Uma notícia inusitada apareceu nas minhas redes sociais ontem: uma guilhotina foi colocada na frente da casa do homem mais rico do mundo. Esse homem mais rico do mundo é o bilionário Jeff Bezos, dono da Amazon e que teve a sua fortuna aumentada durante a pandemia. A guilhotina em frente a sua casa nos EUA foi um protesto contra as práticas trabalhistas da Amazon.
Vamos analisar melhor os fatos a respeito dessa notícia.
Qualquer um que já tenha estudado história sabe o significado que a guilhotina teve na época do Terror Jacobino. O dono da Amazon e todos os bilionários do mundo também sabem o significado disso. Mas esses protestos isolados são absolutamente inócuos por não ameaçarem nem de longe os lucros desses super ricos. O que o compartilhamento massivo dessa notícia da guilhotina pela web demonstra é que muita gente anda insatisfeita com o atual sistema capitalista.
Ora, estamos trabalhando cada vez mais e recebendo cada vez menos em troca. Nossas rotinas têm sido repetitivas e exaustivas, e estamos vivendo nossas vidas medíocres praticamente só para consumir porcarias e pagar contas. Estamos sentindo na pele as mazelas do capitalismo financeiro que sobrevive da exploração de todos os trabalhadores para enriquecer uma
casta especuladora que nada produz. Somente uma pequena fração dos
ricos, os tais plutocratas, é que realmente leva a melhor. Eles pagam
menos impostos, eles ganham cada vez mais fazendo cada vez menos e são
eles que decidem, através do poder do dinheiro, como os políticos e as
forças de repressão do Estado burguês irão agir contra nós.
Mas os problemas do capitalismo não param por aí: metade da população mundial vive em situação de insegurança alimentar. Contrastando com isso, a humanidade produz alimentos para suprir mais de 10 bilhões de pessoas diariamente graças à revolução agrícola amparada pela inovação tecnológica. Mas no capitalismo é a lei do lucro que manda. Se você não puder pagar pelo alimento, terá que passar fome. É um paradoxo viver em um mundo onde é proibido roubar comida, mas não é proibido morrer de fome.
É muito cômodo defender o capitalismo quando VOCÊ está de barriga cheia, quando VOCÊ tem um teto para morar, quando VOCÊ tem um bom plano de saúde e quando VOCÊ tem acesso ao capital cultural. E acredite: nada disso é por puro mérito seu. E mesmo que assim fosse, a vida não pode ser um jogo onde há vencedores e perdedores, e os perdedores são condenados a morrer por inanição. Não é esse o mundo que eu quero viver. De que adianta eu ter tudo, se o meu vizinho não tem nem o que comer?
Divagando um pouco mais sobre esse assunto, o tal Grande Filtro do Paradoxo de Fermi que tantos falam na astronomia e que destrói todas as civilizações inteligentes pelo universo talvez seja justamente a incapacidade das formas de vida mais avançadas de lidarem com suas ambições e seus egoísmos. Superar o capitalismo e suas políticas individualistas de injustiça, devastação e escassez é algo que teremos que fazer se quisermos sobreviver como espécie. Não temos como sobreviver a longo prazo devastando o meio ambiente, causando guerras inúteis para financiar reconstruções de cidades destruídas e matando metade da nossa espécie por inanição. Nós somos melhores do que isso.