quinta-feira, 16 de abril de 2020

Quarentena não é o fim do mundo


Se tem uma qualidade que eu me vanglorio de ter é a de ser um bom observador. E o que tenho observado através da internet é que as reações de muitas pessoas da classe média diante da quarentena imposta pelo Coronavírus têm sido, no mínimo, exageradamente dramáticas. A sensação que tenho é de que o mundo vai acabar, que vamos morrer de suicídio coletivo ou que o apocalipse bíblico está realmente começando. Tudo besteira. É claro que há exceções. Um grupo de pessoas que já tinha uma convivência difícil, por exemplo, ter que ficar agora trancado em casa 24 horas por dia é algo que aumenta os conflitos e o estresse. O medo do vírus, a perda de empregos, a perda da liberdade e a insegurança com relação ao futuro também são preocupações genuínas que têm tirado as pessoas do sério. Mas não são essas as maiores reclamações que tenho visto nas redes sociais. O povo tem se queixado majoritariamente de tédio, de solidão, de claustrofobia, de anedonia e até de transtornos psiquiátricos. É bom lembrar que não estamos em prisão domiciliar e podemos buscar ajuda profissional online para todos esses transtornos. O que eu gostaria que as pessoas privilegiadas percebessem são as vantagens de estarmos de quarentena e que nem todo mundo tem a oportunidade de desfrutar.

Seja um pouquinho otimista.

Um colega meu escreveu um texto no Facebook explicando que ele está vivenciando a melhor época da vida dele durante essa quarentena. Ele disse que está vivendo uma espécie de férias de prazo indeterminado onde, basicamente, ele come, dorme, bebe, vê pornô, assiste Netflix e joga videogame todos os dias na hora que quiser. Isso sem falar que ele não tem mais que se preocupar em acordar cedo para pegar busão lotado, não tem mais risco de ser assaltado, pode dormir na hora que quiser e ainda ganha dinheiro do governo para ficar nesse bem-bom. O cara virou um sibarita antissocial dos sonhos de qualquer vagabundo que se preze. Claro que ele, da mesma forma que eu, é um sujeito caseiro, introspectivo, introvertido e tem aversão ao convívio social, o que torna a sua vida de reclusão mais fácil. Mas o fato é que independentemente de sermos pessoas que amam a solitude ou não, todos nós estamos vivendo a melhor época da história para se fazer uma quarentena.


Se compararmos com a Gripe Espanhola de 1918, época onde não havia nem televisão e nem internet, ficar em casa por um longo período era um martírio. Mas em 2020, temos um arsenal a nosso favor graças à tecnologia: músicas, filmes, séries, jogos, transmissões ao vivo, videochamadas, telefone, aplicativos, redes sociais, eletrodomésticos, entrega de comida e remédio em domicílio... Se você tem acesso à internet, não se faça de vítima. É melhor permanecer em casa e poupar a sua vida e de milhares de outras pessoas. Procure ver o lado bom das coisas ruins. Deixe de ser pessimista e descubra as belezas do ócio. Aproveite para crescer como ser humano: leia, faça cursos online, compartilhe seu conhecimento, faça exercícios físicos em casa, aprenda alguma habilidade útil, se solidarize, se divirta: busque alternativas para sair dessa ainda mais forte. Lembre-se que enquanto alguns choram por saber que as rosas têm espinhos, outros sorriem por saber que os espinhos têm rosas.

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