segunda-feira, 13 de novembro de 2023

Ser adolescente em 2003



Estive aqui a pensar com meus botões e acho que 2003 foi o último grande ano da minha vida. Foi naquele ano que ganhei meu primeiro PC, que consertei (eu mesmo) meus videogames (Mega Drive e Super Nintendo), que passei no vestibular, que consegui descolar meus primeiros trocados, que fiz meu primeiro curso de informática, que tive meu primeiro celular e que realmente comecei a me sentir adulto ao completar meus 20 aninhos de idade, marcando o fim da minha entediante adolescência. Este, portanto, será o último ano, cronologicamente falando, desta série de retrospectivas de cada ano que vivi desde 1986. Acho que não faria sentido escrever "Ser Adulto em 2004", até porque dali em diante, foi um ano pior que o outro e o sentimento de nostalgia simplesmente deixou de existir. Então vamos pegar carona na máquina do tempo deste bloguinho e relembrar como foi (o agora longínquo) ano de 2003 sob a minha perspectiva de adolescente.

Néstor Kirchner e Lula em encontro histórico.


Política
Desde 1999, com a eleição de Hugo Chávez na Venezuela, que a América do Sul passou por uma transformação à esquerda em resposta às políticas neoliberais fracassadas. Em 2003, nessa mesma onda, foi a vez de Luiz Inácio Lula da Silva assumir a presidência no Brasil e Néstor Kirchner assumir a presidência na Argentina. Posteriormente, tivemos também Evo Morales na Bolívia, José Mujica no Uruguai e mais outros que mostraram uma mudança na geopolítica da região. Enquanto isso, no Oriente Médio, os EUA iniciaram a Guerra do Iraque atrás de fantasiosas armas de destruição em massa do ex-ditador Saddam Hussein. Aquela guerra, no fim das contas, só serviu para bagunçar a região e aumentar inutilmente os gastos bélicos do Tio Sam. Mas tirando alguns conflitos mais isolados, como o Fevereiro Negro em La Paz, o conflito do Delta do Níger e a guerra civil no Nepal, 2003 foi um ano relativamente tranquilo.

Os ancestrais dos smartphones estavam chegando.


Tecnologia
Quem tinha um PC com gravador de CDs em 2003 fazia a festa, porque podia piratear à vontade qualquer coisa digital, já que as leis da época não penalizavam ninguém por isso. Daí que uma das coisas que mais vendiam nos camelódromos da vida eram justamente os CD-ROM com softwares e jogos pirateados, além dos CDs de áudio. Foi naquele ano que comecei a colecionar discos de vinil e a comprar revistas e livros nos sebos do centro da cidade. Também eram comuns aquelas revistas que vinham com CDs cheios de aplicativos freeware, emuladores e provedores inúteis de internet. Acho que só da AOL, eu devia ter uns dez ou mais. Foi a partir daquele ano que comecei a jogar pra valer emuladores de videogame, chegando a passar noites em claro com meus games favoritos. Os smartphones ainda não existiam, mas os tijolões da época já tinham tela colorida, acessavam a internet e alguns até tinham câmeras bastante toscas. Com relação aos PCs, estávamos na era dos AMD Athlon e dos Pentium 4, com a introdução dos Pentium M para os Notebooks. O sistema operacional que estava no auge foi o nostálgico Windows XP. Já a Apple lançava seus Powerbooks que se gabavam de serem "imunes a vírus".

Seu Creysson era muito punk aahahah!

Televisão
Se você viveu em 2003 e não ouviu falar do Seu Creysson do Casseta e Planeta, você certamente estava fora da Via Láctea. Seu Creysson foi um dos personagens mais icônicos do humorista Cláudio Manoel que fez tanto sucesso que chegou a lançar uma candidatura fake para presidência da república e um livro intitulado Vidia i Óbria. Mas nem só de Seu Creysson viveu a Rede Globo naquele ano. O Big Brother Brasil 3 foi um dos mais icônicos da história com participantes lendários como Dhomini, Harry Grossman, Sabrina Sato, Juliana Alves, Joseane, Alan e Jean Massumi. Falando de telenovelas, foi o ano de Kubanacan, Chocolate com Pimenta e Mulheres Apaixonadas que teve recordes de audiência. Teve também a estreia do Linha Direta Justiça e da 1ª temporada de Carga Pesada. Pela manhã, ainda passava a TV Globinho e eu não perdia um episódio da saga de Majin Boo em Dragon Ball Z.

Na Rede TV, eu me lembro das pegadinhas do João Kléber no Eu Vi na TV que apesar de serem forçadas e apelativas, me faziam dar boas risadas. Aquele foi também foi o ano de Estreia do Pânico na TV e eu confesso que nunca consegui gostar daquele programa. Já as demais emissoras da TV aberta tinham uma programação bem medíocre e repetitiva. Para mim, só se salvava o Show do Milhão do SBT.

Dois Matrix no mesmo ano para fechar a trilogia.


Cinema
Se tem uma coisa que foi fantástica em 2003 foram os filmes. Foi um ano com filmes muito bons. Lembro que eu tinha uma lista enorme com todos os filmes que queria assistir, mas como não tinha Netflix na época e eu também não tinha grana para alugar filmes em locadoras, a maioria dos grandes filmes daquele ano eu nem cheguei a assistir. Para ter uma ideia de como a coisa foi farta, vou deixar a seguir uma lista de alguns dos melhores filmes lançados naquele ano. A maioria deles envelheceu muito bem, diga-se de passagem:

O Exterminador do Futuro 3 - A Rebelião das Máquinas
Piratas do Caribe - A Maldição do Pérola Negra
Senhor dos Anéis - O Retorno do Rei
Matrix Reloaded
Matrix Revolutions
Animatrix
Mestre dos Mares
O Último Samurai
Kill Bill - Volume 1
O Massacre da Serra Elétrica
O Núcleo - Missão ao Centro da Terra
X-Men 2
Sobre Meninos e Lobos
Alguém tem que Ceder
Lágrimas do Sol
Diários de Motocicleta
Tomb Raider - A Origem da Vida
Todo Poderoso
Escola de Rock
21 Gramas
Violação de Conduta
Todo Mundo em Pânico 3
Peter Pan
Procurando Nemo
Lisbela e o Prisioneiro
O Homem que Copiava
Carandiru
Os Normais - O Filme

O meu Need For Speed favorito.


Games
2003 foi um dos anos que mais joguei videogame na vida. Quando não estava em casa jogando Mega Drive e Super Nintendo, estava na locadora perto da minha casa jogando Xbox e PlayStation 2. Fora os emuladores que eu jogava no PC. Naquele ano, tivemos o lançamento do Game Boy Advance SP que foi meu sonho de consumo durante anos. Pena que nunca tive nenhum videogame portátil. Com relação a títulos, 2003 nos trouxe alguns clássicos como:

Need For Speed Underground
Sonic Heroes
Devil May Cry 2
Silent Hill 3
Mario Kart Double Slash
Call of Duty
Max Payne 2
Postal 2
Tomb Raider Angel of Darkness

Tô nem aí pra quem curtia isso.


Música
Se tem uma coisa que não me agradou naquele ano foram as músicas. Foi muito lixo tocando nas rádios. Os destaques da época eram KLB, Kelly Key, Wanessa Camargo, Felipe Dylon, LS Jack e o sofrível Bonde do Tigrão. O destaque maior na mídia foi para o MC Serginho que estourou com Eguinha Pocotó e o Vai Lacraia. De destaque positivo mesmo, só o Acústico MTV do Charlie Brown Jr. que foi considerado um dos melhores acústicos até hoje. O que salvou o ano foi a canção póstuma do Renato Russo "Mais uma Vez" que, diga-se passagem, é uma bela canção motivacional. Já na gringa estouravam sucessos de Linkin Park, Avril Lavigne, Christina Aguilera, Evanescence e Jennifer Lopez. Eu detestava tudo isso e só escutava músicas lançadas dos anos 90 para trás. Canções essas que eram baixadas por aplicativos como o Kazaa e o eMule, já que não existiam nem YouTube e nem serviços de streaming de música.

O ano foi da Raposa.


Esportes
2003 foi o primeiro ano da Série A do Brasileirão por pontos corridos, onde o Cruzeiro, sob o comando de Vanderlei Luxemburgo, venceu absoluto com 100 pontos, conquistando a lendária tríplice coroa daquele ano. Também foi o ano do Pan-Americano realizado na República Dominicana, onde o Brasil terminou em quarto lugar com 29 medalhas de ouro. Naquele ano teve a Copa das Confederações da França em que a própria França venceu. O Brasil até participou do torneio, mas foi eliminado na fase de grupos após perder para Camarões e empatar com a Turquia.

Enfim, termina aqui a retrospectiva do último ano desta série. Se eu voltar a escrever algum post da série "Ser Criança/Adolescente em", será sobre algum ano da década de 1980 que eu não tenha escrito ainda ou sobre o ano de 1994 que escrevi de forma muito corrida e resumida. Como citei na introdução do post, não faz sentido escrever sobre os anos posteriores a 2003, porque eles não me trazem nenhuma nostalgia, além de serem muito parecidos entre si. Fora que eu já era adulto e o intuito desta série é relatar como era a minha visão de criança e adolescente de cada período.

Para quem quiser saber como foram os outros anos, vou deixar a lista completa abaixo. Só é clicar e ser levado diretamente no tempo para o ano escolhido.

Ser criança em 1986
Ser criança em 1988
Ser criança em 1990
Ser criança em 1991
Ser criança em 1992
Ser criança em 1993
Ser criança em 1994
Ser criança em 1995
Ser criança em 1996
Ser criança em 1997
Ser criança em 1998
Ser adolescente em 1999
Ser adolescente em 2000
Ser adolescente em 2001
Ser adolescente em 2002

Um comentário:

  1. Você ainda acredita nesse absurdo que a nossa sociedade- que não cabe em si de tão feminista- não é?

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