terça-feira, 23 de setembro de 2025

Ser gamer no Brasil é um ato heróico


Ter um videogame sempre foi um privilégio no Brasil. Desde os anos 1980, época onde os Famiclones já custavam um preço bastante salgado, que o sonho de ter um aparelho que rodava games em casa era onipresente para crianças e adolescentes. E nem era por uma questão de status, era por uma questão de diversão mesmo. Videogame com gráficos inteligíveis era uma novidade tecnológica e juntar os amigos para jogar em casa rendia horas e horas de diversão. O meu primeiro videogame foi um Mega Drive que ganhei em 1992 e lembro que a minha família teve que se endividar para poder comprá-lo. Mais de 30 anos se passaram e os videogames continuam caros. Os três videogames da atual geração (PS5 pro, XBOX series x e Nintendo Switch 2) estão saindo por mais de R$ 4 mil cada em um país onde a média salarial nem chega perto disso. E como praticamente não há mais locadoras ou fliperamas, o que resta para os amantes de games da década de 2020 é jogar games free to play para smartphones, emuladores para PCs de entrada ou apelar para a boa e velha pirataria.

Vamos ser francos: ser gamer no Brasil não é coisa para amador. Os guerreiros que conseguem montar um PC gamer mais acessível não raramente fazem gambiarras com kits-upgrade de Xeons de dez anos atrás no AliExpress ou usam o cloud gaming que além de caro é ruim porque a internet brasileira é bastante instável. E para piorar o que já não estava nada bom, dizem os especialistas que o GTA 6 vem aí custando nada menos que 100 dólares (o que para nós deve sair por mais de 600 pilas). Se esse for mesmo o novo preço dos AAA da indústria dos games, a maioria de nós só vai zerar jogos nível blockbuster assistindo os outros jogarem pelo YouTube. E o pior é que mesmo que o GTA 6 viesse de graça, teríamos microtransações e outras coisas obscuras como o pay-to-win. Afinal, nenhuma empresa vive sem lucro num mundo capitalista.

É por tudo isso que ser gamer no Brasil é um ato de resistência. Eu sigo fazendo gambiarras no meu PCzinho da idade da pedra e ele tem dado conta do recado até o momento. Mas para a futura geração de games, o que resta é a resistência e a criatividade.

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