sábado, 4 de outubro de 2025

A antipornografia é mais perigosa que a pornografia


Já faz um tempo que vejo ser divulgado de forma exaustiva na internet (e fora dela também) a defesa do que eu chamo carinhosamente de 'kit panaceia', que é a solução rápida e fácil de todos os problemas da sua vida baseada em basicamente quatro passos mágicos: - Fazer jejum de dopamina, - Botar o shape, - Fazer terapia e - Parar de consumir pornografia. Se você entrar nas redes sociais, os coachs de plantão defendem esses passos mágicos como solução para praticamente tudo: dor, depressão, estresse, ansiedade, desemprego, baixa autoestima, distúrbios sexuais, TOC, TDC, vício, fobias e até coisas que nem são problema como ser solteiro, por exemplo. Esse 'kit panaceia' pode até ser útil para algumas pessoas com problemas mais simples. O problema é que além de não possuir nenhuma base científica, esse combo de soluções fáceis tem alguns problemas.

Desnecessário dizer que o tal jejum de dopamina, por exemplo, precisa ser feito com a indicação e o acompanhamento profissional para não bagunçar o sistema de recompensa cerebral e provocar irregularidades hormonais. O mesmo se aplica ao treino de musculação que também precisa de supervisão profissional para evitar lesões e frustrações. Terapia é sempre bom, mas não é solução para tudo. Já parar de ver pornografia só é problema quando isso se torna, de fato, um problema. Acusar a pornografia por si só de ser prejudicial é um modus operandi típico das religiões que sempre tiveram essa mania criminosa de controlar a sexualidade humana para atender a seus fins. Todos os quatro itens do 'kit panaceia' são dignos de críticas mais profundas, mas é sobre a pornografia, especificamente, que eu gostaria de fazer uma breve explanação.

Secsu é bom e todo mundo gosta (ou não sim).

Desmistificando a pornografia
Este tema não é novidade aqui neste bloguinho. Há várias postagens mais antigas com críticas a essa cultura exagerada da "despornificação". Para começo de conversa, eu diria que consumir pornografia não é crime, não é errado e não é "vício". Pode até ser "imoral" ou "pecaminoso", mas não estou aqui para discutir sobre valores espirituais ou pessoais. Quero discutir fatos. Pornografia só é prejudicial quando o uso dela passa a controlar a sua vida ou traz consequências ruins para os que estão a sua volta. Fora isso, é moralismo disfarçado de pseudociência. Subgrupos masculinistas, feministas, nofapistas e religiosos, por mais heterogêneos que sejam entre si, têm o péssimo hábito de unirem seus argumentos falaciosos contra todo tipo de arte erótica alegando exploração, violência, objetificação, hiper sexualização, vergonha, vício, culpa e crime. Apesar desses problemas afetarem em maior ou menor grau a indústria pornográfica, eles estão presentes também em quase todas as outras indústrias existentes (desde a alimentícia até a da moda) – só que esse detalhe ninguém comenta devido ao moralismo seletivo. E quase todas essas alegações moralistas caem em contradição quando contestadas a sério, já que há muita generalização, exageros, mentiras e interesses financeiros em "despornificar" as pessoas.

Quando dizem para as pessoas pararem de assistir pornô, ocorre uma generalização ao se partir do pressuposto que todo uso de pornografia é ruim. E a gente sabe que não é bem assim. Querendo ou não, a pornografia é uma expressão natural da sexualidade humana. Pornografia é a arte voyeur e traz muitos benefícios. Pornografia serve para alimentar fantasias, fazer a pessoa conhecer a própria sexualidade, dar escapismo sexual em contextos de repressão, trazer alívio da ansiedade, alívio da frustração e é uma ótima forma de se sentir saciado sem trair, sem precisar de um parceiro ou riscos de transmitir ISTs. Fora que há casais (e trisais) que além de assistirem pornô juntos, ainda fazem uma rendinha extra divulgando seus conteúdos adultos em plataformas pagas. É verdade que a pornografia mainstream é muito sexista, limitada, performática, distorcida e repetitiva, mas condená-la não é uma atitude sábia: é, sim, uma forma dissimulada de censura. A gente sabe que a pornografia ensina errado, mas a proposta da pornografia nunca foi educativa, porque o seu ramo não é educação, mas, sim, entretenimento adulto. A educação sexual é algo que devia ser aprendido na escola, mas o mesmo moralismo que combate a pornografia sempre trabalhou contra essa educação. Mas eu vou dar um passo além, porque a hipocrisia não para por aqui.

Não é fácil ser garoto na puberdade!

Entendendo a sexualidade masculina
Qualquer homem que tenha passado pela puberdade sabe que aquela idade que vai dos 13 aos 20 anos de idade corresponde ao pico de produção do hormônio sexual masculino. Não por acaso, é justamente nesta fase que os adolescentes fazem todo tipo de loucura por sexo, porque além de imaturos, estão subindo pelas paredes de desejo e sentindo a euforia da descoberta. E isso é normal, pois a natureza nos programou assim por questões de sobrevivência evolutiva. Eu sou de uma época que não existia internet acessível e a pornografia era bem escassa por ser de difícil acesso. O mais perto que chegávamos de um pornô tradicional eram as revistas masculinas e os filmes eróticos softcore que passavam nas madrugadas da Band. E mesmo com essa escassez de material sexual da época, o furor sexual dos adolescentes era algo que beirava a loucura: era menino "transando" até com buraco da parede, era garoto de 11 anos sendo levado pelo pai para transar com prostitutas, era maluco fazendo coleção de baralho erótico, era trombadinha roubando revista de sacanagem da banca de revistas, eram os caras se gabando por terem se masturbado mais de 20 vezes num dia, era "contrabando" dos quadrinhos do Carlos Zéfiro, era fanfic erótica dos "Zé Chinelão" da vida contada para impressionar a "gangue", era garoto praticando zoofilia até com bicho de pelúcia, era incesto e todo tipo de fornicação e tara possível. A diferença para hoje em dia é que a internet e o celular fazem o foco dessa hiper sexualidade adolescente se fixar mais na pornografia e é isso que torna ela tão compulsivamente consumida nesta fase. Então o foco nunca deveria ser esse combate burro e fracassado contra o entretenimento adulto, mas no tesão descontrolado da idade que, diga-se de passagem, também é inútil combater, porque é normal e natural.

Para quem não sabe, tentaram proibir e punir a sexualidade dos meninos nas épocas dos internatos e adivinhe só: também deu errado. Então essa porralouquice de combater a pornografia sem entender a natureza humana acaba é trazendo o efeito contrário, afinal, o que é proibido é muito mais gostoso e tentador de fazer. O que faz a rapaziada acessar pornô direto é a ebulição hormonal – e é muito melhor isso que aquela bagunça sexual do passado onde rolava mais abusos, zoofilia, atentado ao pudor, gravidez indesejada, disseminação de IST, etc. Fora que mesmo que um jovem rapaz não se masturbe vendo pornô, ele vai se tocar pensando em quê? Nas nuvens? Nas Cataratas do Iguaçu? Na voz sexy do ET Bilu? No formato curvilíneo dos anéis de Saturno? É óbvio que o cara vai descabelar o palhaço pensando em coisas tão sujas e pervertidas quanto a pornografia, dando na mesma no fim das contas. Um ponto interessante é que por possuir mais neurônios no córtex visual, os homens acabam se excitando mais fácil com a pornografia mainstream que com literatura erótica ou a ASMR com sons 3D. Alie isso ao pico hormonal de testosterona e o sucesso da pornografia está explicado.

Por essas e outras que a maioria do público consumidor de pornografia é mais jovem. Adultos, por terem seus hormônios mais amenos e vida sexual ativa, não costumam se apegar tanto à pornografia, já que ela é muito menos satisfatória que uma relação sexual saudável e completa. Arrisco dizer que a adicção real em pornografia é algo raro em adultos. Portanto, alegar que todo mundo que consome pornografia é "viciado" é tão absurdo quanto alegar que todo mundo que consome bebidas alcoólicas é um alcoólatra.

Faça amor, não faça guerra!

A maldade está nos olhos de quem vê
Outra coisa que me deixou chocado é que há também um movimento contra o subgênero literário dark romance, que alguns seres arcaicos gostam de enquadrar como sendo "pornografia para mulheres". A gente já vive num país onde as pessoas leem pouco e onde a sexualidade feminina sempre foi reprimida para vir saudosistas da Era Vitoriana com esse papo de "vício" para romances e contos. Isso só mostra que toda essa discussão antiponografia tem uma base moralista que não acha nada de errado numa pessoa ter compulsão sexual ou relacionamentos monogâmicos castradores, mas, em contrapartida, consumir material erótico seria quase como fazer um pacto com o capiroto. Daí que – só para emporcalhar e discussão com mais pseudociência – sempre citam no fim das contas que o pornô faz mal porque "afeta o cérebro da mesma forma que drogas". Sinceramente, acho que quem alega isso nunca se apaixonou na vida.

Quando a gente se apaixona de verdade, o nosso objeto de paixão causa no nosso cérebro o mesmo efeito que drogas pesadas também causam. Nós ficamos literalmente "viciados" na pessoa pela qual estamos apaixonados. Mas isso ninguém quer combater, porque se apaixonar é "lindo" para a cultura ocidental cristã, mesmo quando sofremos por amores platônicos e temos sintomas claros de adicção, como perda de apetite, perda de sono, perda de foco, etc. Se você disser que é feliz assistindo pornografia todos os dias, vai ouvir aquela ladainha moralista da liga das senhoras católicas. Mas se falar que está sofrendo por uma paixão platônica, aí a discussão gira 180 graus e tudo vira um mar de rosas. Esse "dois pesos e duas medidas" não faz sentido, já que tanto a paixonite quanto a pornografia causam o mesmo "estrago" no nosso cérebro.

Sobre relacionamentos serem "destruídos" pela pornografia, como alguns recalcados alegam, esta é mais uma desculpa esfarrapada para esconder as reais causas de um divórcio. Se um dos cônjuges sente ciúmes de um FILME ou FOTO, bem, isso só mostra o grau de imaturidade afetiva da pessoa em questão. A fidelidade idealizada e a possessividade é que são perigosas em um relacionamento. Já o marido que deixa de procurar a esposa para ver sacanagem não faz isso pela pornografia, mas porque ou o casamento já não estava bom, ou porque não sente desejo de transar com a mesma mulher todo dia. Escapismo mental, queira ou não, faz parte da manutenção do desejo. Sem mencionar que nem todo mundo é demissexual para só sentir tesão por uma única pessoa. E muito do ciúme da pornografia mostra, na realidade, uma insegurança e baixa autoestima que precisam de terapia. Se duvida que existe gente assim, leia os comentários desta publicação do Fabricio Carpinejar e veja que os paladinos da moral e dos bons costumes não vieram ao mundo para brincadeira. Além disso, problemas conjugais se resolvem com diálogo e estabelecimento de limites. Aliás, é bom que se diga que relacionamentos são uma fonte abundante de sofrimento, ciúmes, brigas, perda de liberdade, traições, violência, chantagens e até assassinatos. Mas para os moralistas, a pornografia é pior – coisa que não faz o menor sentido na minha mente racional. Por isso acho que faria muito mais lógica defender a solteirice que atacar a pornografia. Relacionamentos são o problema, não um filme que mostra gente namorando sem roupa.

Liberdade sexual empodera!


Enfim, essa cultura antiponografia causa mais transtornos que a própria pornografia, porque ela coloca problemas onde eles não existem para, em seguida, vender soluções caras. Além de deixar todo mundo paranoico, culpado, castrado e burro. O que causa problemas na nossa sexualidade é fanatismo religioso, falso moralismo e tabus morais da idade média. O resto, pode relaxar que Freud explica. 

Para quem duvidar, neste link externo há uma publicação de um estudo que prova que a culpa por ver pornografia é pior que qualquer mal causado por ela.

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