sábado, 3 de agosto de 2019

Precisamos de uma ruptura para sair das trevas


Desde 2016 que o Brasil está em estado de anomalia institucional. Isso é um fato confirmado pelo impeachment sem crime de responsabilidade contra Dilma Rousseff, pela prisão política do ex-presidente Lula, pela eleição ilegal de Jair Bolsonaro, pela impunidade aos líderes da Lava Jato e pela forma como as forças mais violentas e retrógradas se reinfiltraram o poder. E esse estado de anomalia prossegue a todo vapor. Ontem mesmo, por exemplo, a procuradora-geral da república, Raquel Dodge, garantiu a impunidade de Deltan Dallagnol. Noutro dia, o general Villas Boas garantiu apoio irrestrito ao juiz Sérgio Moro, mesmo com todas as revelações da Vaza Jato. E tudo indica que as coisas ficarão nisso mesmo.

Mas o que realmente me preocupa é que o estado de anomalia institucional é crônico. Ou seja: não há previsão para que ele termine. Nas eleições de 2022, se elas vierem a ocorrer, haverá mais fake news, mais "facadas", mais mentiras difundidas pela mídia tradicional e mais ameaças ao STF feita pelos militares. E se mesmo assim o PT (ou qualquer partido progressista) vencer, teremos aquele velho roteiro golpista com eleições anuladas, a chapa vencedora cassada no TSE, impeachment ou pautas-bombas para desestabilizar o governo. No fim das contas, o plano de governo neoliberal será mantido de pé para ferrar com o povo e enriquecer ainda mais os oligarcas. E tudo isso vai se arrastando com a aparência de normalidade democrática, como se as instituições estivessem funcionando normalmente.

Para a institucionalidade burguesa voltar à sua normalidade, será necessária uma ruptura traumática nesse processo. Ou teremos que entrar num estado de exceção violento, através de um recrudescimento do atual regime com a introdução de algo semelhante ao AI-5 para, posteriormente, caindo esse regime, termos um pretexto para criar uma nova Constituinte. Ou teremos então que fazer uma revolução onde os plutocratas sejam arrancados do poder real para que ele seja ocupado pelos trabalhadores. Se nada disso ocorrer, ficaremos presos nesse sistema plutocrata neoliberal que jamais vai permitir qualquer tentativa de se colocar em prática qualquer tipo mínimo que seja de social-democracia.

Agora, uma ruptura com o atual regime exige também, como já alertei em outros posts, uma outra ruptura ainda maior: a ruptura do Brasil como um país subdesenvolvido no capitalismo global. Como consequência disso, teremos que ou fazer parte da centralidade do capitalismo (explorando outros países capitalistas pobres), ou então teremos que entrar de cabeça numa mudança profunda em relação ao atual modo de produção (capitalismo financeiro, no caso). E eu só vejo duas possibilidades além do capitalismo, que é o ecossocialismo, ou o Projeto Vênus.

Enquanto o Brasil continuar a se comportar como capacho dos países centrais do capitalismo, nunca deixaremos de ser essa neocolônia subdesenvolvida que se orgulha de ser uma república das bananas. Temos que nos tornar verdadeiramente independentes para desenvolver nossas riquezas, potencialidades, autoestima (adeus complexo de vira-lata) e começar uma era de industrialização, tecnologia e combate às desigualdades. Ou encaramos essa necessidade de mudança e de desenvolvimento nacionalista estratégico, ou jamais seremos gigantes.

6 comentários:

  1. Como sempre, mais um post bosta.

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  2. Grande Wellington! Como estás meu caro?
    Tivemos grandes discussões aqui em 2014 sobre propaganda infantil, sexualidade e política. Grandes vibes.

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    1. Olá, camarada! Estou ótimo.
      Pois é, bons tempos. Ultimamente, o tema política tem se tornado mais recorrente por aqui devido à situação delicada que nos encontramos. Mas estamos aí na luta.
      Abraço!

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  3. Wellington F , não conhecia esse Projeto Venus . Vi por cima agora e acho que bate com alguns ideais que possuo . Valeu ! Agora aprofundar .

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    1. O Projeto Vênus é mesmo algo fantástico. Eu escrevi uma postagem em homenagem ao criador do projeto e tem um material em PDF sobre o projeto bem interessante.

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