Se alguém me dissesse em 2006 – ano que comecei a militar inconscientemente a favor do feminismo – que um dia as feministas seriam como os conservadores as descrevem (ou seja: radicais, intolerantes, misândricas e revanchistas), eu JAMAIS acreditaria. Pois bem, quase dez anos depois, infelizmente, aqueles estereótipos antifeministas usados como espantalhos pelos reacionários acabou se tornando uma realidade. Hoje nós temos uma ala radical no feminismo que odeia homens, que acha que todo homem é estuprador, que rejeita transexuais, que é heterofóbica, que é moralista, que é anticientífica e que não aceita homens nem como aliados. Ou seja, para algumas pessoas, o feminismo virou uma espécie de Clube da Luluzinha revoltada que serve para acolher mulheres vítimas dos traumas do patriarcado e que desejam algum tipo de revanche contra os homens. Alguns chamam essas integrantes radicais de RadFems, outros de femistas ou mesmo de feminazis, mas para não cair na falácia do escocês de verdade, vamos considerar que elas são feministas mais exaltadas.
Aqui no blog já dediquei vários posts para falar delas e mostrar como esse posicionamento radical é ruim para o movimento feminista como um todo. Engraçado que alguns conservadores que descobrem meu blog por postagens criticando as feministas acham que eu sou um reacionário de direita – e quebram a cara depois quando leem os meus posts sobre política. E o contrário também ocorre: quando alguma feminista mais exaltada descobre meu blog por meio dos posts políticos, acaba quebrando a cara e me xingando de "esquerdomacho" quando descobrem meus posts criticando as feministas. O lado bom disso é que eu estou longe dos extremos, mantendo-me distante dos radicais.
Lamentavelmente, as radicais do feminismo torcem desesperadamente para que eu (como qualquer outro homem) morra ou tenha um câncer, porque se eu falar algo A FAVOR do feminismo, elas me atacam dizendo que eu "não tenho vivência pra dar pitaco na luta alheia", ou que elas não precisam de "pirocos" (vulgo homens) para "roubar o protagonismo delas", ou então que "o movimento feminista é autossuficiente e que elas não precisam de macho para cagar regras". E se eu CRITICAR o feminismo então, aí é que a vaca vai para o brejo, me xingam de tudo, até de estuprador. Ou seja: querem proibir qualquer opinião de alguém do sexo oposto sobre o tema, fato este que é justamente o conceito de sexismo. Mas como eu não tenho medo de Radfem e nem de conservador machista, vou dar o papo reto: sou totalmente a favor do feminismo, porém, sou contra o radicalismo. Aliás, sou contra qualquer radicalismo, venha ele de onde vier.
O mais bizarro disso tudo é que o radicalismo vindo do feminismo se parece demais com o conservadorismo cristão, tornando ambos quase indistinguíveis um do outro em certos aspectos. A tirinha abaixo exemplifica bem isso:
Essa semelhança com o conservadorismo vem de preconceitos típicos de pessoas medrosas e ignorantes que elegeram bodes expiatórios em comum para disfarçar os seus receios e estigmas psicológicos. Como bem se sabe, é mais fácil criticar o que nos assusta do que assumir os nossos medos e tentar superá-los. As feministas radicais, ao que me parecem, pegaram tudo de mais reacionário e moralista que tivemos na segunda onda feminista para tentar combater o machismo. E não achando isso suficiente, várias dessas feministas passaram a repetir ideias tresloucadas e preconceituosas das feministas
Heterofobia: Para as defensoras do lesbianismo político, mulheres heterossexuais não existem – ou, pelo menos, não deveriam existir. A heterossexualidade seria uma "construção social" para que o homem domine a mulher em relacionamentos machistas e abusivos. Pesquisas fajutas, como essa, que seriam a "prova" de que a heterossexualidade feminina é um mito, já foram refutadas. Eu até concordo que relacionamentos homoafetivos são mais igualitários e saudáveis que os heteroafetivos, mas a orientação sexual – como o pastor Malafaia também insiste em duvidar – não é uma escolha. Muitas mulheres héteros têm sido acusadas de "dormirem com o opressor" ou de "erotizar a própria opressão", carregando culpa simplesmente por serem o que são. Se duvida da heterofobia dentro do feminismo, procure ler o livro da Daphne Patai chamado Heterophobia: Sexual Harassment and the Future of Feminism. Esse pensamento dogmático e autoritário só gera fundamentalistas e pessoas que seguem uma ideologia como se ela fosse uma seita.
Homofobia: Se por um lado ser lésbica é empoderador, ser gay masculino é sinônimo de misoginia para algumas radicais. O simples fato de achar a genitália feminina feia já é motivo de sobra para você ser um misógino-lesbofóbico. Gosto ou falta de atração sexual por mulheres NÃO é misoginia – da mesma forma que achar o pênis algo feio ou fedido também não é misandria. Se está duvidando, dê uma olhada neste link e também nos comentários deste outro, onde feministas e seguidores da tríade Malafaia-Bolsonaro-Marisa Lobo convergem suas opiniões de que se não é possível curar os gays, que pelo menos eles mudem seus discursos de autoafirmação "gayzistas-opressores".
Transfobia: É praticamente uma regra dentro das adeptas do Radfem que mulheres transexuais são "machos" e todo macho é estuprador, é inimigo e precisa ser afastado do movimento feminista. Na cabeça oca e preconceituosa dessas feministas, ter pênis ou vagina é que define se alguém é homem ou mulher, quando, na verdade, a figura social de homem e mulher são construções sociais. Além disso, a identidade de gênero não está no que você tem entre as pernas, mas, sim, entre as orelhas. Esse preconceito é o que chamamos de transmisoginia.
Objetificação sexual: Pouca roupa ou sensualidade na tevê, nos anúncios, nas revistas, nos quadrinhos ou nos games ganhou tanto de conservadores cristãos quanto de feministas radicais o apelido de "objetificação". As tais "mulheres objeto" são um rótulo sexista dado exclusivamente a mulheres atraentes que usam de sua liberdade para expor seus corpos como quiserem. Alegações desprovidas de autocrítica como: "ela (a mulher) só serve como objeto de apreciação" ou "ela só serve como instrumento para deixar os paus dos homens duros" são argumentos incorporados pelos moralistas de ambos os lados. Há evidências que essa história de objetificação sexual não passe de uma competição intrassexual entre as próprias mulheres que culpam, como sempre, o patriarcado pelas mulheres usarem poucas roupas ou serem "sexys demais". Também há quem diga que essa paranoia toda contra a objetificação é inveja ou até ciúmes de seus homens, como eu citei no post Objetificação e a síndrome da mulher mal comida e, mais recentemente, no post Objetificação e moralismo: um não vive sem o outro. Se nem o ex-presidente Jânio Quadros conseguiu impor seu moralismo proibindo o uso de biquínis através da lei, o que dizer então de uma ala radical do feminismo? Se querem reclamar, reclamem da imposição de padrões de beleza cruéis e para que corpos de todos os tipos sejam objetificados – e não apenas as "magras". Só resta saber se o capitalismo acharia isso lucrativo.
Moralismo: Movimentos antipornografia, antiprostituição, antifunk, antibaixaria e antibdsm dentro do feminismo possuem resquícios de moral cristã e se baseiam em uma visão unilateral e generalizante da realidade que elas enxergam com os óculos da ideologia delas. Ao invés de combaterem a exploração e as coisas erradas por trás da indústria pornô e da prostituição, por exemplo, elas combatem a pornografia e a prostituição em si, mesmo quando as mesmas são realizadas com o consentimento e a vontade das mulheres independentes envolvidas. Fora toda aquela papagaiada de que a pornografia promove a cultura do estupro, a pedofilia e outras associações forçadas típicas de carolas. Slogans como “Pornografia é a teoria, estupro é a prática” são disseminados sem a menor responsabilidade como se tivessem algum amparo acadêmico psicológico ou sociológico. Será que produtoras feministas de pornografia concordariam com essa censura que estão querendo impor, tais como Petra Joy, Erika Lust e Anna Span? Nem toda pornografia é sexista, violenta ou reforça estereótipos. Pobres radicais que não sabem nem que a pornografia pode ter fins filantrópicos e até mesmo ambientais. Nunca é demais dizer que essa guerra moralista contra o entretenimento sexual é uma guerra perdida. A Igreja Católica queimou e perseguiu os hereges adoradores da luxúria durante séculos e mesmo assim a pornografia e a prostituição nunca foram extintas. As Leis da Sodomia, na Era Vitoriana, também foram um fracasso total em tentar controlar as pessoas sexualmente. Fora que essa atual perseguição é um ataque à liberdade de expressão. Todo mundo tem o direito de filmar ou escrever as suas safadezas e divulgar na internet. Nem a Igreja e nem as feministas radicais serão capazes de deter isso.
Intolerância: Em 2013, em uma manifestação pelo aborto e pelos direitos dos homoafetivos na Argentina, um grupo de feministas cuspiu, atirou fezes e usou tinta em spray contra jovens que defendiam a catedral de San Juan de Cuyo. Na ocasião, também queimaram uma imagem do Papa Francisco, que é argentino. Há um vídeo que mostra o contraste entre a agressividade das feministas com a sobriedade pacífica dos cristãos agredidos com insultos e também fisicamente. Será que essa intolerância raivosa e vingativa pega bem para o movimento? Sei que muitas vão pensar: "Quem é que esse piroco opressor pensa que é para dizer como nós, mulheres, devemos atuar no feminismo? Vai cagar regra pra cima dos teus machos, seu misógino!" Evidentemente que esse argumento delas é contraprodutivo, mas outras pessoas normais que veem esse tipo de discurso dogmático provavelmente hão de entender que é necessário se posicionar de alguma maneira com relação a esse ativismo histérico.
Medo: Se você acha que a ameaça de estupro como método de controle das mulheres é exclusividade da misoginia patriarcal, pode se preparar para rever os seus conceitos. Tenho visto com uma frequência cada vez mais preocupante mulheres supostamente feministas dizendo a outras mulheres que não concordam com as ideias delas coisas do tipo: "Continue confiando no opressor (homens) para que um dia ele acabe te estuprando", ou: "Quando uma mulher trans te estuprar, aí você vai ver", ou ainda: "Todo homem é um estuprador em potencial, cuidado". Isso são ameaças da mesma estirpe que é usada há milênios pelos religiosos para manter seus fiéis obedientes à seita através do medo. Cria-se um pânico moral que só pode ser tratado pelo feminismo. Essa ameaça de estupro terceirizado pelas radicais deve ser denunciada como crime de violência contra a mulher. Ameaças de estupro, sejam elas diretas ou indiretas, são sempre gravemente criminosas. Isso sem falar que a falácia da composição (generalizar que todos os homens são perigosos) é irresponsável por se tratar de puro terrorismo psicológico.
Racismo: Num dia desses eu vi uma treta entre feministas negras e feministas brancas no Facebook. O lado "negro" acusava o lado "branco" de racismo, elitismo e por colocar sempre os holofotes do movimento sobre as mulheres caucasianas. Já lado "branco" acusava as outras de segregacionismo, racismo invertido e até de vitimismo. Enfim, uma discussão que nunca deveria existir entre grupos oprimidos. As mulheres deveriam se unir independentemente da cor da pele, mas parece que a força do racismo é tão grande que afeta até mesmo o feminismo. Dizem que se conselho fosse bom não se dava, se vendia, mas eu aviso mesmo assim que feministas brigando entre si é tudo o que o patriarcado quer para enfraquecer e fragmentar o movimento. Se acha que é implicância ou invenção minha, por favor, deem uma lida neste post e neste outro também.
Olhares: Olhar não é assédio. Olhar de forma natural para pessoas nunca foi assédio. O que poderia ser considerado assédio seriam aqueles olhares tarados e persistentes que alguns homens lançam sobre algumas mulheres, como se nunca tivessem visto uma mulher na vida. Se bem que, neste caso, eu não consideraria assédio, mas sim falta de educação mesmo: um atestado de babaquice. Mas as que se sentem mal com todo e qualquer olhar masculino, recomendo que procurem acompanhamento psicológico, pois isso pode ser algum tipo de fobia social, e o feminismo – até onde eu aprendi – não é terapia de grupo.
Anticiência: Se qualquer afirmação ou teoria científica contrariar os dogmas do feminismo radical, automaticamente a ciência passa a ser desqualificada como um todo por ela ser uma "fortaleza do patriarcado", reforçando, por isso, o machismo. A ciência só vale quando atende aos interesses delas (veja o caso da transfobia das Rads e da heterofobia, por exemplo). Ativismo cego que idolatra pseudociência só pode ser diarreia mental.
Campos de Concentração: A feminista britânica Julie Bindel defendeu que deveriam existir campos de concentração para homens. Não é à toa que algumas feministas são chamadas de feminazis pelos gaiatos.
Apesar desses extremos, reitero o título do post dizendo que sem feminismo, a humanidade será um lugar muito pior para se viver não só para mulheres, mas para todos. Ainda há muita violência contra a mulher, muita misoginia, muita desigualdade e muitos outros problemas que precisam ser combatidos incansavelmente. E não podemos desqualificar um movimento inteiro só porque há radicais maniqueístas infiltradas nele. Crimes contra a humanidade, como o feminicídio, precisam ser combatidos não só por uma questão de direito das mulheres, mas, sobretudo, por questões de direitos humanos.
O que as radicais precisam entender é que: o que precisa ser combatido não é o homem, mas sim o machismo – até porque há mulheres machistas e homens feministas. E elas também precisam entender que igualdade (ou equidade) não é falsa simetria. Portanto, se não houver uma luta pela justiça e pela igualdade (e não por privilégios), qualquer feminista será capaz de fazer seu próprio julgamento arbitrário do que é certo ou errado, fazendo com que um movimento que era uma vertente do igualitarismo brigue por vingança e valores individuais.
Enquanto isso, grupos conservadores ampliam seu discurso político e jurídico, interferindo no Estado para criar leis e políticas públicas que reduzem direitos para mulheres e ampliam discriminação de gênero. Onde estão as radicais nessas horas? Ah, claro, xingando os homens...
É por isso que o feminismo é tratado como religião por algumas pessoas |
PS 1: Eu não escrevo posts criticando o feminismo por ser um piroco-opressor-misógino querendo cagar regra. A minha preocupação é que o movimento se fragmente e a luta pelas verdadeiras causas do feminismo sejam deixadas de lado por revanchismo, individualismo e fanatismo. Não gosto de criticar o feminismo, assim como também não gosto de criticar a esquerda ou o ateísmo, mas isso às vezes precisa ser feito.
PS 2: Pode ser paranoia minha, mas às vezes tenho a forte impressão que conservadoras cristãs estão se infiltrando no feminismo para combater todo tipo de coisa "imoral" e "indecente". Já faz tempo que eu digo que essa história de "pecado contra a pureza" não cola mais, especialmente entre os não crentes. Ou como já dizia o velho ditado: "se você não pode derrotar um inimigo, se alie a ele". Ou então, se não é isso, pode ser que o próprio feminismo esteja começando a virar uma religião, já que há empreendedores morais dentro do mesmo e pensamentos dogmáticos sendo disseminados por aí sem o menor recato. A maior prova disso são os comentários hostis e as tentativas de censura que as justiceiras tem feito pela internet idênticas aos cristãos fundamentalistas, derrubando páginas do Facebook, vídeos do Youtube e até blogs. Torço para estar enganado.
Imagens e prints da página Aventuras na Justiça Social.
Reitero tudo o q estava escrito no print da Bibis, ela só disse verdades
ResponderExcluiromens não passam de portadores de anomalia y
Das duas, uma: ou tu és um troll tosco se passando por radfem, ou tu és uma autêntica e legítima feminazi.
ExcluirProve que eu tô errado agora.
nenhum dos dois, apenas alguém q lida com a verdade
Excluiromens são repugnantes, nojentos, asquerosos, responsáveis por 95% (ou mais) das desgraças desse planeta, o sexo masculixo é um equívoco evolutivo, lixomens são uma praga
Felizmente, a natureza dará conta de eliminar esse câncer do planeta terra, pois assim q as mulheres desenvolverem partenogênese e forem capaz de fecundar umas as outras, fato q não está longe de acontecer, seja pela evolução/seleção natural, seja pela tecnologia, os omens passarão a ser completamente INÚTEIS na natureza, esse dia está mais perto do q nunca, quero só ver o q vcs omens vão fazer kkkkkk
Oh, baby, calma lá!
ExcluirPra que tanto rancor, criatura? Isso faz mal pra saúde, sabia?
Hitler, aquele do bigodinho, lembra? Ele pensava igualzinho a ti, só que no lugar das mulheres era a raça ariana, e no lugar dos homens eram os judeus. Lindo pra você, né? Condena os "omens" mas age e pensa igualzinho ao pior deles.
Durma com uma contradição dessa!
Boa!
ExcluirÓtimo texto sobre educação e opressão.
ResponderExcluirhttps://www.pensarcontemporaneo.com/1832-2/