domingo, 10 de julho de 2022

Vida eterna é algo inimaginável


Imagine que você fosse imortal. Mas não apenas isso: que você também nunca envelhecesse, nunca adoecesse e nunca sentisse dores crônicas. Adicione a isso também o fato de que as pessoas que você mais ama também fossem imortais nas mesmas condições e vivessem para sempre em um lugar lindo e paradisíaco. Bacana, né? Só que isso tudo tem um porém: mesmo imortal, você ainda seria humano. Você existiria para sempre com seus defeitos, limitações, manias e convicções. Será que você realmente se aguentaria por toda a eternidade? Mesmo que a sua vida fosse inteiramente prazerosa, engajada e cheia de significado, chegaria um momento que você começaria a perder a noção do tempo, a ter problemas de memória e a entrar, cada vez mais, num terrível estado de anedonia e de crise existencial. Afinal de contas, qual é o sentido de viver se tudo será sempre igual? Gostemos ou não, o fato é que o cérebro humano não evoluiu para vivermos por milhares de anos. O que dizer então de milhões, bilhões, trilhões de anos... e mesmo essas ordens de grandeza são infinitamente pequenas perto da eternidade que você estaria condenado a viver. A própria vida perderia o sentido e o que antes era alegria, depois se transformaria em agonia.

A eternidade é algo que podemos ver, mas não podemos compreender.

 

O único jeito de lidar com esse problema da vida eterna seria morrendo, ou, pelo menos, dando um reboot na nossa mente que reiniciasse a nossa memória do zero de tempos em tempos. E, honestamente falando, eu às vezes penso que é exatamente isso que acontece. Algumas religiões antigas, como o bramanismo, se fundamentam no ciclo sem fim de começos e recomeços por toda a eternidade. Pode parecer doideira, mas eu, você e todo mundo podemos ser, na verdade, um único ser vivo imortal e onipresente que consegue coexistir em várias mentes diferentes simultaneamente. É como se cada ser vivo do universo fosse um pixel pelo qual o ser vivo Cosmos enxerga a realidade como um todo. Podemos ser, como diz o hinuísmo, um sonho do deus Vishnu numa eterna dança cósmica de Shiva de desconstrução e reconstrução. Ainda mais se considerarmos que o universo pode estar em loop e como não sentimos o tempo passar quando estamos "mortos", então o intervalo entre você morrer em um universo anterior e nascer no seguinte se passa instantaneamente. Isso faz sentido quando paramos para pensar que "esperamos" pacientemente durante longos 13,7 bilhões de anos desde o Big Bang para nascermos. Só que 13,7 bilhões de anos – ou seja lá o tempo que fosse – daria no mesmo, porque quem não existe não sente o tempo passar.

O cosmo estaria realizando uma dança de Shiva?

 

Enfim, deixando as divagações espirituais de lado, o fato é que as pessoas enxergam a morte de maneira muito fatalista e pessimista no ocidente. A própria maneira como enxergamos a "morte programada" (suicídio e eutanásia) mostra como somos preconceituosos com o fim da vida. Tudo bem ficar triste com a perda, afinal, nunca mais veremos ao vivo a pessoa que faleceu. Mas a gente precisa aprender a ver a morte como algo bom: como o fechamento natural e necessário da vida. Havendo loop cósmico ou não, universos paralelos ou não, simulações de universos ou não; temos que entender que novas vidas só nascem quando vidas anteriores morrem. Ou será que você já se esqueceu que somos feitos de matéria orgânica reciclada de outros seres de vivos que morreram antes de nós? E seus átomos, acha que vieram de onde? Eles vieram de estrelas mortas há bilhões de anos. E mesmo muito tempo após a nossa morte, pode ter certeza que novas vidas surgirão das mesmas moléculas que eu, você e todo mundo somos feitos agora. Afinal, na natureza nada se perde, tudo se recicla. Ainda bem.

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