terça-feira, 28 de julho de 2020

Plutocratas não agem sozinhos


Recentemente, o CEO da SpaceX e da Tesla Motors Elon Musk assumiu, sem qualquer remorso, parte da responsabilidade pelo Golpe de Estado na Bolívia para roubar o lítio do país. Algumas pessoas ficaram surpresas com essa notícia não sei o porquê. Ora, os super ricos, os tais plutocratas, trabalham fazendo exatamente isso: decidindo os rumos políticos e econômicos do mundo todo. Um sujeito como o Elon Musk que tem mais de US$ 70 bilhões em fortuna não é apenas rico, mas é também um dos donos do mundo. Homens bilionários pelo mundo todo fazem exatamente a mesma coisa, porque quando a riqueza entra na casa dos bilhões de dólares, passa a se tornar medida de poder e não apenas de riqueza.

Ao contrário dos extremistas que querem exterminar todos os plutocratas e dividir as riquezas deles entre os mais pobres, eu sou a favor de algo mais eficiente: da politização da população, especialmente da classe média. Bilionários só existem no nosso mundo porque parte da classe média age como lacaia desses homens. Políticos, juízes, militares, empresários e jornalistas agem como mediadores para que esses caras fiquem cada vez mais ricos enquanto os trabalhadores fiquem cada vez mais pobres. Tudo isso em troca de migalhas: prestígio, cargos, estabilidade, um milhãozinho aqui ou outro ali... O Golpe de Estado só aconteceu na Bolívia porque a classe média de lá apoia um mundo desigual onde plutocratas como o Musk podem ter tudo, e bilhões de outros seres humanos não podem ter nada. Falta politização e empatia. O mesmo ocorre em 99% dos países capitalistas, incluindo o Brasil. A exceção fica por conta dos renegados Cuba e Coreia do Norte. Nesses dois países, como as pessoas de lá são mais politizadas, não há abertura possível para Golpes de Estado.

O problema da desigualdade do mundo, quem diria, não é por culpa dos homens mais ricos, mas por culpa da própria classe média que se omite, que acoberta, que defende, que passa pano para que bilionários façam o que fazem. Só iremos ter um mundo mais justo quando a maioria de nós compreender que é preciso pensar nos semelhantes, nos excluídos, na coletividade, no bem-estar social e entender que o atual capitalismo financeiro só deu certo para um punhado de homens brancos que não dão a mínima para as injustiças do mundo.

segunda-feira, 20 de julho de 2020

80 mil minutos de silêncio


Hoje, 20 de julho de 2020, o Brasil se aproxima da trágica marca dos 80 mil mortos pela Covid-19. 80 mil é a capacidade máxima do Maracanã. 80 mil foi o total de mortes com a bomba atômica que explodiu em Nagasaki, no Japão. São 80 mil famílias chorando seus entes queridos enquanto um néscio psicopata no cargo público mais importante do país falava de "gripizinha" e faz propaganda de um remédio sem qualquer comprovação de eficácia. Esse é o tamanho da nossa tragédia amparada por parte das Forças Armadas que está ocupando cargos importantes no executivo. A presença de um general no comando do ministério da saúde coloca o Exército – como bem criticou o ministro Gilmar Mendes – como coparceiro de um verdadeiro genocídio. Os generais ficaram ofendidíssimos com o ministro Gilmar porque ele usou a palavra "genocídio", mas oras, quem estudou sobre a Guerra da Tríplice Aliança sabe bem que o genocídio não é exatamente uma novidade para as nossas FFAA. 80 mil mortos numa pandemia também é um tipo de genocídio: um genocídio por omissão, por negligência, de ter se associado a um homem cuja família está envolvida até o pescoço com as milícias cariocas e sempre fez pouco caso dos mortos e desaparecidos em outro genocídio que ocorreu entre 1968 e 1978 no Brasil. Não foi à toa que o PDT denunciou o inominável no Tribunal Penal de Haia.

Deixo minha solidariedade a todas as famílias que choram por essa tragédia. Precisamos de oitenta mil minutos de silêncio.

sexta-feira, 10 de julho de 2020

Devemos torcer pela morte de Bolsonaro?


Tenho visto muitas pessoas por aí desejando descaradamente a morte do presidente Jair Messias Bolsonaro depois dele ter divulgado que está com a Covid-19. Pessoas desejarem a morte uma das outras é comum, mas vê este tipo opinião partir de pessoas de esquerda ou de cristãos é algo que me deixa intrigado. Cristãos, se não me falha a memória dos tempos de catecismo, têm a obrigação de amar a todos, inclusive seus inimigos. Já as pessoas de esquerda, que costumam ter mais empatia e propensão ao diálogo, estão a repetir o que os intolerantes da extrema-direita desejaram aos ex-presidentes Lula e Dilma. Mas o ponto aqui não é criticar as pessoas por suas opiniões, crenças e ideologias. O ponto aqui é mostrar como seria ruim para todos nós a morte de Jair Messias Bolsonaro.

Em primeiro lugar, a morte de Bolsonaro pela Covid-19 seria uma vitória não da oposição ou da esquerda, mas do próprio coronavírus. Eu acho abominável que as pessoas torçam para que o vírus tire a vida de mais um ser humano, por pior que ele seja. A minha torcida é a favor da vida humana e contra o coronavírus. Se eu fosse um médico e o Bolsonaro fosse meu paciente, eu faria de tudo para salvar a sua vida e cuidar da sua saúde, assim como faria com qualquer outro ser humano. Para mim, a vida humana tem um valor incomensurável, independentemente do caráter.
Em segundo lugar, a morte de Bolsonaro faria com que o seu vice, Hamílton Mourão, assumisse a presidência. E como todos sabem, Mourão é muito mais preparado, inteligente e competente em conduzir adiante a agenda econômica neoliberal. Ao contrário do ex-capitão, o general consegue se comportar de maneira aceitável diante da maior parte da opinião pública. Lutar contra o Mourão seria mais difícil, no meu ponto de vista.
Por último, eu sou contra a morte do presidente porque ele precisa estar vivo para responder pelos seus crimes. Como costumava-se dizer durante as Cruzadas: "morte não é punição, morte é libertação".

Nunca imaginei que eu fosse proferir isso, mas desejo que o presidente Bolsonaro se recupere e que um dia a justiça – e não a vingança – seja feita.

quinta-feira, 2 de julho de 2020

FBI e Lava Jato: alguma surpresa?


As recentes revelações do Intercept publicadas na Agência Pública sobre a influência do FBI na Operação Lava Jato não surpreendem ninguém com o mínimo de senso crítico. Bob Fernandes já alertou sobre isso em 2018, quando denunciou o absurdo de uma polícia estrangeira trabalhar em território brasileiro. Bem antes, em 2016, a escritora Marilena Chauí também já havia denunciado que Sérgio Moro foi treinado pelo FBI com a intenção de entregar o Pré-Sal e foi ridicularizada e tratada como "conspiracionista". Agora, os fatos estão aí vindo à tona para quem quiser ver e saber.

O que acontece politicamente no Brasil recebe forte influência dos Estados Unidos por sermos um país condenado pela conjuntura histórica do capitalismo a ser um mero exportadore de commodities. Aqui, vendemos soja e petróleo a preço irrisório e compramos lá de fora produtos industrializados de alto valor agregado. Não podemos ter tecnologia de ponta, não podemos ter indústrias competitivas, não podemos ter empreiteiras trabalhando no exterior e nem submarino nuclear. A Lava Jato – assim como a política neoliberal  e o lawfare – estão aqui para ajudar a destruir qualquer possibilidade de crescimento do país. E nós continuamos como idiotas aqui achando que Bolsonaro é o maior dos problemas...