domingo, 14 de fevereiro de 2021

O capitalismo desperta o que há de pior em nós


A classe média tem um caso de amor e ódio com os pobres. Isso porque a classe média precisa dos pobres para basicamente duas coisas. A primeira coisa é para mostrar que ela é "superior" aos pobres. Se você tem uma quitinete de 10m² alugada, um carro popular parcelado em 600 vezes e um PolyStation usado, então você já se considera superior aos pobres que moram num barraco de papelão e mal conseguem se alimentar com a renda que têm. A segunda razão pela qual a classe média precisa dos pobres é para mostrar uma pseudo empatia e uma bondade de fachada ao fazer atos de caridade ocasionais pelos mesmos na tentativa de "subornar" Deus com sua falsa preocupação com os mais humildes. Por outro lado, a classe média sente ódio dos pobres porque eles são a prova de que o capitalismo deu errado. Ora, se o capitalismo "deu certo" e é o sistema "menos mau" que existe, então como explicar que nesse mesmo capitalismo tenhamos tantos pobres, tantas crianças passando fome, tanta miséria, tantos moradores de rua? E nem adianta culpar as pessoas por suas próprias pobrezas, porque ninguém passa fome porque quer. 


O grande problema do capitalismo ao combater a desigualdade é que ele se foca em eliminar o pobre ao invés de eliminar a pobreza. A classe média sabe disso e, mesmo assim, age como carrasca dos reais donos do poder que olham para a classe média com o mesmo desdém e nojo que ela olha para os pobres.

Só que a desgraça não para por aí. As contradições do capitalismo são muitas. O racismo, o machismo e a homofobia também são agravados pelo sistema de hierarquização social presente no capitalismo. O homem branco hétero de classe média decadente encontra no racismo uma forma de se sentir superior ao negro, no machismo uma forma de se sentir superior à mulher e na homofobia uma forma de se sentir superior ao homossexual. O capitalismo desperta o que há de pior em nós, porque ele nos estimula a sermos excludentes, individualistas, egoístas, avarentos e soberbos. Somente sistemas que combatem essa estrutura de hierarquização social, como o anarquismo e o comunismo, é que podem nos dar uma esperança de acabar com todos esses preconceitos inúteis. 

Porém, o grande obstáculo para mudança não são nem os verdadeiros vilões (plutocracia e Estado burguês, no caso) que exploram, roubam e ainda alienam a classe média, nos colocando uns contra os outros. O grande empecilho para a mudança é a própria classe média reacionária que prefere pegar em armas para defender seus pequenos privilégios a ter que aceitar que só se muda o mundo para melhor quando ele for, de fato, melhor para TODOS, especialmente para os mais pobres. Aliás, pobres nem deviam existir, ou melhor: classes sociais não deviam existir. Mas haja consciência de classe e politização para a classe média entender isso...

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