Ok, ok: eu sei que esse assunto já encheu o saco e que ninguém mais aguenta ouvir falar dele aqui no blog – acontece que eu cometi uma generalização em algumas postagens mais antigas ao alegar que a maioria das feministas são contra a pornografia. Na verdade, a opinião a respeito da pornografia varia de feminista para feminista: algumas são contra, outras são a favor e outras gostariam que houvesse uma pornografia mais voltada para o público feminino. A seguir, vou explicar melhor cada caso.
Breve introdução
Ser feminista é ser a favor da igualdade entre homens e mulheres, ponto. Qualquer outra opinião além disso não é feminismo. Ser a favor de direitos iguais não torna ninguém igual a ninguém com relação a outras formas de pensar, afinal, o feminismo não é (ou não deveria ser) uma religião onde se compram ideologias prontas para todo mundo pensar igual sobre todos os assuntos. Com relação à pornografia não é diferente, pois notei que há predominantemente três opiniões distintas que as feministas costumam ter a respeito dela, que são:
1-Feministas contrárias à pornografia
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Vamos censurar estátuas? |
A este grupo pertencem as intransigentes que querem banir a pornografia do mundo baseadas em preconceitos morais e em
wishful thinking. As radicais desse grupo acham que a pornografia não passa de "cultura do estupro", que as mulheres são "objetificadas", que o sexo pornográfico é "uma violência e uma exploração contra as pobres mulheres", que o sexo é "misógino" e mais uma dúzia de argumentos do gênero. Não raro, elas usam o site
Pink Cross Foundation e os livros da Andrea Dowrkin como referências para tentar censurar e proibir o que não as convém. Geralmente, elas acham que a pornografia só se limita ao mais podre e machista do
mainstream.
Porém, essas feministas se esquecem que não há apenas um único tipo de
pornografia no mundo. Há, inclusive, pornôs direcionados exclusivamente
para o público feminino. Isso sem falar dos filmes que não são pornográficos e mesmo assim têm cenas de sexo explícito – além dos casais amadores que filmam suas transas e colocam na web.
O universo da pornografia é muito maior do que sonha o nosso vão moralismo.
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Azul é a cor mais quente: vale banir? |
Além de todo o discurso moralista, essas radicais se esquecem que a pornografia envolve algo chamado
sexo consensual entre adultos.
Para quem não sabe, o sexo consensual não é crime. Portanto, faz sexo quem gosta e ganha dinheiro com sexo quem quer. Se não gosta, então vá se celibatar e seja feliz na castidade ao invés de condenar quem transa ou quem gosta de filmar suas transas.
Sobre a questão feminina:
quem somos nós para dizer o que uma mulher pode ou não fazer com a sua própria sexualidade? Se ela quer fazer um filme erótico e ganhar uma grana com isso, o problema é dela e não meu ou seu. Mas se você acha o sexo uma coisa "agressiva" e que as mulheres agora devem virar 'bonequinhas de louça' para não se submeterem a essa "violência", então faça um favor para a humanidade:
se mude para Júpiter! É por tudo isso que eu acredito que essas militantes antipornografia, na verdade, têm algum trauma sexual para ver violência e estupro em tudo. Essas "feministas" são, na verdade, machistas enrustidas que tem algum grau avançado de falofobia.
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Dirty Girls Ministries: mulheres contra a pornografia para mulheres |
2-Feministas a favor de uma pornografia mais "feminina"
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Pornô para meninas |
Muita gente não gosta de pornografia por uma série de razões e isso é algo absolutamente natural e compreensível. Mas será que essas pessoas não gostam mesmo de nenhum tipo de pornografia? Pois bem, esse grupo de feministas aqui, diferentemente da turminha moralista acima, percebeu que além do
mainstream há também BDSM, sadomasoquismo, pornô amador e o tal pornô feminino.
Sim, pornô feminino! Diversas produtoras descobriram que há um público feminino que adora ver (ou ler) sacanagem, mas sob uma ótica mais feminina e com ângulos diferentes das produções voltadas para o público masculino. Filmes pornôs voltados para as mulheres também fazem sucesso, recebendo diversas premiações e o mais importante:
a aprovação do público. Então a ideia de banir e condenar toda forma de pornografia – tão defendida entre as papa-hóstias leitoras de Dworkin – não possui qualquer sentido, afinal, sexo é bom e todo mundo gosta (ou pelo menos deveria gostar). Qual é o problema de ter um prazer voyeur ou de ser livre para trabalhar e enriquecer com o sexo?
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Cabaret Desire: Pornô feminino dirigido pela feminista Erika Lust |
3-Feministas que têm uma visão relax com relação à pornografia
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Safadeza não tem gênero |
Essas são as feministas mais 'mente aberta', na minha opinião, pois elas não encaram o sexo com tabus ou divisões de gênero e nem acham que toda pornografia é um "estupro filmado". Essa turma entende que não existe "sexo feito para meninas" e nem "sexo feito para meninos", afinal, sexo é uma coisa só. Esses padrões normativos de gênero dentro da esfera sexual são, na verdade, um tipo de sexismo muito infantil que acaba inibindo certas fantasias por elas não serem "adequadas" para um gênero específico. Enfim, essas feministas além de encararem a pornografia como algo natural e até excitante, entendem que o comportamento sexual humano é muito complexo para ser rotulado por gênero. Encarar a pornografia de forma natural é sinal de maturidade: já encarar com histeria e sede de censura é sinal de frigidez, burrice e fanatismo religioso.
Sobre isso, o site
Thinkolga (que é um site feminista por excelência) mostrou uma entrevista com o ator pornô James Deen onde ele disse acreditar que a expressão "pornô para mulheres" só reforça os estereótipos de gênero. Vou deixar o trecho da fala de Deen logo a seguir para que cada um tire as suas próprias conclusões:
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James Deen dá a dica: |
“Minha teoria sobre pornô para mulheres é que é só pornô. Por que há pornô declaradamente dedicado a mulheres? Ao dizer que é necessário existir um gênero de pornografia exclusivo para mulheres, você basicamente isola as mulheres como um gênero, e diz ‘É assim que as mulheres devem pensar, é assim que a sexualidade delas deve ser.’ É contraprodutivo, da maneira que eu entendo, ao movimento de igualdade. Quem disse que a visão de uma única mulher sobre a sexualidade é o jeito certo de pensar? Uma mulher pode gostar de ver um filme com uma produção incrível e cenas de sexo bem filmadas. Outra pode gostar de BDSM com tapas e degradação – e nada disso é certo ou errado. Pornografia é feita para que pessoas descubram o que gostam, o que as deixa com tesão. Não há pesquisas de mercado sobre isso porque a sexualidade está sempre se desenvolvendo, crescendo e evoluindo. Você poderia falar com um milhão de pessoas sobre o que elas gostam em um pornô, e você iria obter um milhão de respostas diferentes sobre o que aquelas pessoas gostariam de ver em um pornô naquele determinado momento.”
Se o James Deen falou, quem sou eu para discordar?