Robôs conscientes: realidade ou ilusão?

O robô Johnny 5, do filme Um robô em curto circuito

A consciência é um fenômeno tênue, volátil, breve e perecível. A consciência não é um fenômeno processado continuamente, como alguns deduzem - ou seja: em alguns momentos ela está operante (estado de vigília) e em outros está inoperante (estado de sono, coma ou anestesia). Só somos capazes de notá-la quando a mesma está ativa, sem interferência do subconsciente ou de outros distúrbios que alterem a atuação dos neurotransmissores. 

Mesmo com todo o progresso da neurologia, não há um consenso de onde realmente possa vir a nossa consciência.

Apesar da sabedoria popular confundir alma com mente, conclui-se - através da investigação da neurociência - que a mente é um subproduto do cérebro. A essência da nossa consciência está na fonte de tomada de decisões do cérebro, que fica localizada no lobo frontal do córtex. A consciência é o resultado da interação entre a tomada de decisões (a nível de córtex pré-frontal) com as memórias e emoções armazenadas no sistema límbico (hipocampo). O conjunto de impulsos nervosos que excitam os neurotransmissores é que abastece a nossa consciência com abstrações, imagens, sons e raciocínio.

Apesar de todo o nosso conhecimento a respeito da mente, ainda nos paira uma dúvida persistente: será que este processo chamado consciência não pode se repetir também em máquinas, computadores e robôs? E sobre essa Inteligência Artificial (IA), então surgem outras dúvidas imediatas, tais como:

É mesmo possível criar uma consciência artificial?

Baseado nos esclarecimentos acima sobre a consciência, é teoricamente possível que uma futura geração de computadores de núcleo quântico possa desfrutar da mesma consciência que nós. Se um processador adquirir autonomia e desenvolver a linguagem e a capacidade de aprendizado, existem grandes possibilidades da consciência surgir espontaneamente. Porém, um dos grandes problemas é que o sistema de entrelaçamento das nossas redes neurais é baseado em complexas ramificações fractais improvisadas. Ou seja: o nosso cérebro evoluiu de sistemas primitivos até o mais complexo, criando verdadeiras 'gambiarras' interligando as partes mais antigas com mais as recentes. Isso nos leva a crer que a nossa consciência pode ser um mero acidente bioquímico através de anos de evolução.Traduzindo isso para uma linguagem de programação, é como se a consciência humana fosse baseada em processos randômicos articulados pelas diversas regiões do cérebro. E se a consciência for realmente algo aleatório, reproduzi-la propositalmente pode ser impossível.

Como diferenciaríamos uma consciência artificial da consciência humana?

Isso envolve uma questão ética muito complicada. Acredito que a maioria dos teístas, e até mesmo alguns agnósticos, não dessem crédito à consciência de robôs autônomos. Os teístas possivelmente apelariam para a questão espiritual, alegando que máquinas não têm alma. Já os agnósticos exigiriam provas. Mas se é impossível até para nós, humanos, provar que temos sentimentos e consciência, então o que dizer de uma máquina? Acredito que até a primeira IA surgir, há de existir métodos que nos ajudem a distinguir o que possui consciência daquilo que apenas simula tê-la. Se bem que em testes com animais envolvendo linguagem e cognição, concluímos que alguns bichos, como golfinhos e elefantes, por exemplo, possuem consciência de sua própria existência como ser vivo. Mas nada garante que a mente de um robô autônomo seja idêntica à nossa, uma vez que os processos que levam à consciência podem ser antagônicos.

A IA provar-nos-ia que almas não existem, ou que a alma é desvinculada da nossa consciência? 

Do ponto de vista lógico e racional, isso seria um forte indício de que a consciência é um fenômeno desligado de qualquer metafísica ou fenômeno sobrenatural. Porém, imagino que muitos teístas jamais aceitassem tal condição. Ou então, os que aceitassem a questão da consciência, diriam que Deus colocou a alma no robô também. Mas enfim, essa é uma discussão que ainda terá muitas reviravoltas.

Para saber mais:
Robôs e computadores podem se tornar conscientes?