Boi na sombra ou dedo no cu e gritaria?

Já se passou um ano do lançamento de um dos games mais mal produzidos dos últimos tempos, o bugadíssimo Cyberpunk 2077. Eu joguei um pouco dele no PC logo na estreia para nunca mais querer saber daquele jogo de tão decepcionante que aquela porcaria foi. Mas apesar da bela porcaria que o game foi, eu tenho que admitir que alguns diálogos nele foram bem interessantes. Um exemplo disso foi a questão filosófica levantada pelo fixer Dexter DeShawn que indaga em um dos trampos exibido no trailer de lançamento: "Você prefere viver como um zé ninguém e morrer de velhice, ou prefere viver loucamente e nem chegar na casa dos 30?" Em outras palavras: é boi na sombra ou dedo no cu e gritaria? Cada um tem a sua resposta e eu pretendo explanar sobre a minha.

Hoje, dezembro de 2021, eu estou com quase 40 anos de idade. Sempre fui um sujeito tímido, desconfiado, cauteloso e, de uns anos para cá, após uma visita conturbada a um cardiologista, tenho cuidado da minha alimentação, feito atividade física regularmente, dormido bem na medida do possível e evitado o estresse. Apesar da minha saúde ter melhorado substancialmente, eu tenho um problema incorrigível: sou pobre. Ok, eu não moro debaixo do viaduto, não cato lixo, não peço esmolas e nem sou maltrapilho, mas me considero pobre porque assim como 99% da população, dependo do trabalho para sobreviver e minha renda nunca foi das melhores. Quem é rico de verdade vive de renda ou da exploração da mão de obra alheia. Então como não sou rico, cuidar da minha saúde acabou virando uma necessidade para eu ter o mínimo. Se eu não tenho grana, pelo menos vou ter saúde. Até aí tudo bem. O problema é que se as coisas continuarem nesta pegada, provavelmente irei caminhar para morrer de velhice, com uma aposentadoria ridícula e com uma sensação de que vivi uma vida monótona. E falando sério, não é bem isso que eu queria.

É dedo no toba e gritaria, porr@!

O que eu queria mesmo era fazer a roleta-russa da vida girar. Queria ter arriscado mais, queria ter experimentado mais, ter entrado em coma alcoólico, ter fumado até sentir os pulmões queimarem, ter transado com prostitutas sem camisinha, ter ido a festas suntuosas da elite, ter tido um carro superesportivo, ter saltado de paraquedas, ter ido a um luau em Búzios, ter passeado de esqui na Suíça, ter visto a Terra do espaço, ter postado fotos nas redes sociais de algum camarote VIP, ter tido um heliporto, poder entrar num supermercado e comprar o que quisesse sem olhar o preço de nada... A lista é longa. Talvez eu nem fosse um anticapitalista tão ferrenho. Ou podia nem ter tido nada disso, mas podia ter tido, pelo menos, o brilho nos olhos de felicidade de um catador que tinha muito menos do que eu. Enfim, sou daqueles que prefere ter um dia de rei ao invés de passar um século como um escravo. Afinal, que graça tem a vida se você não pode se sentir vivo?

Portanto, entre ser um pobretão com saúde e um rico doente, ficaria com a segunda opção. Afinal, o que é que o dinheiro não é capaz de fazer num mundo capitalista onde a tecnologia praticamente dobra a cada década?