Estive observando o comportamento de vários eleitores do inominável e percebi que ele tem, basicamente, três tipos de eleitor.
O primeiro é o bolsominion fanático, que é fascista, racista, homofóbico, misógino, xenófobo, aporófobo e tem muito orgulho de ser tudo isso. Esses são um caso perdido e representam um percentual normal de eleitores com inclinação autoritária em todas as democracias.
O segundo é o analfabeto político que odeia o PT e é a favor da PEC da Morte, da Reforma Trabalhista e da entrega das nossas riquezas achando que essas coisas são boas para eles. Votam no "mito" por considerá-lo o único candidato de direita viável capaz de derrotar "a esquerda".
O terceiro tipo é o ingênuo, o idiota útil, que vai no votar no "mito" na base do oba-oba. Ele simplesmente segue o fluxo e escolhe Bolsonaro ou porque ele está liderando as pesquisas, ou porque se comoveu com a facada, ou porque foi convencido pelas fake news do MBL, ou porque familiares e amigos irão votar nele, ou porque o pastor de sua igreja pediu votos para o inominável.
Quase ninguém vota no Coiso por suas propostas, porque ele simplesmente não tem propostas – e quando as têm, são absolutamente contraditórias ou impraticáveis. O voto nele é uma mistura de protesto com alienação. Muitos desses três tipos de eleitores ficam usando desculpas de que ele é "honesto", de que "fala verdades", de que "valoriza a moral e os bons costumes" e de que "valoriza a vida e a família" [sic]. E no fim das contas, devido à sua rejeição de quase 50%, sua derrota no segundo turno é quase certa. O eleitorado do Coiso é tão pueril que eles estão, na verdade, ajudando a eleger o PT ao se mostrarem como única alternativa de poder ao próprio PT. O medo do radicalismo faz com que pessoas que normalmente não votariam no PT escolham Haddad no segundo turno por não haver outra opção à barbárie.
Olhando esses tipos básicos de bolsominions, concluímos de forma bastante axiomática que Bolsonaro nada mais é que o sintoma de uma sociedade essencialmente reacionária sentindo que está perdendo privilégios e vendo seus valores arcaicos sendo contestados. Alie esse sentimento de medo reacionário à crise econômica brasileira, à mudança na geopolítica internacional, ao macarthismo induzido pela mídia e à nossa falta de uma educação libertadora que temos um sujeito despreparado e perigoso correndo o risco de virar presidente contando com 1/3 dos votos válidos só no primeiro turno.
Diante de um sistema de ensino tutelado pelo poder econômico capitalista, chega a ser um privilégio para poucos estudar sociologia, antropologia, filosofia, economia, legislação e ciências políticas. Vemos, no máximo, um pouco de história no ensino fundamental e médio e, mesmo assim, tem gente que acha que estudar história é "decorar datas" ao invés de compreender o processo de evolução das sociedades. E por quase ninguém estudar de forma crítica a nossa história e a nossa sociedade que temos tanta gente acreditando nas promessas simplórias e reducionistas de Jair Bolsonaro.
O desafio a longo prazo para os humanistas e democratas de agora em diante é criar um sistema que faça com que a população perceba as injustiças sociais de maneira crítica. A internet pode ser uma aliada nessa missão, mas precisaremos de uma mídia mais plural, de uma metodologia de ensino mais abrangente e de um trabalho de base nas periferias dominadas pelo narcotráfico e pelas neopentecostais. Enquanto uma mudança no modo de pensar da população não for posto em prática, seremos eternamente ameaçados pela nuvem sombria do fascismo e do autoritarismo.
A curto prazo, os candidatos que se opõem ao PT poderiam pegar algumas das propostas bolsonaristas ligadas às armas e à família, por exemplo, para tentar roubar parte do seu eleitorado. Há quem fale de uma possível desistência do Bolsonaro, mas se isso não ocorrer, as forças democráticas precisão repensar num meio de derrotar o fascismo dentro e fora das urnas. Afinal de contas, o próprio inominável já disse que não reconhecerá o resultado das urnas em caso de derrota. E até agora nada do TSE ou do STF se pronunciarem sobre esta declaração.
Mais um motivo para dizer #EleNão |