sexta-feira, 15 de novembro de 2024

Escala 6x1 é a escravidão moderna

Para quem tem memória fraca ou não sabia, a frase estampada com letras garrafais nos portões de entrada de vários campos de concentração nazista afirmava: "Arbeit macht frei" que em alemão significa "o trabalho liberta". E não eram só os nazistas que pensavam assim. Os senhores de engenho do século XIX tinham lema semelhante quando condenavam seus escravos a trabalharem até a morte. Daí eu pergunto: será mesmo que o trabalho é algo tão bom quanto os donos do capital nos fazem pensar?

Estou farto de repetir que o trabalho NÃO é algo sagrado ou uma panaceia contra os males do mundo. Só quem trabalha 8 horas todo santo dia sabe como é terrível, desgastante, deletério, estressante e punitivo ter apenas um mísero dia de descanso na semana. Foi pensando nisso que a deputada Erika Hilton (PSOL) resolveu criar um projeto que prevê o fim dessa escala de semiescravidão de 6x1, fazendo com que o assunto entrasse em discussão em todos os lugares dentro e fora da web. 

É provável que esse projeto não vá muito longe por termos o congresso mais reacionário da história e uma imprensa calhorda que sequer consegue fingir que não é de direita. Contudo, foi importantíssimo que essa semente tenha sido plantada para que num futuro não muito distante exista a possibilidade real de reduzir pelo menos para uma escala de 5x2 e torne o trabalho mais produtivo para os trabalhadores e mais lucrativo para os patrões. Mas como a burguesia do nosso país não pensa com o cérebro e sim com o bolso, então seguirão com o discurso escravista de que a escala 6x1 é para evitar o "colapso da economia" e outras mentiras já refutadas por países que já adotam escalas menos cruéis. A luta será árdua e longa para conquistarmos esse direito no Brasil.

Sendo franco, a escala de trabalho ideal seria de 0x365, onde ninguém precisasse trabalhar. Todo o trabalho deveria ser realizado por máquinas, robôs e IAs enquanto os humanos estariam livres para viverem suas vidas com mais liberdade, conhecimento, saúde, lazer e tempo de qualidade junto com as pessoas que amamos. Fora que ninguém mais passaria fome ou sede. O Projeto Vênus proposto por Jacque Fresco, por exemplo, traz uma ideia de como esse modo de produção poderia ser implementado. 

O mais importante é que a redução da jornada de trabalho SEM reduzir os salários torne-se uma pauta fixa daqui em diante não apenas dentro do campo progressista, mas para toda a classe trabalhadora.

quinta-feira, 31 de outubro de 2024

A importância do trabalho de base na política


Existe uma ala da esquerda que tem feito críticas severas ao atual governo petista por sua "passividade" diante das reformas neoliberais que estão avançando sobre o país. O ministro da fazenda Fernando Haddad tem sido o principal alvo dessas críticas por estar numa espécie de "lua de mel" com o mercado financeiro. A questão é que o temível corte de investimentos não é uma ideia do atual ministro da fazenda – isso trata-se, tão somente, de uma imposição da elite econômica. Essa situação só ocorre porque o presidente Lula tem quatro canhões apontados contra si. O primeiro deles é o canhão do mercado financeiro que exige essa política antipopular para aumentar a transferência de riqueza do capital produtivo para o capital especulativo. O segundo canhão vem do Congresso que é o mais reacionário da história, cheio de bolsonaristas que juntam suas forças com as bancadas BBB (Boi, Bala e Bíblia) para forçar o governo a ceder nas negociações. O terceiro canhão vem do Tio Sam que pressiona o Brasil a se afastar do Brics e a manter o Consenso de Washington. E o último deles vem dos militares que subverteram a Constituição e seguem atuando como poder moderador, impedindo, por exemplo, que um reaça como o atual ministro da defesa seja demitido. Lula é o presidente, mas é um presidente refém dessas forças que ameaçam recolocar o fascismo no poder caso suas exigências não sejam atendidas. E é aí que entra a necessidade de um trabalho de base para colocar o maior dos poderes em jogo que é o poder popular. 

Somente um povo politizado pode contrabalancear essa situação. É preciso um trabalho que mostre para a classe trabalhadora que ela é que tem o mais temível dos poderes e que os direitos dela estão sendo destruídos por uma classe de exploradores super ricos. Se querem cortar gastos, então que taxem os ricos e as grandes fortunas ao invés de cortar garantias institucionais da população. Sem entender quem é, qual o seu real poder e os seus reais interesses, a classe trabalhadora irá continuar elegendo os mesmos reaças de sempre seja para conselhos tutelares ou para a Câmara dos Deputados. Infelizmente, enquanto os donos do real poder não sentirem medo, o chicote vai continuar a estalar no lombo do povo.

domingo, 20 de outubro de 2024

A ignorância NÃO é uma benção


Dizem por aí que a ignorância é uma benção, porque o ignorante vive preso na feliz ilusão de uma falsa esperança. Pois bem, eu até sou fã do estilo Hakuna Matata que prega que devemos ignorar os nossos problemas para sermos mais felizes no presente. Contudo, ser ignorante dá as pessoas o risco de ostentar algo muito perigoso que é a ilusão do conhecimento, também conhecido como Efeito Danny Kruger. A ilusão de sabedoria é mais perigosa que a própria ignorância, porque ela faz os indivíduos acreditarem convictamente nas próprias mentiras, fazendo elas chafurdarem no poço sem fundo do sofrimento sem entender o porquê. Assim é o caso do trabalhador assalariado que defende a propriedade privada dos meios de produção. É bizarro e lamentável ao mesmo tempo ver um capitalista sem capital defendendo a própria exploração e batendo no peito para dizer que é de direita. Daí que governos de extrema direita estão sempre indo e voltando ao poder graças a essa ignorância quanto à consciência de classe. 

Mas não é só o trabalhador pobre e a classe média fascistoide que são ignorantes. A própria elite econômica também é. Somente uma classe dominante burra, arrogante e imediatista que não percebe que ao acelerar o processo de exploração capitalista, aumenta com isso as chances de ruptura do tecido social, criando o risco precoce de convulsão social antes do fim inevitável do capitalismo. Se é que ninguém percebeu ainda, só existem três formas naturais do capitalismo terminar: ou em guerra nuclear, ou em apocalipse climático, ou em revolução socialista. E ao aumentar a desigualdade em nome do lucro imediato, as elites tornam o risco de colapsar o sistema ainda mais cedo, causando explosão de violência, desabastecimento e prejuízos às classes dominantes.

Então até para ser ignorante é preciso ter um mínimo de sabedoria.

segunda-feira, 30 de setembro de 2024

O monstro fascista ressurge no Oriente Médio


Existe uma frase não sei de qual autor que diz que "se você age igual ao seu inimigo, você NÃO é diferente dele." Essa frase pode até soar como um provérbio do Capitão Óbvio, mas ela serve para desmascarar a hipocrisia de pessoas que confundem justiça com vingança. Logicamente, estou a me referir mais uma vez a respeito das atitudes belicosas do governo de extrema-direita israelense. Perceba que não estou criticando judeus ou mesmo o Estado de Israel. Não há qualquer antissemitismo ou antissionismo aqui, antes que alguém confunda as coisas. Minha crítica é contra a choldra de genocidas lideradas pelo atual primeiro ministro israelense cujo nome recuso-me a digitar tamanha repugnância que tenho do mesmo. É evidente que os atos terroristas do Hamas são duramente reprováveis, mas a resposta israelense é errada e desproporcional. A prioridade tinha que ser a negociação pelo resgate dos reféns, mas, ao invés disso, algum "gênio" achou que seria melhor bombardear alvos civis, incluindo aí escolas, hospitais e maternidades. Tsc, tsc, tsc... Além de não salvarem os reféns, ainda matam civis inocentes com essa atitude de vingança sanguinária, realimentando ainda mais o ódio palestino por Israel dentro e fora da Faixa de Gaza. 

Mas a catástrofe não parou por aí. Agora foi a vez de Israel atacar o Líbano também com a desculpa debiloide de enfraquecer o Hezbollah. Essa loucura bélica toda só vai servir para aumentar a crise de refugiados, tornando a Europa ainda mais xenófoba. Tanto EUA quanto Europa fingem ser contra a guerra por questões meramente eleitoreiras, mas por baixo dos panos, apoiam Israel logisticamente. Mas até aí tudo ok. Nada que me surpreenda. O que me deixa realmente triste e assustado é ver inúmeros judeus pelo mundo apoiando o genocídio e a guerra contra os muçulmanos como se eles não tivessem qualquer humanidade, como se TODOS fossem terroristas. Como um povo massacrado e ferido pelo holocausto pode apoiar uma coisa tão aterrorizante e desprezível como o genocídio de muçulmanos civis inocentes? É por isso que Lula não estava errado quando comparou certos israelenses com o Führer. Seriam eles os nazijudeus?

segunda-feira, 2 de setembro de 2024

Estamos vivendo a era dos vícios


Desde 1960 para cá que cada década correspondeu a um período triunfal de algum entretenimento da cultura humana. A década de 1960, por exemplo, foi a década de ouro do rádio. Os anos 1970 foram os anos de ouro da música. Já os anos 1980 corresponderam à década de ouro do cinema. 1990 foi a década de ouro da televisão. A década de 2000, por sua vez, foi a década de ouro dos games. E a década de 2010 foi a década de ouro da internet. Quanto à década atual, de 2020, pelo andar da carruagem, está sendo a década de ouro das apostas online. Ou sendo mais específico: a década de ouro dos jogos de azar via smartphones. Só que diferentemente das outras formas de entretenimento, as apostas são um tipo de entretenimento que é quase um golpe, porque elas não entregam de fato o que prometem, porque tudo depende de uma sorte que estatisticamente está voltada contra você. É preciso deixar claro que essas empresas de apostas (as tais bets), como qualquer grande porcaria do capitalismo, não existem para fazer seus clientes felizes. Elas existem simplesmente para lucrar na base do vício que esse tipo de jogo gera. Para piorar, as pessoas mais afetadas são justamente as que têm menor renda. Pessoas essas que chegam ao ponto de se endividarem só para manter o vício. E como se isso não fosse o suficiente, ainda temos outros vícios "legais" que têm afetado especialmente os mais jovens que vão desde as redes sociais até o perigoso cigarro eletrônico.

Estamos vivendo a década dos vícios porque usamos esses vícios como escapismo para nossas angústias, dores e frustrações com nossas vidas. Mas a solução para nossas inquietações existenciais não está nos vícios, nem na música, nem nos games, nem nos filmes e em nenhuma forma de entretenimento. A solução para isso, individualmente falando, está em buscar uma vida saudável, em parar de se comparar com os outros, em parar de procurar soluções fáceis para problemas complexos. Se estamos com angústia, depressão ou sofrimento, precisamos buscar ajuda profissional. Seja psicológica ou psiquiátrica. Os profissionais dessas áreas são os anjos da guarda que nos darão as ferramentas necessárias para vencer as nossas crises existenciais sem recorrer a mentiras ou prazeres momentâneos que não nos darão nada além de mais sofrimento. Já a solução a nível político está na regulamentação. Não podemos deixar que da década de 2020 para frente tenhamos décadas e mais décadas de vícios disfarçados de entretenimento.