Uma das celebridades póstumas mais populares da internet atualmente, em especial nas redes sociais, é o ex-líder da União Soviética Joseph Stalin. Hoje vê-se Stalin em páginas políticas sérias, em páginas de humor, em caricaturas, em quadrinhos, em pop art, em memes, em músicas, em games e até em arte digital. Da mesma forma que a imagem de Che Guevara ganhou um status pop na nossa cultura por ter sido "apropriada" pelo capitalismo, o mesmo tem ocorrido de uns tempos para cá com a imagem de Stalin. Num dia desses, por exemplo, vi um sujeito no YouTube usando uma foto sorridente do Stalin como avatar e daí que o perguntaram se ele era stalinista. O jovem respondeu que nem sabia quem era Stalin ou o que foi o stalinismo e só usou a foto porque a achou "engraçada". Enfim, a verdade é que – tirando essa galerinha que usa memes e fotos do Stalin por estar seguindo a moda – a imagem do ex-líder soviético causa reações diversas nas pessoas devido ao seu impacto histórico como comandante mão de ferro da antiga URSS.
Os altos e baixos de Stalin
Stalin foi uma daquelas personalidades controversas que ou você ama, ou você odeia. Há quem o abomine inteiramente por considerá-lo um genocida, um psicopata, um deturpador de Marx e um inimigo do "socialismo real". E há quem o ame por seu carisma de ter sido o "pai dos povos" (culto à personalidade), por sua forte oposição aos latifundiários,
aos nazistas, aos fascistas e por seu pulso firme ao lidar com as adversidades. Durante seu governo, Stalin focou na industrialização rápida e na urbanização da URSS – além da coletivização forçada das grandes propriedades agrícolas: fato este que criou inimizade com os grandes proprietários (kulaks) e obrigou Stalin a persegui-los, mandando-os para os campos de trabalhos forçados. Essa opressão à propriedade privada, especificamente, causou uma grande antipatia por parte dos camponeses ricos e uma grande simpatia pelos bolcheviques radicais.
Daí para frente, começou a grande perseguição e matança com justificativas "patrióticas". Com a grande fome na Ucrânia (holodomor) como retaliação aos kulaks que não aceitaram a coletivização forçada daquele país e com o grande expurgo, muitas pessoas morreram por
fome, por pena capital, por trabalhar até a morte nos Gulags, por rebeldia, por suicídio, por guerras e por
perseguição política. Inclusive, havia uma certa paranoia na URSS onde
se preferia matar inocentes do que correr o risco de deixar um espião, kulak opositor ou
um inimigo suspeito vivo. Na dúvida, a condenação era a única certeza.
Esse processo de radicalização stalinista foi que gerou a frase polêmica da extrema-esquerda que está tão em moda, a tal "Stalin matou foi pouco". Essa frase trata-se de uma clara provocação (ou ironia) de grupos stalinistas tanto aos opositores de esquerda quanto à direita macarthista e latifundiária, sinalizando que a revolução rumo ao socialismo deve ser feita mesmo ao custo do sacrifício de muitas vidas. Há também os que defendem que Stalin matou realmente pouca gente em comparação com os números exorbitantes de mortes atribuídas a ele pela mídia burguesa. O fato é que nunca houve um consenso com relação a esses números, apesar de quase todos os historiadores considerarem que as mortes durante o período stalinista chegaram na casa dos milhões. Apesar da direita brasileira superestimar impunemente o número de mortes que houve durante o regime de Stalin, ela sabe bem que foi essa fama de tirano implacável que fez seus inimigos o temerem e o respeitarem. Com Stalin, não tinha chance alguma para burguês perpetuar desigualdades e viver de mais-valia. Nem mesmo os EUA ousaram desafiar diretamente a URSS de Stalin, apesar de reprovar inteiramente o seu regime e a sua conduta. O medo e a tensão foram sentimentos recorrentes durante o governo de Stalin para aqueles que não concordavam com seu regime.
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Meme muito usado nas redes sociais |
Stalin podia ter salvado o mundo do imperialismo
Apesar de muita gente duvidar, segundo grupos stalinistas, o mundo possivelmente seria todo socialista se Stalin tivesse governado até a crise dos mísseis cubanos. Isso porque se a crise dos mísseis com os EUA tivesse ocorrido durante o governo de Stalin, hoje os EUA seriam subordinados a URSS que, certamente, teria levado a melhor por ter mísseis nucleares mais sofisticados na época e por eles estarem estrategicamente mais bem posicionados. Porém, sem Stalin, a realidade foi outra. Nikita Khrushchev, o então líder da URSS durante a crise dos mísseis de Cuba, teve uma postura
de arregão diplomática – diferentemente da postura firme e agressiva de Stalin. Esta atitude "cautelosa" de Khrushchev, portanto, desagradou a muitos camaradas, o que contribuiu para a sua própria queda, para o acirramento da Guerra Fria e para a futura decadência da URSS durante o governo de Leonid Brezhnev. No fim das contas, a postura antistalinista adotada por Khrushchev acabou virando uma faca de dois gumes por, pelo lado bom, reduzir as violações dos direitos humanos e, pelo lado ruim, por criar divergências políticas no partido comunista que viriam a fragilizar o seu país. Isso, segundo alguns stalinistas, só serviu para mostrar a falta que Stalin fez. Mas isso é apenas um suposição, já que ninguém sabe se realmente Stalin estaria disposto a ir até as últimas consequências contra os EUA.
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Khrushchev paz e amor! |
Mas, enfim, essa glamourização e humorização de Stalin não significa que o número de stalinistas cresceu no mundo: significa apenas que Stalin está virando uma figura pop por ter sido um ícone polêmico do século XX: seja por ter sido muito odiado ou muito adorado. E num país como o Brasil, onde a cultura do autoritarismo sempre prevaleceu, um camarada como Stalin é um prato cheio para virar ídolo.
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Olha aí o que eu falei... |
Para terminar, um videozinho para descontrair: