segunda-feira, 24 de fevereiro de 2025

Sou viciado em correr, sim. Mas e daí?

 

É incompreensível para uma pessoa sedentária que alguém possa ser literalmente viciado em correr. Isso porque correr para quem está fora de forma é uma verdadeira tortura: dói a perna, dói o joelho, dói de lado na barriga, falta ar e no dia seguinte parece até que você tomou uma surra. Mas para quem corre regulamente há anos, a corrida é tão natural quanto escovar os dentes após as refeições. O problema é que a corrida, assim como qualquer outra atividade física prazerosa, causa dependência. Nas últimas semanas, tive que reduzir para menos da metade meu volume semanal de corrida para melhorar de uma dorzinha chata na canela que me incomoda há algum tempo. E o simples fato de não treinar por alguns dias já me deixa mais estressado, com piora da minha dermatite, com o sono quebrado, com medo de engordar e até com um pouco de desânimo com a vida. Esses são sintomas de abstinência de endorfinas liberadas pelo exercício físico. Este fato que mostra que eu tenho uma espécie de "vício" em correr. E, sim, ao contrário do que muitos pensam, corrida vicia.

A corrida é algo que está tão enraizado na minha vida que mesmo que correr fizesse mal para saúde, eu ainda assim continuaria correndo. A corrida é para mim o que o cigarro é para o viciado em nicotina. Isso porque a corrida me desestressa, me dá mais ânimo, me traz bem-estar, melhora minhas dores de cabeça, me faz me sentir vivo e dá a sensação de que o dia não foi desperdiçado. Dizem que isso se trata de um tipo de vigorexia, mas para quem já sofreu na pele os malefícios do sedentarismo, ainda acho muito melhor a vida de um corredor ativo com algumas dores do que um sedentário sem fôlego, sem força e sem saúde. Entre morrer parado e morrer correndo, prefiro a segunda opção.

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2025

Não confunda justiça com perseguição


Qualquer pessoa que entenda minimamente de ordenamento jurídico sabe muito bem que todo o processo que culminou na prisão de Lula em 2018 tratou-se de uma perseguição política liderada pelo ex-juiz Sérgio Moro. Já a denúncia contra o ex-presidente Jair Bolsonaro feita ontem pela PGR ao STF é algo muito diferente. Todo o trâmite que pode levar o ex-presidente a se tornar réu obedece a todos os ritos legais. Então essa coisa de comparar um golpista protoditador a mártires históricos é totalmente desonesto. Todo esse povinho saudosista da ditadura precisa entender que o Brasil deixou de ser uma república bananeira e que a nossa democracia custou muito caro. Não é nem minimamente aceitável que uma organização criminosa passe impune diante de sua rocambolesca tentativa de destruir o direito de todos os brasileiros a viverem num estado democrático de direito. Caso os envolvidos tornem-se réus, que sejam devidamente julgados por seus atos, sejam eles quem forem. O nome disso é justiça. Não confundam.

segunda-feira, 13 de janeiro de 2025

Cyberpunk 2077 não é cyberpunk o suficiente


O único game que eu tenho jogado nos últimos meses é o redimido Cyberpunk 2077. Um jogo que prometeu demais, foi lançado quebrado e deu a volta por cima no final. Cyberpunk 2077 hoje é um game maravilhoso que não lembra em nada o desastre do seu lançamento. Minhas mais de 800 horas de gameplay provaram que esta obra-prima da CD Projekt Red é um dos melhores jogos de mundo aberto da história e o segundo melhor RPG de todos os tempos logo atrás do Witcher 3. Pretendo abordar melhor as qualidades deste game em outro post. Neste aqui, contudo, eu vou apontar algumas das falhas que imagino que serão consertadas em futuras dlcs ou que serão corrigidas no próximo game da série e que deixaram Cyberpunk 2077 menos distópico que eu imaginava.


Falando de questões estruturais, o próximo Cyberpunk (projeto Orion) precisará ser ainda mais cyberpunk que o CP2077. Digo isso por questões de melhor imersão no rico universo criado por Mike Pondsmith. É preciso que a gente sinta que está de fato em uma distopia decadente e apocalíptica. Os implantes precisam ser mais agressivos, a violência mais presente, a atmosfera do game mais sombria, as roupas mais agressivas e a profanação do corpo algo mais perturbador. Esse primeiro Cyberpunk mais parece um GTA futurista que um mundo realmente cyberpunk. Eu não vejo tantos finais ruins nas missões secundárias como havia em Witcher 3, por exemplo, onde a gente tinha que escolher o "mal menor". Cyberpunk é sobre sobrevivência, revolta, luta, medo, fuga da realidade e niilismo em um futuro sem esperança. Nossas vidas no game não podem ser melhores que as nossas vidas reais. Inclusive, acho que atmosfera egoísta e brutal de Night City é um ambiente perfeito para desenvolver laços profundos com os raros personagens que se conectam conosco emocionalmente – já que sentimentos de amor e altruísmo contrastam e ganham força com o comportamento frio e indiferente da maioria dos moradores da cidade. Os romances do jogo são quase superficiais e pouco desenvolvidos. Personagens que salvam nossas vidas (ou que salvamos as deles) e que realmente criam laços importantes – como Takemura e Songbird – são solenemente negligenciados como opções de relacionamento.


Honestamente falando, acho que Cyberpunk 2077, apesar de ser um dos melhores games que joguei na vida, ainda pode ser muito melhor. Por isso, pontuei a seguir uma lista de itens que podem ser melhorados no game como um todo:

  • Não poder pular diálogos inteiros.
  • Neurodanças são chatas e repetitivas.
  • Personagens não reagem às nossas roupas.
  • Falta uma lanterna.
  • Bebidas alcoólicas não servem para nada.
  • Faltam mais tipos de roupas, de corpos para V e de cortes de cabelo.
  • Falta de customização de veículos (incluindo neon e nitro).
  • A história é relativamente curta e apressada.
  • Novigrad do Witcher 3 tinha mais brodéis que em toda Nightcity.
  • Morte por cronometagem invisível (autokill) em sequências de perseguições com tiroteio no carro.

PS: Sim, Cyberpunk 2077 ainda possui bugs raros que podem prejudicar a gameplay, mas a grande maioria deles desaparece ao reiniciar o game no último save.


Apesar de todos os problemas listados e da falta de mais conteúdo (o game teve uma expansão cortada), o game é absolutamente divertido e viciante. Além da boa história, as builds de combate e as formas diferentes de resolver as missões é algo que nunca vi igual na história dos games, tornando o fator replay bastante atrativo.

quinta-feira, 9 de janeiro de 2025

Faça a América biruta novamente

 

Se alguém tinha alguma dúvida de que estamos na Era da Idiocracia, basta ver as propostas mirabolantes do presidente eleito da maior economia do mundo. Incluir o Canadá como 51º estado norte-americano, tomar controle do Canal do Panamá e invadir a Groelândia são apenas algumas das sandices do próximo governo. Isso sem falar, claro, de todo discurso racista e xenófobo que reverbera entre os trumpistas há anos. Mas o mais grave mesmo é o risco de espalhamento generalizado de fake news pela web. A turma do Elon Musk, do Steve Bannon e do Robert Mercer – mecenas do circo da extrema-direita pelo mundo – não gosta de democracia e frequentemente confunde liberdade de expressão com liberdade de opressão. A internet não pode ser terra sem lei. Mentiras, discursos de ódio e incitação ao crime precisam ser combatidos em todos os lugares. Pior que a Era da Idiocracia é a Era da Selvageria. Se quisermos viver num mundo democrático, essas loucuras não podem ser toleradas.