Para surpresa de ninguém, a pesquisa da Genial/Quaest divulgada ontem apontou que 64% dos moradores do estado do Rio de Janeiro APROVARAM a chacina que deixou mais de 120 mortos. Além disso, 58% dessa mesma população considerou o banho de sangue um "sucesso". Uma pesquisa do Datafolha também divulgada ontem mostrou que a gestão do governador Cláudio Castro (PL) atingiu o seu pico de aprovação desde 2022 na região metropolitana do Rio. Esses números mostram claramente duas coisas: a primeira é que só tem palhaço quando tem plateia. Ou seja: Cláudio Castro não foi eleito no primeiro turno por acidente em um estado que projetou a familícia Bolsonaro nacionalmente. A segunda coisa é que, sim, esta operação nos complexos da Penha e do Alemão teve claramente uma finalidade eleitoral, principalmente, para angariar os votos da classe média fascitoide fluminense que acha que bandido bom é bandido morto. Um governador que foi indiciado por corrupção e peculato continuará a ter foro privilegiado caso se eleja senador no ano que vem, fugindo da justiça.
Contudo, contrariando o que essa maioria sanguinária e burra do RJ disse nas pesquisas, é bom que se diga que essa operação genocida não foi sucesso p0rr4 nenhuma. Mesmo que todos os mortos tivessem sido bandidos, no dia seguinte à chacina, eles seriam todos substituídos, porque o tráfico tem alta rotatividade. As armas apreendidas não representam nem 10% das armas dos Comando Vermelho nos morros. Para uma operação dessa ter dado minimamente certo, teriam que enfraquecer o tráfico de cima para baixo, sufocando-o financeiramente e logisticamente. E aí, sim, com uma mega operação que trouxesse o risco mínimo de baixas policiais, isso poderia ser tentado. E após invadir, teriam que ocupar e permanecer lá como fizeram com as UPPs. Do contrário, ou os traficantes mortos seriam substituídos, ou perderiam espaço para facções rivais ou o morro seria tomado pelas milícias. Claro que a efetividade dessas UPPs são muito discutíveis, mas ao menos não seria essa enxugação de gelo sanguinária que só serviu para empilhar corpos de pretos e pobres. O problema do RJ é que eles colocam bandidos eleitos para combater os bandidos pobres do morro. Enquanto isso, os verdadeiros chefões do crime organizado estão comendo do bom e do melhor enquanto o povo morre debaixo de bala nessa guerrilha urbana.
O que mais me incomoda nisso tudo é como que num país de maioria cristã temos paradoxalmente também uma maioria que apoia uma chacina horrível dessa. Como a maior chacina da história da nossa democracia foi considerada um SUCESSO por "cidadãos de bem" e "tementes a Deus"? Eu entendo a sensação de insegurança pública que há no Rio e o medo da violência, mas chacina NÃO é a solução. Não entendo de jeito nenhum esse duplipensar dos papa-hóstias que usam o intestino como o primeiro cérebro. Sempre achei que "não matarás" e "amar o próximo como a ti mesmo" eram mandamentos bíblicos. Mas parece que eu estava enganado. Que falta que faz a teologia da libertação...
