sábado, 31 de outubro de 2020

Ainda vale a pena morar no Rio?


"Quando estou na cidade do Rio de Janeiro, eu me sinto dentro de um jogo de videogame tipo GTA ou de um filme como Tropa de Elite. A violência no Rio está tão fora de controle que eu sempre ando paranoico pela cidade." 

Essa frase entre aspas foi dita por um ex-colega meu de faculdade que tinha voltado recentemente de viagem do Rio de Janeiro. Ele falou os pontos positivos e negativos da cidade, mas essa frase que destaquei me chamou atenção. O Rio de Janeiro, dos últimos vinte anos para cá, ganhou a imagem de uma cidade decadente, distópica e sangrenta. Engraçado que quando eu era criança, a minha visão do Rio era completamente diferente. Era de um lugar bacana, cheio de cartões postais e de coisas legais pra fazer. Para se ter uma ideia, o Rio era o terceiro lugar que eu mais queria conhecer depois da Disneylândia e do Beto Carrero World. A coisa que eu mais queria fazer no Rio quando criança era ir ao Show da Xuxa, coisa que acabei não fazendo quando morei por lá no fim dos anos 1980. A televisão era uma coisa mais imponente naquela época e as imagens que eram vendidas do Rio na tevê, especialmente nas novelas, era de uma cidade idealizada que vivia em carnaval o ano inteiro com praia, futebol, samba, gente bonita, turistas, calorzão. Era a tal "Cidade Maravilhosa". Quase todo mundo de fora queria conhecer os encantos das terras cariocas. Mas aí quando conheci o Rio pela primeira vez, me deparei com chuva, neblina, enchentes, trânsito, bala perdida, desigualdade social, preços altos... O Rio não era um paraíso, tá ok, mas ainda tinha seu encanto.

Mas enfim, eu gosto muito do Rio de Janeiro pelos amigos que fiz por lá, pela aura tropical da cidade, pelas praias, por ser o coração turístico do Brasil, pelos eventos, pelas oportunidades e pelos bons tempos que tive na infância quando estive lá. Mas morar hoje na capital fluminense é um tiro no pé. Só vale a pena morar no Rio se você tiver muito dinheiro. Porque quem for de classe média baixa ou pobre vai se ferrar bonito por lá. A cidade é violenta, desigual, cheia de desempregados, o custo de vida é elevado, passar em concursos públicos por lá é mais difícil, o governo é corrupto, a saúde pública é precária, a educação pública deixa muito a desejar, a segurança pública nem se fala e a cidade parece estar muito saturada de gente querendo reconstruir a vida. Mesmo em outros municípios fluminenses a coisa também não está fácil. 

Por tudo que vi e ouvi nos últimos anos, conclui que tentar ganhar a vida fácil no Rio é coisa de novela. Claro que a cidade é linda, mas isso justifica, no máximo, um passeio por lá nas férias. E eu não digo isso por não gostar da cidade, até porque eu tenho uma ligação afetiva e nostálgica com a cidade dos meus tempos de criança, mas é que a realidade é muito mais dura do que parece. E com o crescimento das milícias, da politicalha e do descaso do Estado, até mesmo cariocas da gema têm deixado a cidade. É preciso que muita coisa mude para que o Rio de Janeiro volte a ser (se é que já foi um dia) uma cidade digna para se viver.

segunda-feira, 26 de outubro de 2020

Não é hora de uma nova Constituinte no Brasil


Tanto pessoas de direita quanto pessoas de esquerda aqui no Brasil estão se espelhando no plebiscito chileno que enterrou a constituição de Pinochet para exigir uma nova assembleia nacional constituinte por aqui. Mas vamos com calma. A situação do Chile é um pouco diferente do Brasil. Lá eles estão saindo de uma Constituição que marcou uma página sangrenta na história do país. Nós já tivemos a nossa em 1988 para atender a essa função de transição. O problema da nossa Constituição de 1988 é que ela é uma constituição inteiramente burguesa, que mantém brechas para intervenções militares e que perdoou nomes como o do coronel Ustra. Precisamos de uma nova Constituição, sim. Mas ela precisa ser feita pelos trabalhadores, para os trabalhadores e após uma revolução popular. É impossível criar uma constituição que atenda aos trabalhadores no momento, porque o atual congresso é dominado pela direita tradicional e o poder executivo está repleto de militares que tratam a ditadura de 1964 como tendo sido algo bom e necessário. Uma nova constituinte agora só serviria para atender aos interesses dessa gente que está no poder e aos plutocratas. Ou será que as pessoas se esqueceram da "constituição sem povo" citada pelo general Mourão lá em 2018?

Vamos primeiro pensar em mudar a estrutura de poder do sistema político antes de pensarmos em um nova constituinte. Não adianta uma nova constituição se os generais e os super ricos não a respeitarem. Mudanças reais não se fazem com remendos, mas sim com rupturas com o que havia antes.

quinta-feira, 22 de outubro de 2020

Não se pode esperar revoluções de uma geração Perdida

 

A partir de 1985, o Brasil e o mundo entraram em uma nova fase. Assistimos desde então o fim da ditadura militar, a volta das eleições diretas, a queda do Muro de Berlim, o fim da União Soviética, o fim da Guerra Fria, a estabilidade na moeda, a popularização dos videogames domésticos, a chegada da internet... A humanidade entrou num raro e longo momento de estabilidade que teve como auge o período de 1992 até 2008. O fato foi que desde 1994 até 2012 o Brasil esteve em um período onde os jovens brasileiros não tiveram maiores preocupações políticas, porque não tivemos guerras, regimes autoritários ou instabilidade monetária. A geração Y, que engloba pessoas nascidas entre 1980 e 2000, acabou crescendo em um ambiente de pouca turbulência geopolítica e onde não era preciso lutar contra quase nada. A geração Z, que inclui as pessoas nascidas desde 2001, também pegou boa parte desse período de "sossego" e uniu-se à geração Y, formando uma única geração que eu vou nomear de Geração Perdida. Por que esse nome "Geração Perdida"? Porque parece que não sabemos de onde viemos, nem quem somos e nem para onde vamos. Eu, por exemplo, nasci em 1983 e faço parte dessa geração que praticamente só brigou por algo dentro dos videogames ou nas caixas de diálogo do Facebook.

Mas o mundo mudou. Foi quando veio a crise global de 2008 que a geração Y mundial começou a ficar desnorteada. Afinal, nunca tinham visto uma crise daquelas proporções ameaçando sua estabilidade que até então era algo natural, praticamente consuetudinária. No caso do Brasil, desde os protestos de 2013 que a coisa começou a desandar. As pessoas estavam reclamando de tudo e ao mesmo tempo de nada naquelas micaretas "antitudo". Devido à despolitização, os jovens então foram feitos de massa de manobra pela imprensa e pelos think tanks na condução das ideologias dominantes presente no imperialismo Euroamericano. O resultado disso culminou com o Golpe Parlamentar de 2016, na eleição de uma criatura fascitoide em 2018 e uma necropolítica piorada graças à pandemia do Coronavírus que explodiu em 2020.

O momento que estamos vivendo é muito preocupante, porque as gerações anteriores que pegaram um mundo dividido pela Guerra Fria e que lutaram contra a ditadura já estão na casa dos 60-70 anos e não possuem mais a juventude e o espírito de mudança necessário para lutar. E as gerações atuais (a tal Geração Perdida) não sabem lutar e nem pelo que lutar. Parecemos espectadores de um mundo à beira do caos onde as redes sociais viraram palco de vaidades e memes que mais parece um Fla-Flu ideológico que não leva a nada. Estamos sem referências, sem armas e esperando uma solução mágica cair do céu. Infelizmente, quem ganha com isso são aqueles que realmente detém o poder, que possuem as armas e que sabem muito bem pelo que lutar. E assim as coisas irão continuar até que o mundo nos mostre que a realidade em que crescemos não passou de um castelo de cartas.

A direita capitalista é assassina

Uma das coisas que mais estou farto de ver na internet é gente que se declara como sendo de direita enchendo a boca para falar que a esquerda é assassina porque "o comunismo matou milhões", porque Mao Tse Tung era isso, porque Stalin era aquilo, porque Fidel e Che eram mais não-sei-o-quê... Isso nós já estamos exaustos de ouvir e ler. O que (quase) ninguém conta é que o capitalismo matou e mata muito mais que todos os regimes socialistas/comunistas que já existiram. E isso acontece sem que as pessoas percebam. Um exemplo claro disso está acontecendo hoje no Brasil. Esse número de mais 150 mil mortos pelo coronavírus no Brasil não veio por acaso. É claro que temos um delinquente irresponsável na presidência, mas culpa não foi só dele. A culpa é também do congresso formado, em sua maioria pelo "centrão", que nada mais é que a direita tradicional composta pela bancada BBB (Boi, Bala e Bíblia). Isso sem citar os parlamentares representantes dos bancos, planos de saúde, corporações, especuladores, etc. O nosso poder legislativo é muito reacionário e muito ligado aos interesses do capital especulativo. Foi por isso que a PEC do Teto de Gastos (PEC da Morte) foi aprovada. E a discussão que há hoje para o governo está em como não estourar esse teto imposto pelo legislativo, mantendo os investimentos em saúde e educação congelados mesmo diante da pandemia. A PEC do Teto de gastos é uma PEC assassina criada por essa direita tradicional que prefere ver o povo morrer nos hospitais do que faltar dinheiro para pagar juros para a casta rentista.

 

Mas a tragédia não para por aí. Algumas medidas populistas da nossa direita também são assassinas. Dois exemplos disso são as mudanças nas leis de trânsito que dobrou a quantidade de pontos para perder a CNH e o período para sua renovação; e também a flexibilização no acesso a armas de fogo. Com essas duas mudanças teremos mais acidentes de trânsito e mais acidentes com armas de fogo. O número de mortes vai aumentar sem ninguém nem sentir e ninguém vai se lembrar de incluir essas mortes na conta do capitalismo. E com o fim do auxílio emergencial mesmo antes do fim da pandemia, teremos mais pessoas morrendo por consequência do desemprego, da desnutrição e da falta de cuidados médicos e remédios.

E depois é a esquerda que é assassina...

PS: Esqueci de incluir também a aprovação de agrotóxicos banidos na Europa pelo governo Bolsonaro. Isso, a médio e longo prazo, também vai matar muita gente, porque esses pesticidas possuem substâncias nocivas à saúde. É a necropolítica tomando conta do Brasil.

quarta-feira, 14 de outubro de 2020

Eleição americana nem devia se chamar eleição


Joe Biden ou Donald Trump. Sabe quem eu prefiro? Nenhum. Ambos estão ali defendendo os interesses das oligarquias estadunidenses. A diferença fica apenas na máscara que usam. Enquanto um é um lobo em pele de cordeiro, o outro é um lobo em pele de lobo. Joe Biden representa a volta do imperialismo humanitário, enquanto Donald Trump representa o imperialismo predatório E para o povo americano não muda muita coisa. Tanto republicanos quanto democratas servem aos interesses do establishment. É por isso que o bipartidarismo americano é fictício. Aliás, as eleições de lá nem são eleições de verdade, porque as eleições americanas são semidiretas, tendo que passar pela arbitrariedade dos delegados dos colégios eleitorais. E depois vem gente criticar Rússia, China, Cuba e Venezuela, como se as eleições dos EUA fosse exemplo a ser seguido.

Coloquem uma coisa na cabeça: democracia só é possível, de fato, no socialismo. Porque somente no socialismo os trabalhadores estão realmente exercendo o verdadeiro poder. No capitalismo é a alta burguesia que controla o sistema político, eleitoral e econômico. Quem realmente manda nos países capitalistas é o sistema financeiro encabeçado pelos grandes bancos privados. Em outras palavras: é o dinheiro quem manda. Então tanto faz quem ganha as eleições americanas, vamos continuar sendo explorados e ludibriados pelos donos do mundo.

sexta-feira, 9 de outubro de 2020

Bozo é um desastre, mas o capitalismo é pior

Sim, o governo Bolsonaro é um desastre, mas o sistema que permitiu sua eleição é ainda pior. Na verdade, quem venceu a eleição presidencial de 2018 nem foi o Bolsonaro, mas sim as fake news. Estamos sendo governados, na prática, por um néscio fascistoide que sonha em ser ditador e que não tem e nem nunca teve condições nem para ser síndico. E isso só ocorreu porque houve toda uma grande logística por trás da eleição dele financiada tanto pela burguesia nacional quanto pela internacional. Portanto, o problema não é nem o Bolsonaro em si, mas sim o sistema econômico que permite que uma criatura bestial como ele tenha se tornado chefe do executivo: sistema esse chamado de capitalismo financeiro.

Quem acompanha este blog há mais tempo sabe que já abordei várias vezes as razões pelas quais o capitalismo só deu certo para uma minoria, isso porque o capitalismo tem como objetivo maximizar o lucro a qualquer custo. Diferentemente do socialismo, que tem como objetivo cuidar primeiro das pessoas, o capitalismo não respeita o meio ambiente, tem foco no consumismo, usa a coerção para impor a propriedade privada e precisa da escassez para que possa continuar existindo. É por isso que precisamos de um novo sistema, de uma economia baseada em recursos, de governos que não sejam chantageados pelo lobby do capital e que nem precise de crescimento infinito para se sustentar. Os únicos sistemas que conheço até o momento que atendem a esses requisitos são o ecossocialismo e o Projeto Vênus. 

Portanto, se você não concorda com o governo Bozo, ainda que não saiba, muito provavelmente você não concorda também com o capitalismo, porque é justamente este o sistema culpado por toda essa tragédia ecológica, social, sanitária e econômica que estamos vivendo no Brasil. Jair Bolsonaro é apenas o sintoma de algo muito pior.