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Objetificação? Não. Isso agora tem outro nome |
Se no
post passado eu fiquei estupefato diante da ideia babélica da tal "objetificação masculina", neste post então... eu vou me descabelar diante da mais nova tendência: a
idealização.
A idealização, no dicionário neofeminista, significa alguém usar um determinado modelo de aparência ou de comportamento como sendo um ideal a ser alcançado. Essa definição pode parecer trivial, mas para entendermos melhor do que se trata, dê uma olhada na ilustração abaixo:
A ilustração acima, tirada
deste tumblr, foi criada pelo artista Kevin Bolk com a intenção de criticar uma suposta "objetificação masculina" nos quadrinhos devido ao uso frequente da imagem dos homens exibindo seus corpos bem definidos e com poses de "machões". Eu concordo que a ideia da objetificação dos homens é bem ridícula, mas o que o artista quis dizer foi que: "
Idealização não é a mesma coisa que
objetificação sexual, além de ser significativamente
menos prejudicial". Ou seja:
ele disse que o que ocorre com os homens não é objetificação, mas sim uma idealização. E daí surgiu mais um neologismo nessas discussões de papéis de gênero que está começando a cair no gosto popular: a tal da
idealização masculina. Essa idealização, como citei lá no início, refere-se ao modelo ideal que um homem deve atingir para ser bem-sucedido. Modelo este baseado em um corpo bem definido e na atitude dominadora.
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De frente é idealização... |
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De costas é objetificação? |
Dois pesos, duas medidas
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Isso é idealização? |
Quando as personagens femininas expõem seus dotes físicos nos quadrinhos (cintura fina, quadris largos, seios fartos), o que vemos é um monte de gente dizendo que isso não passa de uma objetificação sexual da mulher. Mas quando um personagem homem aparece sem camisa, com seus ombros largos, bíceps bem definidos, peito dividido e cintura fina, tudo à mostra, aí o discurso muda e passa a ser uma mera idealização. Honestamente, além disso parecer totalmente parcial, me parece também hipócrita.
Se é objetificação para um, tem que ser para o outro também. E vir dizer que isso é "menos" prejudicial? Ora, o que mais vende clandestinamente em academias de musculação são anabolizantes para 'bombar' o corpo dos homens. E esses anabolizantes costumam causar efeitos colaterais graves. A busca pelo corpo perfeito por parte dos homens (implantes capilares, bombas de aumento peniano e esteroides) é tão prejudicial quanto para as mulheres (dietas, alisamento capilar, silicones, etc.).
Ninguém sai ileso desses padrões de perfeição do corpo. Se é para considerar os padrões como nocivos, sejamos justos ao condená-los para os dois lados, tanto para homens quanto para mulheres – ao invés de deixar nas entrelinhas que para os homens é um modelo e para as mulheres é exploração, abuso ou hipersexualização.
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Sensualidade masculina |
Outra coisa é que a imagem sensual do homem é exposta descaradamente em diversos filmes e quadrinhos sem que quase ninguém reclame. Ou você acha que homens em pose de ação não contém uma boa dose de sensualidade? Uma vez eu li um depoimento de uma mulher que disse que só assistia os filmes do Van Damme e do Sylvester Stallone (juntamente com as amigas) para "suspirar" vendo o físico deles. Fora aquelas mulheres que não entendem nada de futebol, mas que adoram ver aquele festival de coxas saradas desfilando pra lá e para cá numa partida (em alguns países muçulmanos, para se ter uma ideia, mulheres não podem assistir jogos de futebol justamente por isso). O que eu quero dizer é que a sensualidade é natural e explorá-la não é crime e nem objetificação – exceto, claro, para os bitolados religiosos e moralistas. Então, por favor: vamos parar de parcialidade e de achar que só as mulheres são objetificadas sexualmente. Se há objetificação, ela ocorre dos dois lados.
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Stallone: sex symbol é objetificação ou idealização? |
Mulher não é só peito e bunda
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Nádegas a declarar |
Eu concordo com as feministas que dizem que uma mulher não deve se limitar apenas a sua beleza física e nem a partes "sensuais" dos seus corpos. Mas ficar de mimimi toda vez que aparece um peito e uma bunda feminina em qualquer que seja o lugar, aí já é paranoia. Infelizmente, as campanhas antiobjetificação se focam apenas em querer banir as imagens sensuais de mulheres na publicidade ou na arte. Mas a imagem dos homens sem camisa ou sensuais geralmente não são associados à objetificação justamente porque não incomodam tanto assim as neofeministas: só os
religiosos bitolados é que costumam implicar com a nudez e sensualidade masculina. Como eu digo: barriga tanquinho e tórax definido quase ninguém quer banir, mas peito e bunda de mulher... Não sei se é impressão minha, mas isso me parece muito com o velho
slut-shaming, que é aquela mania de regular como as mulheres devem se vestir ou se comportar.
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Guerra dos sexos |
Sem querer me estender, mas você sabe por que há tanta implicância moralista com peito, coxa e bunda de mulher? Porque, biologicamente falando, esses atributos do corpo feminino são parte do dimorfismo sexual humano. Seios grandes transmitem a ideia de fertilidade e bumbum arrebitado transmite a ideia de saúde e resistência. Nada mais cristão que implicar com essas coisas (afinal, a luxúria ainda é pecado). É claro que a exibição desses atributos femininos é um pouco exagerada para poder vender mais, mas e os atributos masculinos? Alguém já reparou que eles também são uma arma de atração e sedução?
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Poison: bumbum trans masculino |
Talvez você se pergunte por que a publicidade e os quadrinhos não exploram tanto o bumbum masculino, já que teoricamente ele também é atraente. Isso ocorre por três razões. Primeiro porque não vende tanto, já que a maioria do público-alvo é de homens heterossexuais que não sentem o menor tesão em ver bunda de homem. Segundo porque a maioria dos publicitários e cartunistas são homens heterossexuais e também não curtem ficar desenhando bundas masculinas. E a terceira razão é porque homem que mostra a bunda de forma sensual geralmente é associado à homossexualidade, e a nossa sociedade é muito homofóbica. Claro que há exceções, como na série
Metal Gear Solid, que mostra muitos traseiros em close, tanto masculinos quanto femininos; e, claro,
Street Fighter, onde o personagem Poison abusa de seus dotes. Se bem que Poison não é exatamente um homem, mas sim um personagem transexual, mas enfim, se você não dormiu nas aulas de biologia, sabe que ele/ela tem o cromossomo sexual Y.
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Bundas: o critério que separa a idelização da objetificação |
Uma questão de semântica
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Poder ou sensualidade? |
Outra queixa muito comum é que as mulheres não são objetificadas apenas pela sensualidade, mas também pela postura de objeto e de submissão ao homem. Com relação à postura de submissão ao homem, eu concordo que isso é ruim, mas eu não chamaria isso de objetificação, mas sim de machismo ou de inferiorização. Acho o termo 'objetificação' muito inadequado para designar isso. Já a postura de 'objeto de posse' – ou seja: de algo sem vontade própria limitado a ser uma espécie de 'troféu humano' para servir ao herói masculino – isso também não deveria ser qualificado como objetificação, mas sim como sexismo. Eu acredito que a crítica do quadrinho lá do início é justamente essa: de não limitar a mulher a algo que só serve para ser "dominado". A divergência principal aí talvez seja a de semântica. Enquanto para uns objetificação é hipersexualização, para outros é dominação.
O grande x da questão é que vivemos numa sociedade onde o valor de um homem é medido por suas conquistas: sejam elas financeiras ou sexuais. Isso tanto é verdade que alguns
insultos, como pé-rapado e broxa, mostram descaradamente que um homem que não atinge esses padrões não é suficientemente homem. Daí que aqueles que não atingem esse padrão acabam sofrendo e, ao invés de se revoltarem contra esse sistema, se voltam contra as mulheres, nascendo aí os
masculinistas e os misóginos. Já o valor das mulheres está muito ligado a sua beleza e ao seu poder de sedução. Mas não se esqueçam que não foram os quadrinhos que inventaram esses padrões de sucesso: foi a nossa cultura que estabeleceu, de forma mais ou menos natural, esses critérios.
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Músculos sempre transmitem poder: sejam bíceps ou glúteos |
Na minha opinião, tanto a objetificação quanto a idealização referem-se a mesma ideia: sexismo enrustido. Acontece que enquanto para mulheres o termo é objetificação, para os homens o termo é idealização, mas é tudo farinha do mesmo saco. Apesar disso ser uma questão de ponto de vista, eu, francamente, acho que tudo não passa de uma histeria astuciosa de quem se fanatizou na luta contra o machismo.
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Então toma:
aushaushaushaush!