Aqui estou estou eu novamente falando sobre esse assunto chato, que é a tal da objetificação. Mas, o que seria exatamente a objetificação?
Essa palavrinha difícil de se definir chamada objetificação – também utilizada como 'objetização' ou 'coisificação' – surgiu como pretexto para se condenar as pessoas (ou uso delas) em situações onde elas se comportam como objetos. Aqui, no blog Ideias Embalsamadas, eu escrevi algumas postagens como esta e essa outra abordando esse tema, mas em nenhuma delas eu dei uma definição para a palavra. Portanto, a minha definição para objetificação é a seguinte:
'Objetizar (ou objetificar) é representar ou tratar o corpo humano como objeto, seja através de metáforas ou de analogias. Usar o corpo humano como um objeto ou compará-lo com tal é uma forma de objetizar'.
Delícia é a vovozinha! |
Beleza, pose, roupa e decote não objetificam ninguém |
Dentro do meu conceito de objetização, qualquer representação do corpo humano é, sim, uma objetificação. Porém, existem dois tipos de objetificação. Existe a objetificação 'boa', que é o uso ou a representação de pessoas sem o intuito de denegrir a imagem de ninguém. E existe a objetificação 'má', que é onde há um intuito de denegrir, ofender ou diminuir alguém. Aliás, a tal objetificação 'má' normalmente reforça estereótipos e preconceitos não apenas contra mulheres, mas contra todo mundo. O grande problema dessa história é que na maioria das vezes não é possível saber qual foi a real intenção com que a imagem de uma pessoa foi utilizada. Daí temos que aturar campanhas estapafúrdias como a do vídeo abaixo:
Os moralistas 'pira'! |
Uma forma saudável de objetificar pessoas é criando ginoides |
Agora vou rebater alguns argumentos frequentes utilizados contra a objetização:
1- O assédio contra as mulheres ocorre por causa da objetificação sexual das mesmas.
Errado. O assédio ocorre devido ao machismo, à cultura do estupro, à falta de educação e à impunidade. Você acha que a paniquete Nicole Bahls foi assediada por Gerald Thomas porque ela estava se objetificando (ou sendo objetificada)? Ou será que ela foi atacada porque o sujeito em questão era um machista que não sabia respeitá-la?
2- Mulheres bonitas são vistas como objetos para o deleite masculino.
Depende. Não é porque alguém te acha linda que está te reduzindo a um pedaço de carne. Desejar não é objetificar. E uma mulher que se veste sensualmente não está se objetificando, assim como um homem sem camisa também não está. Mas ainda assim, ver alguém como objeto não é errado. Errado é tratar alguém como objeto.
3- As mulheres não são apenas um corpo.
Primeiro: nós somos o nosso corpo. O corpo humano não é uma coisa à parte, o corpo humano é tudo aquilo que somos. Afinal, o que você era muito antes de você nascer, antes do seu corpo ser formado? Segundo: se não quer ser vista apenas como um rostinho bonito, procure destacar as suas outras qualidades, tais como caráter, competência, inteligência, carisma e personalidade. Ou será que mulheres como Ana Hickmann, Ana Paula Padrão e Gisele Bündchen são apenas rostinhos bonitos?
4- Roupas sensuais objetizam as mulheres.
Ter liberdade para se vestir como quiser não é objetização: é liberdade. Condenar uma pessoa pela forma com a qual ela se veste é slut-shaming, mesmo que haja uma desculpa tosca como: "Essa forma de se vestir está alimentando ainda mais o machismo, por isso temos que combatê-la".
5- A ditadura da beleza é uma forma de objetizar a mulher.
Determinar padrões de beleza não é objetização, é uma mera imposição cultural. Cada pessoa tem o direito e a liberdade de aceitar ou de rejeitar os padrões de beleza impostos culturalmente, afinal, não existe ninguém feio e ninguém bonito: tudo depende do ponto de vista de quem vê. Ninguém é vítima ou aproveitador por se enquadrar dentro de um padrão de beleza específico.
6- Os homens que consomem revistas masculinas estão ajudando a objetizar a mulher, porque mulheres não são produtos à venda.
Quer dizer que ao comprar uma revista, você está comprando a mulher da capa dela? Me poupe, né? Todo homem heterossexual normal e saudável sente atração e desejo por ver mulheres nuas. Revistas masculinas (e revistas gays) estão aí para atender esta demanda e vender aquilo que o seu público-alvo deseja ver. Consumir ou comercializar este tipo de material não objetifica, assim como desejar alguém também não. E as mulheres que posam nuas também não estão se objetizando, elas estão ganhando dinheiro em cima do uso autorizado de sua própria imagem.
7- As mulheres estão sendo tratadas como propriedade por causa da objetização.
Já respondi no primeiro item que o que causa assédios e desrespeitos contra as mulheres (e homens também) não é a objetização, é a falta de respeito e de educação. Achar que o fato de um homem passar a mão numa mulher na rua é causado pela objetização é o mesmo que afirmar que games violentos causam violência. Aliás, nem mesmo objetos são atacados por serem objetos. Ninguém entra numa padaria e passa a mão no recheio de uma torta porque a torta é um objeto. O desrespeito pelas mulheres ocorre essencialmente por machismo.
8- Eu me sinto um objeto quando os homens olham para mim na rua.
Sou adepto da argumentação que diz que "olhar não tira pedaço". Só que o problema não está no olhar em si, mas sim na cara que se faz ao olhar. Olhar discretamente ou tentar um flerte não me parece ofensivo. O olhar insistente e tarado é que é me parece invasivo e ofensivo. Talvez a 'objetização ruim' reforce esse comportamento, mas o grande problema está na cultura e na falta de educação e empatia de quem usa esse tipo de olhar.
9- Li numa pesquisa que o cérebro dos homens enxerga mulheres bonitas como objetos.
Eu acho que ver uma mulher sensual e com pouca roupa como potencial parceira sexual torna o cérebro masculino naturalmente predisposto a encará-la como um objeto. A objetização muitas vezes não passa de um mero fetiche de possuir alguém. Pessoas provocam desejo sexual, assim como objetos também provocam desejo de consumo. São eventos parecidos e isso provavelmente faz o cérebro interpretá-los de maneira parecida, o que causa a ativação das mesmas áreas cerebrais. A questão não é ver pessoas e objetos igualmente, mas sim o desejo que eles causam. Mas isso não é o problema. Só repetindo: o problema não está em ver alguém como objeto, mas sim em tratar uma pessoa como objeto.
Blade Runner: ver uma replicante como objeto é objetizá-la? |
Concluindo...
Na minha opinião, a objetificação existe e é algo natural, mas o uso da palavra está tão vulgarizado que praticamente o seu conceito se perdeu em meio a questões pessoais e revanchismo. O que deve ser evitada (utilizando critérios claros para identificá-la) é a 'objetificação ruim', que é aquela que denigre, ofende e diminui. Fora isso, pra mim não passa de falta de assunto misturado com uma boa dose de vitimismo.
Um post antigo, mas que ainda vale a pena de ser comentado.
ResponderExcluirConcordo com várias coisas que disse, e inclusive também tenho desconfiado nos últimos tempos que o termo objetificação tem sido vulgarizado, sem nenhum critério ou definição sólida para clarificar seu significado.
Entretanto, gostaria de apontar uma discordância que tive:
1 - Se você vê alguém como objeto, é completamente natural que o tratemos como tal, não? Você trata cada indivíduo de acordo com sua especificidade. Logo, se uma pessoa é vista como objeto por outra, ela será tratada assim, e isso é TERRÍVEL. Ninguém deve tratar ninguém como objeto. Mas vai a questão: o que é um objeto?
2 - Objetificação é diferente de ATRAÇÃO. Sentir atração por uma pessoa e querer fazer um intercâmbio consensual de prazeres sexuais com ela não é objetificação.
3 - Meu argumento sobre a terceira declaração que fez é: ser bonito do ponto de vista alheio não garante caráter. Beleza e caráter são aspectos distintos que podem coexistir em uma pessoa.
A pessoa não tem que provar nada pra você, mas você que não deve julga-la somente por sua aparência.
No mais, concordo com você sobre o moralismo paradoxal de certas feministas que desejam combater as mulheres que trabalham com o corpo. Acredito que trabalhar com a sensualidade e até mesmo sexualidade não é objetificação, mas sim um serviço como qualquer outro onde se é comercializada uma força de trabalho.
Olá, anôn. Olha só, vamos discutir sobre os pontos que vc citou.
Excluir1- Sim, uma coisa leva a outra, inclusive abordei disso em outro post. Tratar uma pessoa como um objeto é errado: essa é a regra. Os assédios contra as mulheres nas ruas ocorrem, em parte, justamente por essa razão. Mas toda regra tem exceções, no caso do sadomasoquismo, por exemplo, ser tratado como um objeto é uma tara muito comum. Fora nos casos das artes performáticas ou mesmo em representações artísticas. Uma pessoa só deve ser tratada como objeto com consentimento e apenas com quem ela der liberdade para isso.
2- Concordo plenamente, mas alguns religiosos mais agressivos, como o pastor Silas Malafaia, fazem essa confusão de propósito para que as pessoas sejam menos "promíscuas" e respeitem os valores bíblicos.
3- Bem observado, mas o ponto discutido no item está focado na questão das pessoas (especialmente mulheres) serem destacadas apenas pela sua beleza física. Se uma pessoa só enaltece a própria beleza e só investe nela, é normal que as outras pessoas esqueçam de pensar no caráter primeiro. Não é a questão de julgar pela aparência, mas julgar a própria aparência.
Tem outros posts sobre este tema na tag 'objetificação' do menu. Se quiser comentar algo por lá, fique à vontade.
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