Não é novidade para ninguém que o nosso inominável presidente da república é, em termos eufemísticos, no mínimo, paradoxal. O sujeito faz propaganda eleitoral direto com motociatas, comícios, live para apoiadores, fake news via WhatsApp, propagandas em outdoors e, sei lá por que, resolve implicar com os artistas que não vão muito com a cara dele por estarem fazendo uma suposta "propaganda eleitoral ilegal". A gota d'água para os bolsonaristas foi a manifestação de Pablo Vittar com falas pró Lula durante o Lollapalooza. O resultado disso foi que o ministro Raul Araújo, do TSE, resolveu atender às ordens autoritárias do partido do inominável (o PL), determinando multa de R$ 50 mil para qualquer manifestação política contra o atual governo durante o festival. Se essa notícia não viesse do Brasil, eu acharia essa história simplesmente inacreditável.
Se vivêssemos sob um regime mais recrudescido, certamente estaríamos retornando para 1968, quando os agentes do DOPS fiscalizavam os artistas "subversivos" sob a égide do AI-5. Mas como os tempos hoje são outros, diversos artistas como Fresno, Marcelo D2, Lulu Santos, Anitta e Djonga protestaram contra essa decisão autocrática do TSE que é, claramente, uma tentativa de censura nos mesmos moldes das ditaduras de outrora. Ora, onde já se viu artistas e público não poderem se manifestar politicamente num evento que ocorre em um estado democrático de direito? Por que manifestações pró Bolsonaro podem em qualquer hora ou lugar, mas manifestações contra esse governo fascistoide são censuradas com essa cara de pau?
Porém, como toda ação gera uma reação, essa tentativa estúpida de censura só ganhou apoio mesmo dos bolsonaristas, porque o público em geral mostrou total repúdio tanto nas redes sociais quanto no próprio evento. E mais ainda: essa tentativa de censura serviu para mostrar o quão autoritário, hipócrita, incompetente e burro é o atual governo.
No fim das contas, um ato que tinha como objetivo calar os eleitores de um tal de Lula, quem diria, está servindo de incentivo através da indignação para se votar a favor do mesmo. Parece que o tiro saiu pela culatra e, mais uma vez, o Lollapalooza virou Lulapalooza.