Há alguns dias, participei de uma calorosa discussão sobre Cuba nos comentários do blog Escreva Lola Escreva. Devido ao número de críticas desesperadas contra os meus argumentos, fiquei ciente de que minhas palavras, no mínimo, incomodaram. Pois como já dizia minha avó: a árvore que mais leva pedrada é justamente a que mais dá fruta.
A seguir, vou deixar, na íntegra, a junção de dois comentários que deixei no post e que achei que dariam uma postagem bem interessante:
Parece que esse pessoal utópico defensor de democracias não quer entender o que acontece na América Latina. Eu desafio qualquer um a dizer aqui nos comentários em qual país da América Latina existe, de fato, democracia. Diga o nome de pelo menos UM país onde exista democracia do México para baixo.
Aprendam de uma vez por todas que a questão aqui não é idolatrar ditaduras ou ditadores. O ponto central aqui é que é impossível, repito: é IMPOSSÍVEL existir democracia na América Latina enquanto os EUA continuarem nos tratando como uma colônia: como o quintal deles. Nenhuma pessoa em sã consciência acha que uma ditadura é algo maravilhoso ou ideal. Mas quando nós temos que escolher entre uma plutocracia, uma oligarquia, uma ditadura que gera miséria ou uma ditadura onde não há miseráveis, o que você acha que uma pessoa com o mínimo de empatia pelos outros seres humanos escolheria?
Fidel Castro era um homem que sonhava com uma democracia real, mas sabia que jamais poderia haver uma democracia em Cuba ou em qualquer país da América Latina enquanto as oligarquias norte-americanas existissem. Vocês acham mesmo que a Dilma Rousseff caiu por causa das "criminosas" pedaladas? E João Goulart, Salvador Allende, Arturo Umberto Illia e Fernando Lugo caíram porque o povo quis? Ora, os EUA e as oligarquias nacionais NÃO querem políticos nacionalistas e irão boicotá-los e derrubá-los sempre que possível. O único país de todas as Américas onde a plutocracia não manda é justamente Cuba, porque lá não há elites rentistas, banqueiros corruptos, lobby de megaempresários, juízes partidários e mídias corporativistas apoiadas pelo imperialismo.
Aqueles que ousarem defender a democracia na América Latina serão perseguidos, presos, exilados ou mortos. Veja o que está acontecendo com Maduro e com o Lula, por exemplo, enquanto a sujeira de FHC e demais tucanos é jogada para debaixo do tapete.
Isso não é uma questão de ideologia. Liberdade, democracia e Estado de direito são IMPOSSÍVEIS – utopias totais – na América Latina enquanto os donos do mundo continuarem a interferir na política dos nossos países.
Não há outra maneira de se combater a miséria, a desigualdade e as injustiças senão através da luta. A corrupção não é o que causa a miséria, como devaneiam os incautos moralistas que bateram panelas contra a Dilma. O que causa a miséria e a pobreza é o tipo de política elitista e entreguista a que o nosso povo é submetido há séculos. Não devemos baixar a cabeça e aceitar o mesmo sistema, eleição após eleição, onde sempre quem vence é um candidato financiado pelos ricos para atender os seus interesses e (quase) nunca os do povo.
Enquanto isso, pessoas estão morrendo de fome, morando nas ruas, morrendo nas filas dos hospitais e dormindo em filas intermináveis para conseguir um emprego que as dê um mísero salário mínimo. Os nossos jovens – futuros professores, atletas, pensadores, cientistas e estadistas – estão morrendo assassinados na periferia ou de desnutrição e doenças. Isso, sim, é uma violência imposta pelos donos do sistema que nunca toleraram um segundo sequer de democracia. Afinal, que democracia é esta em que temos que uma grande mídia de proporções continentais (e financiada por multinacionais estrangeiras) dizendo na cara de pau com seus "especialistas" que o que é ruim para o povo é "bom para o povo" e que "medidas amargas" são necessárias? Uma mídia que manipula a opinião pública a favor de seus próprios interesses jamais permitirá democracia de qualquer tipo.
Aí vem um inocente qualquer dizer que Fidel Castro era um "ditador sanguinário". Não se pode fazer uma omelete sem quebrar alguns ovos. Não se pode vencer uma situação de desigualdade e opressão sem confrontar-se contra quem as impõe. E isso não é violência. Como disse o "facínora" Ernesto Che Guevara: "Violentos são os que impõem a desigualdade, e não os que lutam contra ela". Violência é ver nossas crianças e jovens morrerem como moscas por inanição devido a uma política excludente e desumana voltada para os interesses de uma classe dominante egoísta, imediatista, cobiçosa, ranzinza e parasita que não deixa o país ir para frente.
E no fim das contas, os inocentes dizem que o violento era Fidel, e não os homens que promovem diariamente miséria, desigualdade, fome e exploração em toda a América Latina.
Não se faz uma revolução com flores e versos, vai ver o que era Cuba antes de Fidel. |