magine que nós vivêssemos numa sociedade onde a maioria das pessoas fossem homossexuais e não tolerassem a união de um homem com uma mulher. Se você fosse heterossexual numa sociedade heterofóbica como essa, você se sentiria feliz por não ter o direito de amar uma pessoa do sexo oposto?
O cenário imaginado acima é uma forma de pararmos para pensar se é mesmo justo condenar o amor entre as pessoas. Essa postagem tem o objetivo de combater qualquer ideia que condene o direito de amar que todos nós temos, independentemente de orientação sexual.
Para dar mais dinâmica a esse post, vou dividir essa discussão em quatro categorias:
1.Amor
2.Sexualidade
3.Antropologia
4.Legalização do casamento homossexual
Vamos abordar cada um desses tópicos por partes para concluir se vale a pena ou não liberar o casamento homossexual no Brasil.
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O amor tem sexo? |
1. Amor
1.1 Conceito
Existem muitas definições para tentar explicar o que é o amor e identificar as suas principais manifestações. Mas se fomos examinar na essência, o amor nada mais é que um sentimento de bem querer por algo ou por alguém. O amor surge da empatia e da necessidade de expressarmos as nossas emoções para com aqueles que estimamos e respeitamos. Partindo desse conceito, conclui-se que o amor é um sentimento universal e que podemos senti-lo por qualquer pessoa.
1.2 Gênero
Amor não tem sexo. O amor é igual para homens e para mulheres, porque todos têm o mesmo potencial afetivo e a mesma capacidade de amar uns aos outros.
1.3 Moralidade
Muitas pessoas condenam o amor entre pessoas do mesmo sexo, o que é uma hipocrisia absurda! Você que é homem, heterossexual, vai me dizer que não ama seu pai, seus irmãos, seus filhos ou seus amigos que também são
homens? E você que é mulher vai me dizer que não ama a sua mãe, suas filhas, suas irmãs ou as suas amigas
mulheres? Todos nós amamos pessoas de ambos os sexos, porque o amor é um sentimento universal. A falta de compreensão quanto a isso pode levar a atitudes extremas, como foi no caso do pai e do filho que estavam abraçados na rua e foram confundidos com homossexuais, sendo espancados por um grupo de homofóbicos.
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Uma sexualidade saudável é livre de tabus e preconceitos |
2. Sexualidade
2.1 Conceito
Sexualidade é o impulso natural de todo ser humano na busca por parceiros com o intuito de obter prazer e satisfação dos desejos sexuais. Note que esse conceito não engloba a reprodução, porque a reprodução não é um item obrigatório para que as pessoas vivam a sua sexualidade.
2.2 Preconceito religioso
A maioria dos livros sagrados que condena a homossexualidade se baseia em princípios morais arcaicos de civilizações antigas ou em leis como a do
Código de Hamurabi. A questão é que o conceito de moral é algo que sempre variou no tempo e no espaço. Basta pegar a Bíblia e ver que ela apoia por completo a escravidão, coisa que hoje é inaceitável. Em
Levíticos 25:44-45, por exemplo, a Bíblia defende o livre direito dos cristãos obterem escravos; já em
Efésios 6:5 há uma ordem direta para que os escravos obedeçam aos seus senhores. Seria sensato usar conceitos morais daquela época para dizer o que é certo ou errado hoje em dia?
2.3 Moralidade
Valores morais são subjetivos e individuais. O que legisla as regras de uma sociedade são os valores éticos, que servem justamente para regular as diversas morais conflitantes. Querer impor uma moral pessoal sobre todos os cidadãos é uma forma de preconceito, egocentrismo e discriminação. Se eu achar imoral as pessoas usarem boné, por exemplo, isso não me dá o direito de discriminá-las e de manipular as suas preferências por isso.
2.4 Naturismo
Muita gente alega que o sexo entre homossexuais é antinatural. E o mais engraçado é que o hossexualismo é comum em várias espécies de animais, porém, a homofobia só existe na espécie humana. Então, sob essa ótica, os homofóbicos é que seriam a verdadeira aberração da natureza. E se o sexo entre homossexuais for considerado 'antinatural' por não gerar descendentes, então todas as formas de sexo não-procriativo deveriam ser consideradas 'antinaturais' também - mesmo se forem realizadas por heterossexuais. E sexo por prazer, por sacanagem e sem visar a reprodução é praticado igualmente entre héteros e homossexuais. Afinal, para que inventaram mesmo os métodos anticoncepcionais?
2.5 AIDS
Há um boato correndo por aí dizendo que o HIV é uma doença que atinge majoritariamente os homossexuais. Mas não é isso que as estatísticas dizem. Segundo o Centro de Referência e Treinamento (CRT) DST/Aids, da Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo, 65% das pessoas infectadas pelo vírus HIV em 2009 eram heterossexuais.
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A homossexualidade foi muito comum ao longo da história |
3. Antropologia
3.1 Terminologia
Na prática, não existe isso de "homossexualidade" ou "heterossexualidade", existe apenas a palavra 'sexualidade'. Procurar diferenças ou rótulos nas formas de se amar e se desejar as pessoas é apenas um jeito muito imbecil de evidenciar a própria ignorância. O amor é um sentimento
igual para todos.
3.2 História
Na Grécia e na Roma da Antiguidade, era absolutamente normal um homem mais velho ter relações sexuais com um mais jovem. O filósofo grego Sócrates, adepto do amor homossexual, pregava que o coito anal era a melhor forma de inspiração. O amor entre iguais era tão comum que não existia nem mesmo o conceito de homossexualidade. Entre os romanos a pederastia era encarada como um sentimento puro.
E não foi apenas na Grécia Antiga, pois as tribos das ilhas da Nova Guiné, Fiji e Salomão, no oceano Pacífico, há cerca de 10 mil anos atrás já exercitavam algumas formas de homossexualidade ritual. Os melanésios acreditavam que o conhecimento sagrado só poderia ser transmitido por meio do coito entre duplas do mesmo sexo. No rito, um homem travestido representava um espírito dotado de grande alegria – e seus trejeitos não eram muito diferentes dos de um show de
drag queens atual.
Outra coisa muito comum ao longo da história foi que durante as guerras, muitas mulheres tinham relações homossexuais na falta de homens. E em presídios, internatos e até em longas viagens marítimas o homossexualismo sempre foi muito comum.
3.3 Práticas sexuais
Ser gay masculino não implica em gostar necessariamente de sexo anal, assim como ser hétero não implica necessariamente em gostar de sexo vaginal. Há muitos casais homossexuais que não praticam sodomia ou por não gostarem, ou por terem problemas de saúde (fissuras, hemorróidas) que impeçam a prática. Normalmente, esses casais buscam outras formas de obterem prazer juntos. Ser gay, por conceito, é gostar de pessoas do mesmo sexo e não obrigatoriamente ser adepto da prática sexual x ou da prática sexual y. Quem gosta de sodomia é sodomita, seja homossexual ou heterossexual. Ser gay é apenas sentir atração, desejo, libido por pessoas do mesmo sexo.
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Direitos iguais para pessoas diferentes |
4. Legalização do casamento homossexual
Agora vou explicar porque o casamento entre pessoas do mesmo sexo deve ser liberado.
4.1 Direitos humanos
No Artigo nº 1 da Declaração Universal dos Direitos Humanos adotados pela ONU está escrito:
"Todas as pessoas nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São dotadas de razão e consciência e devem agir em relação umas às outras com espírito de fraternidade."
No Artigo nº 2 dessa mesma declaração está escrito:
"Toda pessoa tem capacidade para gozar os direitos e as liberdades estabelecidos nesta Declaração, sem distinção de qualquer espécie, seja de raça, cor, sexo, língua, religião, opinião política ou de outra natureza, origem nacional ou social, riqueza, nascimento, ou qualquer outra condição."
Esses dois artigos são suficientes para dar direitos iguais tanto a heterossexuais quanto a homossexuais, porém, isso pode não ser suficiente para convencer algumas pessoas.
4.2 União homoafetiva no mundo
O mapa abaixo mostra os países onde o casamento gay é permitido. Note que na maioria dos países do primeiro mundo a união homoafetiva é legal.
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Países onde a união homoafetiva é legalizada (clique para ampliar) |
4.3 Adoção
Existem milhões de crianças no Brasil sem família, vagando pelas ruas ou vivendo em orfanatos. Essas crianças que são geradas a partir de relações heterossexuais não pediram para nascer e não pediram para serem abandonadas. Casais homossexuais, por não poderem ter filhos naturalmente, podem recorrer à adoção como forma de dar a algumas dessas crianças a chance de terem um lar, de terem educação, de terem saúde, de terem comida, de crescerem longe da violência...
E para quem acha que os casais de homossexuais não vão criar bem uma criança pelo fato de serem homossexuais, aconselho que reveja os seus conceitos. A criação de uma criança é baseada no amor, na educação e em valores morais e éticos. E orientação sexual não tem nada a ver com esses valores. A família não é formada apenas pelos pais, mas por vários parentes e amigos também, sejam eles heterossexuais ou não.
4.3.1 Família nuclear
A "Família nuclear" (papai, mamãe e filhinho) é um conceito ultraconservador e antiquado sobre como deveria ser uma família há 100 anos atrás. Quantas famílias hoje são formadas por pais que moram separados, por viúvas, por filhos que são criados por babás, avós, amigos, etc? Há casos onde duas mulheres divorciadas dividem a mesma casa e ambas criam os filhos de forma que isso não é ruim para a formação das crianças. Ou seja: duas mulheres criando seus filhos juntas sem a presença da figura paterna e não há nada de errado nisso. E a função social do homem e da mulher hoje está bastante flexível - e em alguns casos está até se invertendo, com homens cuidando da casa e a mulher trabalhando fora para sustentar a família.
4.4 Aceitação social
Antigamente, se pensava que meninos e meninas não poderiam estudar juntos para não haver problemas, promiscuidade ou um surto de masturbação entre os rapazes. E esse pensamento, claro, foi uma grande bobagem, tanto é que meninas e meninos estudam juntos hoje sem problemas. Isso é um exemplo de que esse receio pela mudança é algo natural - o que não é natural é obstaculizar as mudanças sociais por uma série de ideias sem sentido e ultrapassadas. Os países onde o casamento gay é aceito são a prova de que esse tipo de união dá certo.
Conclusão
Não existe nenhum motivo racional plausível para manter proibida a união homoafetiva ou para não criminalizar a homofobia.
Fontes:
Vale tudo: Homossexualidade na antiguidade
Países que legalizaram o casamento gay
Declaração Universal dos Direitos Humanos
Estatísticas sobre o aumento do HIV entre gays
Ligações externas:
STJ autoriza casamento gay para casal de gaúchas
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