmes e novelas quando nos permitimos escutar (ou assistir) essas tranqueiras por mais de dois segundos.

Vamos abrir os nossos ouvidos (e os nossos bolsos) para o que presta e valorizar e incentivar quem quer fazer música de qualidade. Uma maneira simples de ajudar a mudar o mundo para melhor é apoiar o que é bom e deixar à míngua o que só serve para agredir os nossos tímpanos e enriquecer artistas que ficam podres de ricos em cima da nossa alienação. O mundo está cheio de problemas que esperam por soluções e a música é uma ótima ferramenta para mostrar essas soluções e, de quebra, desalienar as pessoas. Respeite os seus ouvidos, eles merecem coisa melhor.

terça-feira, 2 de fevereiro de 2021

Bolsonaro mostra para o que realmente veio


Acho que seria clichê demais dizer que houve uma "marmelada" nas eleições para presidência do senado e da câmara, onde os candidatos pró-Bolsonaro, Rodrigo Pacheco e Arthur Lira, respectivamente, venceram. Afinal, as eleições dessas duas casas são sempre movidas por algum "incentivo financeiro" para atender aos interesses de grupos tradicionalmente ligados ao establishment. O grande problema dessa vez é que estamos diante de uma pandemia assassina que tirou a vida de mais de 225 mil brasileiros. Esse total de mortos, diga-se de passagem, só está assim tão alto por omissão e irresponsabilidade do Governo Federal. E justo agora, bem no auge da segunda onda da pandemia, onde falta dinheiro para comprar vacinas, insumos, oxigênio e até seringas, a criatura insana que ocupa a presidência resolve "apoiar" candidatos específicos para se manter no poder. É muita desumanidade. Isso sem mencionar, claro, o escândalo dos alimentos superfaturados que deu origem ao meme do leite condensado. Enquanto o povo morre de fome e de asfixia sem nenhum auxílio, o governo Bozonaro mostra para o que realmente veio: para matar, para roubar e para enterrar de vez o que restou da nossa moribunda democracia.

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2021

Jogos da Minha Vida #6: GoldenEye 007


Você já se perguntou até que ponto um jogo de videogame pode mudar a vida de uma pessoa? Só para você ter uma ideia de como o Goldeneye 007 mudou a minha vida, por causa deste jogaço do Nintendo 64, eu virei fã do James Bond, criei inúmeras paródias cartunescas do 007, escrevi um romance inspirado no 007, construí dezenas de armas de papelão baseada nas armas do jogo, comecei a me interessar por armas graças ao jogo e, inclusive, escolhi a minha profissão por influência indireta do game. E não achando isso suficiente, ainda acessei a internet pela primeira vez na minha vida, lá em 1998, adivinhe para quê: para pegar dicas no site IGN sobre o jogo. Até meu apelido no colégio (Detetive Well) me fora dado por causa da minha paixão pelo bendito jogo. Só com isso já dá para imaginar o que vem por aí em mais um capítulo da série Jogos da Minha Vida.

Esse game mudou a vida de muita gente.

Como tudo começou
Goldeneye 007 – jogo inspirado no filme de mesmo nome – foi um game de tiro em primeira pessoa lançado para Nintendo 64 em agosto de 1997 pela Rareware. E, neste mesmo ano, já tive a oportunidade de conhecer o jogo. Eu conheci o game na casa de um sobrinho que tinha o alugado durante um final de semana. Foi durante uma festinha na casa do meu sobrinho que vi um monte de gente fazendo fila para jogar o tal do '007'. Naquela época, tinham apenas dois controles, mas era possível jogar o 007 de quatro (no bom sentido). Se o multiplayer já era divertido pra caramba com dois jogadores simultâneos, com quatro então, era sensacional. Mas foi o modo de um jogador mesmo que me conquistou com gráficos bonitos para a época, com uma jogabilidade fácil e com missões bem originais. Foi o primeiro FPS (First-Person Shooter) que me encantou, porque os jogos de tiro em primeira pessoa que joguei antes nunca me empolgaram. Goldeneye 007 trazia ação, estratégia, investigação, stealth, reações convincentes de inimigos e muita diversão.

O jogo fez tanto sucesso entre familiares e amigos que o meu sobrinho acabou comprando o jogo no fim de 1997. Daí que a casa dele virou a minha segunda casa depois disso, porque o vício no Goldeneye durou anos e anos. Como eu não tinha Nintendo 64 e meus videogames (Mega Drive e Super Nintendo) tinham quebrado, eu só era feliz mesmo quando estava jogando o famigerado Goldeneye. O vício no game foi tanto que quando eu não podia jogar na casa do meu sobrinho, eu simplesmente pagava para jogá-lo na locadora. E como citei na intro do post, eu usava a internet do colégio (que era discada) só para pegar dicas para o jogo.

As fases inesquecíveis do game.

Minhas impressões
No modo de um jogador, o game tinha 20 fases, sendo 2 secretas, e 3 níveis de dificuldade. Havia uma dificuldade extra (007 mode) onde era possível alterar a precisão dos inimigos, a vida deles e a velocidade de reação dos mesmos. Tínhamos um arsenal com dezenas de armas inspiradas em armas reais e era possível segurar duas delas simultaneamente. As armas variavam desde pistolas compactas até lança-foguetes. As melhores armas do jogo eram a RC-P90, que era uma submetralhadora que tinha um pente de 80 tiros (duas delas simultaneamente era o apocalipse na Terra), e a lendária Golden Gun, que dava apenas um tiro, mas que causava um dano absurdo, matando quase todos os inimigos com 1 disparo. Mas a arma mais apelona mesmo era a Gold PP7 (acessível só com o cheat mode), que dava o mesmo dano da Golden Gun só que com um pente de 7 munições (era possível usar uma em cada mão também). Fora que tínhamos granadas, minas explosivas remotas, explosivo C4, Taser (arma de choque) e facas. O único veículo pilotável do game era um tanque armado com um canhão disponível nas fases Runway e Streets. Era muito sádico insano passar por cima dos inimigos e escutar aquele som bizarro de geleia sendo esmagada quando passávamos por cima deles. Mas até aí, tudo ok, nada demais.

Momento insano do jogo.

O que tornou esse 007 realmente inesquecível e até certo ponto 'revolucionário' é que o jogo não te obrigava a passar das missões na base do tiroteio. Era possível usar a furtividade para neutralizar câmeras, hackear sistemas, roubar documentos, desbloquear portas, etc. Tinha uma diversidade de objetivos que variavam desde salvar reféns e proteger npc's até explodir uma fase inteira com a Plastique (C4). Apesar dos inimigos serem bem burrinhos a nível de inteligência artificial, eles reagiam de acordo com a parte do corpo que era atingida, tendo algumas mortes bem peculiares, como nas vezes em que morriam com um tiro no pescoço. O Cheat Mode foi o que, na minha opinião, elevou a vida útil do jogo, porque as trapaças precisavam ser conquistadas passando das fases em dificuldades e tempos específicos para poderem ficar disponíveis. E você jogar invisível, invencível, com todas armas, munição infinita, cabeçudo, com turbo e paintball tornava o jogo imprevisível e ainda mais divertido. Sem falar do multiplayer que era divertidíssimo com vários modos de jogo.

Jogando 007 de 4 (jogadores).

Como este game marcou a minha vida
Eu precisaria escrever um post inteiro separado para contar tudo que fiz por influência deste jogo. Mas para não ficar muito extenso, prometo resumir tudo ao máximo possível. 

Somente de paródias cartunizadas do 007, eu criei quase uma dúzia. Entre as 3 mais famosas, eu citaria: Geimes Bondinho, Jayme Pink e Jâmes Bonde. O mais famoso deles foi o trapalhão Geimes Bondinho (o agente zero, zero, seta), que era um agente secreto orelhudo que protagonizava histórias em quadrinhos bem humoradas parodiando todo tipo de situação absurda dos filmes de ação. Só do Geimes Bondinho (GB) foram mais de 50 histórias (a maioria inacabada) com os títulos mais esdrúxulos possíveis, tais como: GB contra o Gol de Finger; GB contra Octomussys de Chocolate; GB contra o Homem de Três Peitos; Com GB se Suicide Duas Vezes; GB Só Mente Para Seus Olhos; Ogivas de Caramelo; GB de Volta a Carrapatolândia; GB e o mistério dos supositórios explosivos, etc.

Geimes Bondinho em suas aventuras no ano 2000.

Já o Jâmes Bonde era o 007 brasileiro nascido e criado na favela da Rocinha que perseguia os bandidos de bicicleta e usava um estilingue como arma. E por último, o Jayme Pink era um espião com trejeitos afeminados que combatia o crime organizado com muito humor, rebolado e criatividade. Não levei adiante essas paródias porque fiquei com preguiça e também para não parecerem imitações de outras imitações, estilo Austin Powers. 

Lá pelo ano de 1999, eu escrevi um romance de espionagem e suspense chamado 'Agente Secreto' que contava a história de Albert Simon. Simon era um agente de um sistema de inteligência norte-americano com missões investigativas pela América Latina. Entre suas aventuras, ele acabou se apaixonando pela brasileira Alessandra Valente e, juntos, acabaram se envolvendo numa enrascada contra um traficante colombiano. A história era bem clichê, mas despertou ainda mais minha paixão pela escrita.

Ilustração de 'Agente Secreto' quando eu tinha 15 anos.

E não menos importante, de 1999 até 2001, eu construí dezenas de réplicas de armas de fogo recortando, dobrando e colando cartolinas e papelões. No começo, elas eram bem toscas, mas com o passar do tempo, foram ficando mais realistas e sofisticadas, sendo que uma delas (a Golden Gun) disparava bolinhas de papel até uma distância de uns 12 metros graças um elástico que passava por dentro cano. Tenho até hoje várias dessas réplicas de armas de papelão guardadas e elas não ficam muito atrás das Airsofts da vida. Abaixo, vou deixar uma fotografia tirada no ano 2000 com várias dessas armas. Note que muitas delas foram claramente baseadas nas armas do Goldeneye.

Arsenal de armas de papel no ano 2000.

Por fim, as habilidades que eu ganhei fazendo ilustrações para Geimes Bondinho e Agente Secreto – e também os desenhos técnicos que fiz ao produzir armas de papelão – me levaram a prestar vestibular em 2002 para desenho industrial. E hoje eu sou bacharel em design graças, quem diria, a um jogo de videogame.

Apesar do game ter tido uma continuidade espiritual com Perfect Dark e uma continuidade cronológica com 007: The World Is Not Enough (que, tecnicamente, são até melhores que o próprio Goldeneye), foi o Goldeneye 007 que mudou para sempre a história da minha vida.