Uma pesquisa da Fundação Perseu Abramo mostrou, em 2010, que cerca de 31% das mulheres brasileira se consideram feministas. Considerando os dados do IBGE de 2012, temos no Brasil aproximadamente 100 milhões de mulheres. Fazendo um cálculo rápido, concluímos que, em valores absolutos, temos mais ou menos 31 milhões de mulheres feministas no Brasil. Uau! Se você acha que isso é pouco, esse total é maior que a população inteira de países como Noruega, Suíça, Finlândia, Dinamarca, Uruguai e Nova Zelândia somados! É feminista pra mais de metro nesse trem, uai! Inclusive, houve um aumento de 10% de feministas entre 2001 e 2010 – e a tendência é que esses índices continuem aumentando graças à internet e à adesão popular a diversos protestos, como as Marchas das Vadias.
O número de feministas não para de crescer |
Nem tudo são flores...
A princípio, esse grande número de feministas pode parecer algo fantástico para quem deseja uma sociedade mais justa e igualitária – afinal de contas, o feminismo é o principal meio para combater o machismo, o patriarcado, a misoginia e a violência contra a mulher. Acontece que nem tudo são flores, pois todo movimento que cresce demais acaba lidando sempre com os mesmos problemas. E com o feminismo não é diferente. Movimentos que crescem demais acabam criando subdivisões internas entre os próprios integrantes, levando a desentendimentos, rivalidades, brigas, revanchismos, rupturas, radicalismos, fanatismos e perda do foco. Ainda que a maioria das feministas (especialmente as mais maduras) sejam coerentes, sempre há aquelas que perdem a noção e começam a confundir as coisas. E a ausência de uma liderança entre as feministas piora ainda mais a situação, porque cada uma decide por si o que é certo e o que é errado. Ao contrário do que algumas exaltadas pensam, o feminismo não é uma torcida organizada, não é uma seita e nem é um partido político: o feminismo é um movimento revolucionário cuja a ideologia almeja a igualdade entre os gêneros, simples assim.
Feministas radicais |
A não-adesão ao feminismo possui várias razões |
Aversão ao feminismo
Infelizmente, existe muito ódio desproporcional direcionado ao feminismo. Isso é algo que à primeira vista pode parecer um absurdo total, porque, como já citei em outras postagens, o feminismo luta contra o estupro, contra a violência doméstica, contra o feminicídio, contra a misoginia e contra as atrocidades do patriarcado. Então, pela lógica, todos deveriam apoiar o feminismo, afinal, ele é bom para todos por se opor a todos esses verdadeiros crimes contra a humanidade, sendo uma ideologia praticamente filantrópica. Eu vou tentar resumir a seguir porque, apesar disso, tanta gente se junta para atacar o feminismo com todas as armas e com toda força.
Os pelotões antifeministas
Se você se interessa por discussões de gênero, certamente já deve ter ouvido falar do termo "feminazi" por aí. Essa palavra foi criada de forma absolutamente preconceituosa por um reacionário americano que não vou dizer nem quem é para não dar fama ao infeliz. Essa mistura heterogênea de feminismo com nazismo foi atribuída injustamente pelo tal reacionário a mulheres que reclamavam de uma lei nos EUA que não cobria o uso de anticoncepcionais nos planos de saúde. Acontece que esse termo de origem reacionária viralizou e passou a ser usado indiscriminadamente contra qualquer feminista. Eu mesmo já usei esse termo aqui no blog, mas foi por uma causa justa, porque eu estava a me referir sobre coisas totalmente desajustadas, como a misandria, o revanchismo, o femismo, o feminismo separatista e o feminismo abolicionista. E sim: infelizmente há uma minoria de pessoas dentro do feminismo que não está lutando por igualdade – mas sim por desigualdade, violência, ódio e separatismo. Essas pseudo feministas, sim, eu abomino, porque além de deturparem o movimento, elas acabam fazendo com que as pessoas ganhem ainda mais antipatia pela ideologia. E muita gente concorda comigo nesse quesito, só que por não conhecerem o lado justo do feminismo, acabam ficando com raiva de todo o movimento, achando que toda feminista é misândrica. Surge então, a partir disso, o primeiro 'pelotão' antifeminista.
Como se não fosse o bastante aturar essas hordas de misândricas e revanchistas desequilibradas dentro do movimento feminista, ainda temos que aturar as doidas varridas pró-censura. Essas são aquelas desmioladas que ainda não tiraram as fraldas e acham que temos que proibir uma série de coisas para tornar o mundo "menos machista". Entre essas coisas que estão na lista de proibições delas estão, anote aí:
-o futebol (porque é um esporte monopolizado pelos homens)
-os videogames (por eles só terem jogos machistas)
-as bebidas alcoólicas (por elas serem associadas à violência doméstica)
-a pornografia (por explorar e objetificar as mulheres)
-a prostituição (pelas mesmas razões acima)
-a publicidade "sexista" (entenda por "sexista" qualquer coisa que as ofenda pessoalmente)
-o cavalheirismo (porque não sabem a diferença entre cavalheirismo e gentileza)
-a linguagem "sexista" (pois consideram que a língua portuguesa é machista nos plurais e nos xingamentos)
-os cumprimentos (pois consideram que beijar as mulheres ao invés de apertar as mãos delas é machismo)
-a sensualidade de mulheres magras na TV (porque objetifica sexualmente as mulheres que não são gordas)
-o Kinder Ovo (porque ele usa a cor para separar brinquedos de meninos e de meninas)
Diante dessas pérolas todas, a reação de muita gente que curte tudo isso é, adivinhe qual? Repudiar o feminismo! Ao invés dessas feministas proporem censuras e proibições, por que não falam de uma contraproposta? De uma reformulação? De mais opções? De mais liberdade? Será que proibir soluciona algo? Com raiva dessa gente, surge então um segundo pelotão antifeminista.
Antifeminista encurralado |
O que acontece no fim das contas é que esse povo todo do contra, que não vê com bons olhos o feminismo, acaba unindo as suas forças para difamar e atacar o feminismo como um todo. É por isso, entre outras coisas, que o feminismo é tão odiado. Esses três pelotões (e outros mais) estão dispostos a travar uma verdadeira guerra ideológica contra o feminismo. E o pior é que parte da culpa pela existência desses pelotões são de mulheres que se acham feministas e fazem todas essas cagadas citadas anteriormente. Eu não sei qual seria a solução para isso, mas se informar corretamente sobre as verdadeiras causas do movimento certamente já ajudaria. Não adianta muita coisa o movimento crescer se ele mesmo acaba contruibuindo para ser mal visto.
Tipos de feministas segundo os reacionários |
Minha postura diante do movimento
Eu já declarei em vários posts deste blog que sou igualitarista e, por tabela, também sou pró-feminismo, uma vez que o feminismo luta pela igualdade entre homens e mulheres. Não me considero feminista porque, como homem, não acho sensato protagonizar um movimento que tem as mulheres como foco (assim como acho que um muçulmano não deve protagonizar um movimento judaico, por exemplo). Creio que se dependesse apenas da boa vontade dos homens, as mulheres viveriam num mundo bem pior. Tirando a Campanha do Laço Branco, não me recordo de nenhum outro movimento de homens em defesa das mulheres. Por isso acho importante que as mulheres participem ativamente do movimento. Nós precisamos, sim, de mais feministas: mas de feministas conscientes. Digo conscientes porque se for depender de feminista imatura de rede social que acha que ser feminista é fazer topless numa passeada do Femen ou cantar "vou cortar sua pica", então a tendência é que as coisas piorem ao invés de melhorarem. Opiniões exacerbadas, tendenciosas ou agressivas em favor de qualquer ideologia sempre vai ser ruim. E se você acha que eu estou aqui, "cagando regra", lembre-se do que eu acabei de dizer: o protagonismo cabe às mulheres. Esse post propõe uma reflexão de quem acredita que o feminismo ainda é o melhor caminho para tonar o mundo mais justo para todos.