quinta-feira, 5 de outubro de 2023

É melhor haver ou não haver vida após a morte?


Faz alguns dias que estive a pensar mais profundamente sobre a nossa condição existencial após a vida chegar ao fim. Cheguei à conclusão que, independentemente do que ocorra após a morte, o que espera por nós não é nada bom. 

A existência da vida após a morte é algo terrível pelo fato de que é impossível existir vida sem sofrimento. Se sempre estivermos morrendo e renascendo em ciclos infinitos como sugerem algumas doutrinas, nunca nos livraremos da angústia, das dores e das inquietações existenciais. Se houver reencarnação, estaremos presos a um karma sem fim de tragédias. Se houver inferno, estaremos sendo vítimas da injustiça arbitrária de um ditador celestial sádico. Já a tal vida eterna num paraíso perfeito é uma ideia pueril que também seria terrível, porque uma existência sem sofrimento algum nos levaria a um estado permanente de anedonia e tédio. Então continuar existindo após a morte seria algo indesejável, até porque perderíamos nossa identidade e nossas memórias com o passar do tempo em meio a um ciclo sem fim de existências que não teriam qualquer propósito.

Será este o fim de todos nós?

No caso de não haver vida após a morte, voltaremos a ser aquilo que sempre fomos durante todo o infinito passado antes do surgimento do universo, ou seja: um nada. Não seremos capazes de sentir, ver, ouvir, pensar, cheirar, lembrar ou perceber a existência do tempo e do espaço. Seria a inconsciência absoluta, como se tivéssemos presos num sono eterno sem sonhos ou como se tomássemos uma anestesia geral que duraria para sempre. Porém, tornar-se um "nada" não é nem o problema em si, porque o que não existe não sofre justamente por não está existindo. O problema aqui é a angústia que essa hipótese gera em quem está vivo. É angustiante imaginar que nossa consciência vai evaporar para sempre e a dos nossos descendentes e entes queridos também. Chega a ser até cruel do ponto de vista de seres gregários como os seres humanos a ideia de que nunca mais seremos capazes de sentir afeto, prazer ou felicidade.

Tornar-se imortal é a solução?

Existe ainda uma terceira possibilidade, que é a de alcançar a imortalidade em vida, seja através da clonagem, da criogenia, da digitalização do nosso cérebro, do backup da nossa mente ou de nos tornarmos indestrutíveis através do ciborguismo. Mas isso também tem um problema. Os sofrimentos inerentes à existência continuarão a nos perseguir. Afinal, a dor é o preço que se paga por estarmos vivos. Mas o pior nem é isso. O problema é que o próprio universo um dia deixará de existir, seja  através de um Big Crunch (universo cíclico), de um Big Rip (ruptura do espaço-tempo) ou de um Big Freeze (morte térmica). Não poderemos sobreviver a nenhum deles. A menos, claro, que criemos uma espécie de Matrix onde possamos viver mentalmente através de uma espécie de jogo da vida que rode em escalas de tempo gigantescas. Ou então que criemos universos paralelos e migremos para lá. Mas será que isso realmente valeria a pena?

Enfim, o que acontecerá após a morte é um mistério. Mas qualquer que seja a opção, ela não será fácil para nenhum de nós.

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