segunda-feira, 29 de outubro de 2018

Perfeição


Não estou com tempo hoje para comentar sobre o resultado das eleições, por isso, vou deixar uma música da Legião Urbana que parece ter sido escrita há cinco minutos atrás como reflexão. Pense com carinho sobre cada palavra da letra dessa música:


Perfeição
Vamos celebrar a estupidez humana
A estupidez de todas as nações
O meu país e sua corja de assassinos covardes
Estupradores e ladrões

Vamos celebrar a estupidez do povo
Nossa polícia e televisão
Vamos celebrar nosso governo
E nosso estado que não é nação

Celebrar a juventude sem escola, as crianças mortas
Celebrar nossa desunião
Vamos celebrar Eros e Thanatos
Persephone e Hades
Vamos celebrar nossa tristeza
Vamos celebrar nossa vaidade

Vamos comemorar como idiotas
A cada fevereiro e feriado
Todos os mortos nas estradas
Os mortos por falta de hospitais

Vamos celebrar nossa justiça
A ganância e a difamação
Vamos celebrar os preconceitos
O voto dos analfabetos

Comemorar a água podre e todos os impostos
Queimadas, mentiras e sequestros
Nosso castelo de cartas marcadas
O trabalho escravo, nosso pequeno universo
Toda a hipocrisia e toda a afetação
Todo roubo e toda indiferença
Vamos celebrar epidemias
É a festa da torcida campeã

Vamos celebrar a fome
Não ter a quem ouvir, não se ter a quem amar
Vamos alimentar o que é maldade
Vamos machucar o coração

Vamos celebrar nossa bandeira
Nosso passado de absurdos gloriosos
Tudo que é gratuito e feio
Tudo o que é normal
Vamos cantar juntos o hino nacional
A lágrima é verdadeira
Vamos celebrar nossa saudade
E comemorar a nossa solidão

Vamos festejar a inveja
A intolerância, a incompreensão
Vamos festejar a violência
E esquecer a nossa gente
Que trabalhou honestamente a vida inteira
E agora não tem mais direito a nada

Vamos celebrar a aberração
De toda a nossa falta de bom senso
Nosso descaso por educação
Vamos celebrar o horror de tudo isto
Com festa, velório e caixão
Está tudo morto e enterrado agora
Já que também podemos celebrar
A estupidez de quem cantou essa canção

Venha!
Meu coração está com pressa
Quando a esperança está dispersa
Só a verdade me liberta
Chega de maldade e ilusão

Venha!
O amor tem sempre a porta aberta
E vem chegando a primavera
Nosso futuro recomeça
Venha que o que vem é perfeição.


E, para terminar, o trecho final de Metal Contra As Nuvens, como foi cantado no álbum ao vivo, é uma verdadeira lição para o momento que estamos vivendo:

"E nossa história não estará pelo avesso
Assim, sem final feliz
Teremos coisas bonitas pra contar

E até lá, vamos viver
Temos muito ainda por fazer
Não olhe pra trás
Apenas começamos
O mundo começa agora
Apenas começamos"

sábado, 27 de outubro de 2018

Heil Bolsonaro


Muita gente que vai votar no candidato da extrema-direita Jair Bolsonaro considera que suas frases extremistas não passam de "blefe". Antes da Alemanha tornar-se nazista também se achava que o discurso pernicioso de Adolf Hitler não era uma ameaça real e aí deu no que deu. Com toda a repulsa que hoje o mundo pós-guerra tem do Führer, sabemos que ao menos ele tentava manter uma aparência de civilidade. Hitler não fazia apologia à tortura e nem homenageava torturadores. Hitler tinha consideração pelos alemães, chegando ao ponto de considerá-los superiores racialmente. Mas esse tipo de coisa não se vê no Bolsonaro. Jair Bolsonaro não tem a civilidade e nem o carisma do líder nazista. Ele enxerga o próprio povo brasileiro como um aglomerado de vira-latas e despreza sem pudores quilombolas, indígenas e até mulheres. O economista maluco dele defende a venda de todo o patrimônio público, porque somos, segundo o viralatismo da nossa cultura, incompetentes e corruptos demais para gerir o que é nosso. Ou seja: Bolsonaro não tem respeito nem pela própria pátria. Apesar de usar o mesmo slogan de Hitler em sua campanha, ele consegue ser ainda pior que o próprio Führer.


Mesmo que as promessas extremistas do Bolsonaro não sejam concretizadas (de eliminar os vermelhos, minorias e vagabundos), o discurso de ódio cultivado por ele há anos já contaminou a sociedade. Se ele não fizer as monstruosidades que defende impunemente, os seguidores fanáticos dele farão – como, aliás, já começaram a fazer. Uma espécie de turbilhão nazista tomou conta da população graças às mentiras proliferadas criminosamente nas redes sociais e, por conta disso, estamos deixando de lado um projeto de governo baseado no desenvolvimento socioeconômico para abraçar um neofascismo sem projeto de nação. E com esse judiciário acovardado, certamente muitas ações violentas que ocorrerão serão relativizadas ou ficarão impunes.


Num post passado, eu mostrei as características fascistas de Jair Bolsonaro e seus riscos. A imprensa internacional em peso também está alertando há bastante tempo do risco desse sujeito causar uma tragédia política para o país. Estamos correndo o risco de invadir a Venezuela, de cair numa grande instabilidade econômica e de aumentar o genocídio de negros, índios e pobres. Nem a extrema-direita europeia gosta do Bolsonaro (vide Le Pen), porque ele é troglodita demais e radical demais até para um Adolf Hitler. O mais triste de imaginar é que tínhamos a possibilidade de escolher algo diferente dele, mas muitos optaram em não fazer isso. Sabe-se lá o custo que isso terá para os brasileiros e para a humanidade. Depois não digam que eu não avisei...


sexta-feira, 26 de outubro de 2018

O que leva um cristão a votar no Bolsonaro?


Ao olhar para as pesquisas de intenção de voto deste segundo turno, eu sou coagido a concluir que muitos cristãos nunca leram a Bíblia que eles mesmos dizem seguir. Jesus Cristo sempre defendeu o perdão, o amor, a doação, o respeito, a tolerância, a compaixão... E aí vem esses cristãos de hoje votar num sujeito que defende armas, tortura, pena de morte, guerra civil, preconceito, violência... Onde fica o quinto mandamento nessa história? Onde fica o "oferecer a outra face"? Onde fica o "amar o próximo como a ti mesmo"? Onde fica o exemplo de Jesus que andou com os oprimidos e excluídos? Se Jesus fosse brasileiro, será mesmo que ele apoiaria alguém que ao invés de oferecer solidariedade oferece ódio e brutalidade? Não sei o que leva um cristão a votar no Bolsonaro. O que sei é que parece que estamos bem próximos do apocalipse bíblico...





quinta-feira, 25 de outubro de 2018

Você sabe o que é fascismo e como identificá-lo?


Como estamos na reta final das eleições e muita gente não está percebendo o risco que estamos correndo diante de uma ameaça fascista, vou deixar desenhado a seguir, de forma bem objetiva e didática, as principais características do fascismo. Leia com calma e reflita. Se ficar difícil de entender mesmo assim, os dois vídeos no final tirarão as suas dúvidas.


























quarta-feira, 24 de outubro de 2018

A intolerância não nos trará um país melhor


Por mais que eu alerte às pessoas que o candidato da extrema-direita Jair Bolsonaro seja uma ameaça tanto para as pessoas quanto para as instituições, parece que a ficha não cai para muita gente. Eu respeito o seu direito de votar em quem quiser, porque o importante é que cada um de nós vote com a consciência limpa de que fizemos a melhor escolha possível para o país e para os brasileiros, sejam eles de que classe, cor, gênero ou orientação sexual sejam. Mas antes que decida o seu voto de modo monástico, convido-lhe a assistir a dois vídeos que me tocaram profundamente. Esses vídeos mostram que as palavras tem o poder de machucar muito mais que qualquer golpe físico.

Se você não se emocionar com estes vídeos a seguir, desculpe a minha sinceridade, mas o seu lado humano está morto. Não acho que alguém que tenha empatia consiga apoiar alguém que promove a intolerância, a violência e o ódio contra outros seres humanos. Muito pior que corrupção, falso moralismo e falta de autocrítica é achar que mudando o mundo para pior seremos mais felizes.




segunda-feira, 22 de outubro de 2018

Ele não é a melhor opção para o Brasil


Ao conversar com várias pessoas mais escoladas que eu em análise política, cheguei a uma conclusão preocupante sobre o futuro do nosso país. A conclusão é que, numa linguagem mais metafórica, se correr o bicho pega, se ficar o bicho come. O Brasil provavelmente elegerá pela primeira vez em sua história um tirano fascista que não gosta nem de democracia e nem de minorias. Por outro lado, se Fernando Haddad conseguir a façanha de vencer essas eleições, certamente tomará um Golpe bem no início do seu mandato. Há quem preveja que se o governo Haddad durar dois meses é muito. Haddad não tem apoio do congresso mais reacionário da história, não tem apoio da plutocracia, não tem apoio da imprensa golpista e muito menos das neopentecostais. E depois da criação da Comissão da Verdade, a parte mais reacionária das Forças Armadas se enfezou de vez contra Lula e contra o PT. Seria muito ingênuo acreditar que após depor a presidenta Dilma e depois de prender o Lula, a burguesia deixaria Haddad ser presidente para reverter todas as reformas neoliberais.
O que vai acontecer em qualquer situação é que o Brasil continuará a ser governado por uma junta militar encabeçada pela cúpula de oficiais das Forças Armadas. O atual presidente Michel Temer só continua no cargo porque deve ter feito algum grande acordo nacional com Supremo com tudo para não ser deposto da presidência à força. E o preço a pagar foi realocar os militares no governo. Enfim, o fato é que estamos caminhando a passos largos rumo a um novo autoritarismo controlado pela elite direitista e pelo generalato.

Será que um candidato apoiado pela KKK merece respeito?

É claro que – independentemente do futuro resultado das eleições – qualquer pessoa minimamente comprometida com a democracia e com o povo tem a obrigação cívica de votar no Fernando Haddad, afinal, nada justifica anular o voto ou votar em branco em um cenário de extrema ameaça às conquistas sociais como a qual estamos vivendo. E mesmo que exista uma grande chance de Haddad ser deposto em caso de vitória, é importante não dar qualquer chance ao fascismo, porque isso legitimaria uma verdadeira selvageria nas ruas contra minorias e grupos opositores. A derrota de Bolsonaro seria uma derrota moral para a intolerância, para o ódio e para a violência.
Só que para haver alguma chance do Coiso não vencer as eleições será preciso uma grande mobilização popular e também reverter uma grande quantidade de votos das pessoas mais pobres (dos evangélicos sobretudo) para o PT. A maioria das pessoas que votam no Bolsonaro não é fascista, porque muitos foram enganados pelas fake news de Whatsapp e ainda não descobriram que tudo aquilo que compartilharam é mentira. Desmentir essa história de mamadeiras eróticas, de kit gay e do Brasil virar uma Venezuela é obrigatório. E o melhor jeito de desmentir tudo isso é justamente explicando que a campanha do Bolsonaro usou dinheiro irregular não declarado (o tal Caixa 2) para disseminar fake news em massa contra o Haddad através de empresas especializadas em criação e propagação de boatos. As pessoas precisam saber que elas foram enganadas por um sujeito que tem medo de debates e cujo plano de governo é todo fundamentado em tudo que Temer fez só que piorado por trazer ingredientes perigosos de autoritarismo. As pessoas precisam entender que esta não é uma eleição normal como as outras. A escolha que temos agora é entre a civilização e a barbárie: entre a democracia e a ditadura. Eu sei que é difícil para muita gente votar no PT, mas quase ninguém vota no segundo turno por afinidades a um partido ou candidato: votamos geralmente no menos pior. E essa é a única maneira de se evitar um governo que vai governar exclusivamente para os ricos e que vai tirar todos os nossos direitos.


O risco de uma nova ditadura está se tornando cada vez maior com toda essa conjuntura – e colocar um aspirante a Mussolini no Palácio do Planalto através do voto é retornar aos anos mais sombrios da nossa história. O General Mourão já falou em "autogolpe" e até numa nova Constituinte SEM participação popular. A imprensa internacional está denunciando em peso o risco de termos um psicopata no cargo mais alto de poder do país. Para se ter uma ideia da gravidade do que estamos vivendo, estamos correndo o risco até mesmo de declarar guerra contra a Venezuela caso Bolsonaro seja eleito. Será que você que tem até 29 anos de idade está interessado em arriscar sua vida para matar venezuelanos que vivem numa sinuca de bico entre o governo nacionalista de Maduro e o neoliberalismo imperialista da oposição? Acorde enquanto há tempo.


sexta-feira, 19 de outubro de 2018

O risco que Bolsonaro representa para a economia


Conversando ontem com um colega no Facebook, eu cheguei à conclusão que a maior ameaça que Bolsonaro representa não é nem de dar um golpe de Estado e nem é também de virar uma espécie de Hitlerzinho tropical que dizimará minorias. O grande perigo do Jair Bolsonaro reside na sua total incapacidade de gerir as finanças do nosso país. Após assistir suas entrevistas, seus poucos debates, ler seu plano de governo e ver o seu guia eleitoral, fica muito claro que Bolsonaro não entende quase nada de economia e ainda por cima é um ingênuo total por confiar num pseudo liberal como o economista Paulo Guedes. Bolsonaro não tem ideia do que é o tripé macroeconômico, não tem propostas para a expansão do crédito, não sabe como lidar com a inflação, não conhece o orçamento público, não tem nem a mais vaga noção da roubalheira que envolve a dívida pública e acha que empregos surgem do nada após "desburocratizar" o mercado. Isso sem mencionar no risco do corte do 13º salário, na extinção do que restou da CLT e no aumento da carga tributária para os mais pobres. Se duvida do que eu estou expondo, olhe só a vergonha alheia que o "mito" causa ao tentar responder uma pergunta simples num dos raros debates que participou:


É preciso alertar à população sobre os riscos que estamos correndo neste sentido. É um disparate achar que um apedeuta como o Bolsonaro vai consertar as finanças do país. O povo, infelizmente, só vai perceber a tragédia que é um Bolsonaro quando sentir no bolso o preço altíssimo de ter votado em alguém incapaz de lidar com as questões econômicas. O aumento do desemprego, a diminuição da renda média do trabalhador e o descontrole da política cambial são ingredientes preponderantes para uma crise pior do que a que já estamos. Historiadores, economistas, sociólogos, cientistas políticos e até a imprensa do mundo inteiro estão alertando do risco que é para a economia do país ter um sujeito que demonstra claro despreparo para administrar as contas públicas. Se você prestar bem atenção, vai perceber que o discurso do "mito" se baseia mais no antipetismo, no politicamente incorreto e no autoritarismo. Não há, de fato, um projeto de nação nas falas de Jair Bolsonaro.


Para quem está em dúvida sobre em quem votar ou estiver duvidando de tudo que estou alertando, recomendo o site Tô Indeciso, onde as propostas de Bolsonaro e Haddad são colocadas lado a lado para serem comparadas. Lá é possível ver que muitas propostas do Jair Bolsonaro são fora da realidade ou inexistentes. Não que o programa de governo do PT seja uma maravilha, até porque também há pontos em que discordo, mas comparando as propostas dos dois presidenciáveis, parece que estamos tratando de países diferentes para cada candidato.


E o risco de uma ditadura?
O Brasil se encontra imerso num Golpe de Estado desde 2016. Mas assim como foi em 1964, os primeiros anos do golpe não foram violentos. Havia uma aparência de normalidade democrática até o final de 1968 quando foi decretado o AI-5. O risco que estamos correndo hoje é parecido, porque os militares estão se infiltrando cada vez mais no poder e fazendo uma espécie de monitoramento da democracia. Honestamente falando, eu não acredito que Bolsonaro vá dar um golpe e fechar o Congresso como ele mesmo sugeriu certa vez, porque ele não possui o apoio de setores fundamentais da sociedade para a consolidação de uma ditadura, que são: a elite econômica (plutocracia), a imprensa oligárquica, as Forças Armadas e as igrejas. Apesar de uma parte da imprensa, da plutocracia, das igrejas e das Forças Armadas estar do lado dele, não há um consenso hegemônico para tal. Fora que o Bolsonaro é um sujeito com condições intelectuais limitadas e muito instável a nível de comportamento.

O risco de uma ditadura ocorrer é maior se o vice dele assumir, porque ele, sim, é um sujeito perigoso, ardiloso e influente dentro das Forças Armadas. Sem falar que o próprio Gal. Mourão falou na possibilidade de um "autogolpe". Se a maior parte da cúpula das Forças Armadas comprar o discurso dele, aí, sim, há um risco iminente de uma ruptura profunda da ordem democrática. Seria uma tragédia para o país cair numa terceira ditadura. E muito pior que o Estado Novo e o regime militar de 1964, uma ditadura em tempos de internet daria o controle total ao regime, porque através da internet é possível espionar todo mundo e violar a privacidade a níveis incomensuráveis. Internet livre, neste cenário, só existiria na deep web ou fora do país.
Mas o pior de tudo é que mesmo uma vitória de Fernando Haddad não garantiria coisa alguma, uma vez que Bolsonaro e seus minions não aceitariam o resultado das urnas e seria um caos. É por isso que eu recomendo que quem puder deixe o Brasil enquanto é tempo, porque o futuro deste país me parece muito perturbador.


A seguir, deixo um vídeo de Portugal onde vários comentaristas de várias visões políticas diferentes analisam os riscos intrínsecos de uma eleição do candidato da extrema-direita aqui no Brasil:

quarta-feira, 17 de outubro de 2018

O Brasil tem um enorme passado pela frente


Parece insanidade alertar sobre isso, mas as pessoas não estão percebendo que elas estão colocando um governo militar no poder através do voto. E esse governo militar encabeçado por Bolsonaro e Mourão vai seguir o mesmo plano de governo da ditadura só que sem a ditadura. Teremos uma espécie de "ditadura democrática" com censura democrática, repressão democrática, prisão política democrática, tortura democrática, assassinato democrático... Como já dizia um irônico colega meu: "vai ser uma marravilha". Não é porque não teremos os Atos Institucionais que não estaremos sob um regime que viole a Constituição, até porque a Constituição Federal já foi pro saco desde 2016. O judiciário está partidarizado, Lula foi preso por um triplex que não é dele para não virar presidente e o Estado brasileiro está sob a tutela dos militares desde a deposição de Dilma Rousseff. O cenário que eu vejo é de um retrocesso político e social de mais de 30 anos. E se você acha tudo isso um "exagero", basta ver as declarações de Bolsonaro onde ele mostra seu total desprezo pela democracia e admiração pelo regime militar e seus torturadores.

Não precisamos fazer do futuro um grande passado

Da última vez que estiveram no poder, os militares entregaram o nosso país em frangalhos e demorou quase uma década para conseguirmos conter a inflação. Quem viveu nos tempos de hiperinflação lembra de como o salário não valia praticamente nada no final do mês devido à desvalorização da moeda, da crise do crédito, das maquininhas de remarcar preços e da incerteza com relação ao futuro. O maior perigo do governo Bolsonaro é o caos que ele pode causar na economia do país, gerando instabilidade, perda de investimentos e crise econômica. Vários jornais e revistas internacionais, como o liberal The Economist, alertaram de forma enfática sobre o risco que a economia está correndo com um economista "exótico" como o Paulo Guedes comandando as finanças do país. Ninguém sabe quem será o ministro da fazenda e nem o presidente do Banco Central num governo Bolsonaro. Isso para ficar só nas questões econômicas, porque Bolsonaro não dá a mínima para o meio ambiente, para desigualdade econômica, para as injustiças sociais, para as terras indígenas, para os quilombolas, para a disparidade salarial entre homens e mulheres, para a causa LGBT e vai, como sugeriu Paulo Guedes, aumentar a carga tributária para os mais pobres. Já a violência será resolvida na base da bala e da truculência.

O nosso país está pelo avesso, literalmente.

É claro que eu não sou um Nostradamus para prever o futuro, até porque pode acontecer tudo diferente do que estou pré-visualizando caso Bolsonaro seja eleito. Mas pelo andar da carruagem e pelo pouco que eu conheço da política deste país, o mais provável é que o Brasil mergulhe numa crise grave e corra o risco de ter uma saída autoritária para colocar as coisas "nos eixos" – fora, claro, o fascismo dos eleitores fanáticos do Bolsonaro que serão um problema à parte. Será que é mesmo este o país que você quer para você e seus filhos?


segunda-feira, 15 de outubro de 2018

A carta do caos foi lançada


Honestamente falando, eu acho que tem alguma coisa muito errada com a humanidade neste ainda início de século XXI. O mundo anda tão anacrônico, tão estúpido, tão egoísta e tão radicalizado que às vezes eu sinto que entrei numa máquina do tempo em 2013 e acordei cinco anos depois no apogeu da Guerra Fria. As pessoas não estão mais se escutando e parece que a cada minuto que passa estamos mais perto de um desfecho terrivelmente trágico para os nossos dias de homo sapiens.

A tecnologia digital parece que não foi bem assimilada e nos encontramos cada vez mais isolados, intolerantes e suscetíveis a todo tipo de informação distorcida. Não era esse o futuro que eu sonhava para a humanidade há 20 anos atrás. Achei que teríamos a cura da aids, uma maior preocupação com o semelhante e um uso mais racional dos recursos naturais. Mas não é isso que estou vendo. Aliás, vejo justamente o oposto com o descrédito na ciência, com a morte da nossa capacidade de nos questionarmos e com convicções absolutamente perigosas. O mais bizarro é que parece mesmo que estamos numa Guerra Fria, só que sem o lado socialista. É como se de um lado tivéssemos o capitalismo especulativo lutando contra o capitalismo produtivo do outro lado: uma guerra mortal do capitalismo contra si mesmo. Parece-me que o capitalismo entrou numa espécie de fase autoimune onde seu ciclo de vida atravessa um momento derradeiro. E como não temos nenhum sistema para se contrapor ou substituir o capitalismo, fica a sensação que a radicalização em suas estruturas centrais se dá devido ao medo do que está por vir.

Parece que a Carta do Caos foi lançada quando o centro nervoso do capitalismo global começou a perder seu protagonismo, trazendo uma necessidade de apertar mais os países periféricos em desenvolvimento que sustentam os alicerces do antigo império. Só que essa crise é tão grave que até mesmo os países centrais do capitalismo estão tomados por uma onda radical que busca nos imigrantes, nos esquerdistas e nas minorias a sua sede por "vingança". O crescimento da extrema-direita tornou-se um fenômeno global, passando pela Polônia, Áustria, Holanda, França, Reino Unido e, claro, Estados Unidos da América. E a América Latina, quintal do imperialismo ocidental, não é exceção. A truculência, a ignorância, o ressentimento de classe, o pensamento autoritário, o desprezo pelos valores éticos consuetudinários e a fobia de ameaças há muito desmistificadas estão levando o Brasil e a América do Sul para um precipício que nem nos meus piores pesadelos imaginei que poderíamos cair. O sonho de sermos uma pátria mãe gentil, de sermos grandes, de sermos um exemplo de humanismo e de termos um futuro lindo para os nossos filhos está seriamente ameaçado.


Não sei como a nossa história termina, só sei que desmontar essa bomba não será uma tarefa fácil. Será necessária muita luta e muita organização dos entusiastas da democracia e da classe operária para reverter esse estado de barbárie que estamos mergulhando cada dia mais. E não menos importante, é preciso pensarmos num novo modo de produção que seja mais inclusivo e menos autodestrutivo. As futuras gerações agradecer-nos-ão por aderirmos ao pensamento de longo prazo ao invés de nos apegarmos aos lucros insólitos e imediatos que jamais levaremos para o túmulo.


domingo, 14 de outubro de 2018

Bolsonaro e o futuro


A intenção da burguesia para 2019 era fazer do Brasil um laboratório neoliberal semelhante ao que foi feito no Chile dos anos 1970. O encarregado desta missão era o tucano Geraldo Alckmin que dançou já no primeiro turno por não ter aderido ao antipetismo de forma mais radical e por ter se aliado ao que há de mais fisiológico na nossa política. E, diante dessa falha estratégica, o que restou agora para a burguesia foi apoiar um candidato instável, imprevisível e intolerante. Entre a social democracia do PT e o neofascismo do Bolsonaro, a única candidatura que sinalizou para prosseguir com o entreguismo e com as reformas pró-mercado foi a segunda. Só que mesmo para a burguesia mais conservadora é complicado apoiar um elemento que sabidamente não tem preparo para ocupar qualquer cargo do executivo e que tem uma rejeição extremamente alta dentro e fora do Brasil. E aí que se a vitória de Jair Bolsonaro for confirmada, possivelmente veremos um governo tutelado tanto pelas forças plutocratas do mercado quanto pelas forças armadas. Se Bolsonaro resolver governar contrariando os interesses da burguesia ou tentar um golpe (como ele mesmo disse que faria há 19 anos), pode ter certeza que ele será extirpado do cargo sem qualquer cerimônia. O resumo da ópera é que um governo do Bolsonaro será uma espécie de governo Temer piorado e tomado por ideias extremistas.

Se uma pessoa com mais sensibilidade observar com um olhar mais crítico, vai perceber que Bolsonaro é uma versão bestializada de Plínio Salgado, pegando o que tinha de pior na UDN e na TFP para ressuscitar uma espécie de Arena em pleno século XXI. O candidato do PSL é um despreparado total: um bufão demagogo que diz coisas que seriam obsoletas até para o século XIX, tornando-o um bronco pior que Donald Trump e Marine Le Pen juntos. O que as pessoas precisam entender é que devemos votar por propostas, por ideias, por planos de governos – e não por ressentimento, por ódio, por vingança ou por medo. A esperança precisa vencer o medo, só que, infelizmente, as pessoas não estão decidindo seus votos pela razão. As pessoas estão decidindo o futuro do país baseadas em paixão ou repulsa sem olhar direito para o que cada candidato está propondo.
A ascensão do "mito" fascistoide ocorre essencialmente pelo antipetismo tão bem cultivado pela imprensa, pelas mentiras do Whatsapp, pela rede de think tanks, pelo judiciário partidarizado, pelo medo da perda de privilégios da classe média, pela implicância com o "politicamente correto", pela influência de neopentecostais baseadas na teologia da prosperidade, pela falta de candidatos conservadores moderados, pela negação da política e pela ignorância geral em história, sociologia, antropologia e ciências políticas que assola o nosso povo. Diante de toda essa onda fascistoide, acho que só há possibilidade do Bolsonaro não vencer se houver um fato novo durante esse segundo turno.


Mas enfim, essa onda reacionária mostra apenas o fechamento de um ciclo dentro da história política do nosso país. Como bem disse Lula: "O tsunami vai e volta". A disputa política não se encerra numa eleição, porque a roda da democracia sempre está em movimento. Assim como ocorre no resto do mundo, a extrema-direita tem crescido devido às crises cíclicas do capitalismo. Quando as pessoas aprenderem que o fascismo não é solução para coisa alguma e perceberem suas consequências nefastas, irão aderir ao ciclo seguinte, onde teremos que repensar num meio de reduzir as desigualdades e criar mais inclusão social para ter um sistema mais estável, justo e pacífico.



Para terminar, fica um vídeo reflexivo com algumas declarações que mostram sem censura quem é o candidato que tantos chamam de "mito".

quarta-feira, 10 de outubro de 2018

Considerações sobre o primeiro turno de 2018


Apesar do meu pouco tempo, vou tentar fazer uma avaliação geral das eleições nesta postagem e deixar a minha opinião sobre a atual conjuntura política. Primeiramente, é preciso ficar alerta, porque o novo congresso eleito ficou mais reacionário do que já estava. Os partidos progressistas diminuíram o número de cadeiras no legislativo e nomes importantes como Dilma, Eduardo Suplicy, Lindemberg Farias, Jorge Viana e Roberto Requião ficaram de fora. A bancada do PT, apesar de ainda ser a maior da câmara, teve o número de deputados reduzido. O pequeno PSL se agigantou devido ao efeito manada de Bolsonaro e junto com ele veio uma onda reacionária que trouxe nomes infames da direita como Janaína Paschoal, Joice Hasselmann, Alexandre Frota, os moleques do MBL e até Tiririca. Uma das poucas coisas boas foi que nomes como Magno Malta, Eunício Oliveira, Romero Jucá e Ronaldo Caiado caíram fora do Senado e vários outros golpistas não conseguiram se reeleger. Mas o lado bom da história para por aí.

Líderes da Ursal reunidos pela democracia

Antes de fazer uma análise sobre a disputa presidencial, gostaria de esclarecer que decidi votar no candidato Ciro Gomes aos 45 do segundo tempo. Meu voto inicialmente seria do Fernando Haddad, mas como terei que votar nele no segundo turno de todo jeito, resolvi dar uma chance para o Ciro no primeiro. O Brasil merecia ter um presidente como o Ciro, porque ele é um cidadão absolutamente correto, competente, preparado, experiente, íntegro e tinha propostas muito realistas e adequadas para o nosso atual momento. Fora que eu conheço Ciro pessoalmente há quase 20 anos e sou testemunha ocular da invejável capacidade intelectual e política que ele possui.
Dito isso, eu não cheguei a me surpreender com a expressiva votação que Jair Bolsonaro teve, isso porque, na reta final, os eleitores indecisos e preguiçosos tentem a votar em quem está na frente para que as eleições sejam decididas já no primeiro turno (efeito manada). Para nossa sorte, o aspirante a Mussolini tupinambá não conseguiu se eleger sem participar de debates decisivos. Isso ocorreu graças à forte resistência lulista no nordeste e aos valentes eleitores de Ciro e Haddad nas regiões do Brasil dominadas pelos bolsominions. Apesar da expressiva votação e do oba-oba verde e amarelo, não está garantida a vitória do candidato do PSL no segundo turno, porque, como todos sabem, o segundo turno é uma outra eleição.

Nordeste, seu lindo!

Para que haja uma virada no segundo turno, será necessária uma estratégia muito bem planejada por parte das forças progressistas. Serão necessárias diversas alianças do PT com outros partidos para formar uma coalizão mais forte; será necessário um combate incansável contra às fake news; será indispensável uma militância obstinada nas redes sociais e sobretudo no Whatsapp; será necessário confrontar diretamente com as propostas mais populistas do Coiso que envolvem principalmente segurança e valores morais e, não menos importante, teremos que cativar o eleitor pelo coração, pela emoção. Haddad dificilmente vencerá se não puxar muitos votos dos nulos, brancos, de outros candidatos e até mesmo votos do próprio Bolsonaro. Afinal, se Bolsonaro conseguir parte dos votos do Amoedo e do Alckmin, já será suficiente para se eleger, pois basta ele somar mais 4% que estará matematicamente eleito.

A direita de hoje é uma piada de mau gosto

Sei que viradas no segundo turno são pouco comuns, mas não são impossíveis. Para isso é preciso muita luta da militância progressista. Infelizmente, argumentos racionais à essa altura do campeonato não surtem praticamente mais efeito nas pessoas. A repercussão do ocorre no exterior também não afeta os brasileiros, já que muitos não ligam para a ONU, para o prêmio Nobel ou para a imprensa internacional. Por isso é preciso mexer com o coração do eleitor, mostrar a ele tudo que ele tem a perder com o governo do Coiso, desde o 13º salário até a estabilidade econômica devido à incompetência e ao despreparo do "mito".
E é preciso ter em mente também que a maior parte dos eleitores do Bolsonaro NÃO é fascista. De acordo com o meu chutômetro, há cerca de 20% a 40% dos eleitores do inominável que são, sim, racistas, misóginos, homofóbicos que odeiam pobres e minorias em geral. Mas a maioria que votou no Coiso o fez por medo, por antipetismo, por indicação do pastor, pelo efeito manada e por manipulação ou lavagem cerebral feita através de fake news do Whatsapp. É preciso trazer parte do eleitorado do Coiso que está magoada com o PT, que tem bom coração e que foi enganada por notícias falsas para o nosso lado. Cada voto que o Bolsonaro perde, são dois votos ganhos para Haddad, ou melhor, para a democracia. É preciso ter paciência, tato e tolerância ao conversar com eleitores iludidos pelo canto da sereia reacionária. Você não pode mudar a opinião de uma pessoa se não a respeitar. Outro ponto fundamental é que muitos negros, mulheres, gays e pobres votaram no Bolsonaro sem perceber o perigo que isso representa para eles. Se essas pessoas tomarem consciência do risco que será para elas mesmas votarem no fascista tupiniquim, dificilmente deixarão de mudar o voto.


Não sei se Haddad vencerá o segundo turno, porque ele não possui o carisma de Lula e nem a oratória de Ciro – o que o tornará muito dependente da militância de seus eleitores nesta reta final das eleições. Mas o que mais me assusta mesmo é que o fascismo sairá vitorioso independentemente de quem ganhe as eleições. Bolsonaristas revoltados não aceitarão uma derrota nas urnas e irão partir para o terrorismo em retaliação. E em caso de vitória do inominável, será um verdadeiro cheque em branco para o massacre total de minorias.

Em outra postagem, eu pretendo abordar melhor sobre os riscos gravíssimos que a nossa democracia está correndo e o que poderá ser tanto de um governo Haddad quanto de um governo Bolsonaro.