Será que o modelo padrão de amor e relacionamento faz todo mundo feliz? Será que todas as pessoas têm vocação para serem felizes ao lado de um cônjuge ou de um(a) namorado(a)? Eu vou contar a história de um rapaz chamado Douglas (nome fictício) para que se entenda melhor a situação.
Douglas, desde os tempos de colégio era joguete dos colegas e motivo de chacota por ser gordo, baixinho, feio, tímido, bobo e esquisito. Douglas até gostava de uma determinada menina de sua sala, mas sabia que ela não era para ele por ser areia demais pro seu caminhãozinho. Douglas virou um adulto, e além de continuar gordo, baixinho, feio, tímido, bobo e esquisito, também ficou careca, pobre, doente, depressivo e ainda descobriu que o seu pênis era pequeno demais. Eu conheci Douglas num sebo de revistas e DVDs. Ele sempre aparecia no sebo para comprar baratinho os filmes do gênero que ele mais gostava: o pornô. Para Douglas, era muito mais fácil e compensador chegar numa banca e dar 10 paus num filme pornô, do que passar pelo longo e sofrido processo para conquistar uma garota.
Para Douglas arrumar uma mulher, ele precisaria fazer uma rigorosa dieta, deixando de comer o que gostava e passando a realizar penosos exercícios físicos para emagrecer. Também gastaria muito com academias de musculação, com implante capilar, nutricionista, personal trainer, cirurgias estéticas, tratamento com hormônios para crescimento, precisaria aperfeiçoar e treinar as suas cantadas e ainda gastar uma fortuna com tratamento para aumento peniano. Isso para Douglas teria um custo tão alto, que para ele era infinitamente melhor ficar com as fantasias que vivenciava ao assistir os filmes pornôs ao invés de passar por todo esse martírio e ainda correr o risco de ser traído, esquecido e abandonado pela garota que ele amasse. O que é bom que se diga é que apesar de nunca ter tido uma namorada, Douglas era feliz – embora não deixasse de imaginar como sua vida seria diferente se tivesse uma mulher especial para amar.
Outro problema de arrumar uma garota estaria no fato de Douglas querer que a garota fizesse junto com ele todas as acrobacias dos filmes de sacanagem que ele assistia. São raras as mulheres que se amarram nas estripulias sexuais exibidas nessas películas pornôs, logo, Douglas correria o sério risco de se frustrar depois de todo o martírio para ficar bonito, gostoso e ganhar autoconfiança. Então Douglas decidiu abraçar a solidão e encontrou nela a companheira por toda a vida.
Essa história nos traz uma pequena reflexão. Cada um é feliz do seu modo, de acordo com as ferramentas que possui e até onde pode chegar. Douglas, de certa forma, era feliz sozinho. Ao invés de virar um misógino babaca ou masculinista frustrado por não ter sido amado por nenhuma mulher, ele aprendeu a se amar e a ser feliz consigo mesmo.
Apesar de continuar feio, gordo, nerd, esquisito e virgem, Douglas ama seus verdadeiros amigos, arrumou um bom emprego, tratou da depressão, tratou da sua doença, usa uma peruca sexy, tem um canal de games no YouTube e é leitor assíduo do blog Ideias Embalsamadas. Segundo ele, mulher nunca fez falta na sua vida, porque ele aprendeu a ser feliz sozinho e aprendeu a se amar acima de tudo.
As mulheres da vida de Douglas |
A lição que essa historinha do Douglas deixa é que não vale a pena tentar ser feliz sendo quem a gente não é. Se um dia alguém amar a gente, tem que ser pelas nossas qualidades e defeitos. Não vale a pena ser amado pelo que a gente não é. Se encaixar em modelos padrões de felicidade impostos pela nossa cultura não são garantia de felicidade para ninguém. A gente precisa aprender a se amar como a gente é e a se aceitar. Como já dizia ou velho ditado: antes só que mal acompanhado.
O amor vem de onde você menos espera |
Cara, descobri seu blog há uns dias e desde então não parei mais de ler. Além de não cometer erros de português (já fui professor), você discorre com lucidez, tentando se libertar de conceitos e ideias socialmente impostos antes de colocar sua opinião, então: parabéns!
ResponderExcluirAgora, me diz, o tal Douglas é você, não é? Sabe, cara, eu sempre fui tímido, gordo, voz "pra dentro", o 1° da turma, alvo de bullying constante, nem feio nem bonito, e tudo isso contribuiu para que eu só desse meu primeiro beijo aos 25 anos, e mesmo assim acho que foi porque a mulher por quem eu estava completamente apaixonado estava com pena de mim. Tive muitas paixões não correspondidas antes desse beijo. Cheguei a tentar suicídio depois de não ver mais saída pra minha solidão (eu era um então romântico idealista) e estar completamente frustrado em minha vida profissional e financeira. Após isso, tive minha primeira namorada, depois outra, depois mais uma vez, finalmente conheci aquela que entendia ser "a mulher da minha vida", mas também terminou, e tive depois outra, mais uma etc. Descobri, somente hoje aos 35 anos, que não quero mais mulher nenhuma em minha vida, foi quando encontrei seu blog por meio do texto "porque odeio relacionamentos". Quem diria: eu que era uma romântico idealista bobalhao apaixonado, que queria ter uma família tradicional como as dos comerciais de margarina, percebi a duras penas que não nasci pra relacionamentos, que são uma grande bobagem, e hoje tenho vontade de vomitar ao ver um casal de mãos dadas (uuuuurgh). Como eu, você é ateu, esquerdista, avesso a relacionamentos, interessado em astromia. Só não vejo muita graça nos videogames, embora eu os adorasse quando criança.
Olá, Francisco. Desculpe-me a demora em responder, pois estou com pouquíssimo tempo.
ExcluirNão sou tal Douglas, mas me identifiquei muito com a história dele que me trouxe essa pequena reflexão.
Mas o segredo para ser feliz está justamente em nos libertarmos dos padrões de felicidade socialmente impostos.
Abraço.