segunda-feira, 4 de novembro de 2013

Objetificação saudável


Na postagem A objetificação humana na era do politicamente correto, eu me posicionei a favor da objetificação das pessoas. Mas isso não quer dizer que eu seja a favor de qualquer tipo de objetificação. Eu sou a favor de uma objetificação saudável.
Pois bem, mas o que vem a ser uma 'objetificação saudável'? É exatamente sobre isso que trata este post. Mas antes, vamos refletir um pouco sobre os tipos de objetificação mais comuns.

Diferentes corpos possuem diferentes belezas

A objetificação pela beleza
Não existe corpo perfeito
O que temos hoje na mídia, na publicidade e no entretenimento é uma objetificação massiva de um estereótipo de beleza padrão. Homens e mulheres são expostos com corpos "perfeitos" para ajudar a vender produtos e a aumentar a audiência das emissoras de tevê. O problema deste tipo de exposição dos corpos humanos é que ele causa uma busca desenfreada pelo tal "corpo perfeito". As mulheres das propagandas, por exemplo, são sempre magras, sem barriguinha, com seios fartos, com bumbum durinho, sem estrias, sem celulites, maquiadas, com os cabelos tingidos e, geralmente, não podem demonstrar ser nada além de um corpo bonito. O problema é que mais de 90% das mulheres não se encaixam nesse tipo de beleza padronizado pela mídia. Isso gera frustração, sofrimento e um consumismo descomedido na busca pelo tal corpo perfeito.
Acontece que o problema não está no atual padrão de beleza. O problema está na existência dos próprios padrões de beleza. É um erro que se criem padrões de beleza, porque não existe ninguém feio: o que existem são padrões de beleza diferentes. A objetificação saudável trata da exposição e do uso da imagem de todos os tipos de corpos, sejam de gordos, magros, brancos, negros, carecas, cabeludos, mulheres de seios grandes, mulheres de seios pequenos, homens com ombros largos, homens com ombros estreitos, etc. Somos todos belos e isso é tudo que devemos saber. Cada pessoa tem a sua própria beleza assim como cada estrela tem o seu próprio brilho.

A história do 'Patinho Feio' mostra que não existe ninguém feio

A objetificação pela submissão e imagem
Nem a Coppertone escapou
É aqui que entram boa parte das reclamações femininas, uma vez que é comum na publicidade a representação de mulheres como se elas fossem propriedades dos homens ou submissas a uma autoridade masculina. O problema da objetificação pela submissão e pela imagem é que as mulheres passam a ser julgadas e avaliadas apenas pela aparência. Neste caso, a publicidade, por exemplo, reforça esses preconceitos e estereótipos. Eu também acho que as coisas do jeito que estão, neste sentido, acabam por proporcionar a criação de uma imagem superficial e artificial das mulheres. Sendo assim, eu visualizo três soluções para esse tipo de objetificação: ou proíbe-se tudo, ou libera-se tudo, ou modera-se. E como eu não sou a favor de censuras, então prefiro que haja um misto das duas últimas opções, onde temos uma objetificação moderada (sem apelos sexistas) de homens e de mulheres. Isso seria, na prática, o uso livre da imagem das mulheres, mas sem limitá-las a 'vitrines sexuais ambulantes' e sem diminui-las perante os homens. Afinal, mulheres não são coisas, são seres humanos.
O grande problema, no meu ponto de vista, não está em mostrar os corpos femininos, mas sim na forma como eles são mostrados. Outra queixa muito recorrente, especialmente por parte das feministas, é que elas alegam que o corpo das mulheres não é objeto para ser constantemente avaliado. Mas quem avalia publicamente o corpo da mulher é que está errado, e se a mídia reforça isso, ela também está errada. No meu contexto de objetificação saudável, eu me refiro ao uso do corpo humano apenas como imagem e não como algo apropriável ou de posse pública. Acho que há uma associação forçada e generalizada entre o desrespeito às mulheres e a exposição da aparência. A própria ideia de sex symbol (símbolo ou objeto sexual), por exemplo, é unissex. A implicância toda com a objetificação é que muitos grupos feministas encontraram nela um bode expiatório para a "cultura do corpo perfeito", para a "cultura do estupro" ou para o assédio e o desrespeito contra as mulheres. Só que a raiz desses problemas não é a objetificação em si, mas, sim, o sistema patriarcal e o machismo.

Queixa comum de muitas mulheres

A objetificação erotizada
Muitas pessoas alegam que há uma erotização excessiva do corpo feminino tanto na publicidade, quanto no jornalismo da internet. Eu concordo, mas acho que a censura – como propõem muitas feministas mais radicais – não é a saída. Também acho que há muita parcialidade nesse discurso de 'antiobjetificação', porque uma mesma imagem de homens e mulheres expostos num cartaz é interpretada de formas diferentes, ainda que sejam idênticos. Vamos dar um exemplo:

Objetificação ou não?

Quando colocam a imagem de um homem 'sarado', bronzeado, depilado e de sunguinha num cartaz para vender protetor solar, essa imagem é interpretada pelos parciais de plantão como sendo algo simplesmente "natural", ou, na pior das hipóteses, como "o uso da imagem de um homem 'poderoso' para sobrepujar a imagem da mulher". Já quando colocam a imagem de uma mulher 'sarada', bronzeada, depilada e de biquininho no mesmo cartaz para vender filtro solar, o discurso muda da água para o vinho, pois aí ouvimos: "Maldita mídia machista", ou: "Isso é objetificação e degradação da mulher", ou: "Isso é erotização dos nossos corpos", ou ainda: "Não somos coisas, isso é cultura do estupro", e por aí vai. Isso, para mim, mostra imaturidade, vitimização e parcialidade. Isso não me parece feminismo, parece mera implicância ou vontade de aparecer. É claro que o corpo feminino é muito mais explorado pela mídia que o masculino, mas isso não justifica essa falta de parcialidade e generalizações, como quem procura pelo em ovo. É bom lembrar que homens e mulheres são livres para usarem seus corpos em campanhas publicitárias, além disso, ninguém faz isso de graça.

Religião não combina com feminismo
Quem gosta desse tipo de discurso de "degradação" e "objetificação", especialmente em imagens mais ousadas, são justamente os religiosos conservadores. O próprio pastor Silas Malafaia fez um discurso inflamado usando essa desculpa da "degradação" para tentar se aliar às feministas. Esse feminismo que adere a esse discurso moralista de pastorecos e padrecos da direita ultraconservadora forma aquilo que eu chamo carinhosamente de "Liga das Senhoras Católicas". Acho que essa é a banda podre do feminismo, porque é ela parcial, religiosa, sexista e fanática. Ao invés de exigirem igualdade, preferem a censura, como se o corpo humano fosse fonte de pecado (até comentei sobre isso nesta postagem). Nenhuma dessas carolas quer o fim do uso do corpo masculino na publicidade, querem apenas aparecer tirando o que não as convém. Eu fico na dúvida se isso é saudade da Idade Média ou se é saudade da ditadura militar, já que gostam tanto de uma censura e da defesa da "moral e dos bons costumes". Eu até concordo que há uma hipersensualização do corpo feminino, especialmente em comerciais de cerveja e até em alguns trajes esportivos (aliás, diga-se de passagem, alguns comerciais de cerveja são tão ridículos, que beiram o retardo mental). Mas não vejo a censura como um meio de se resolver isso. Temos que reformular esse conceito sem apelar para aqueles argumentos religiosos horrorosos. Acho a erotização forçada e apelativa algo desnecessário, mas a erotização em si, dependendo do contexto, não causa efeitos colaterais maiores que uma sudorese.
E se alguém duvida que há gente no mundo que enxerga erotização em tudo, peço, encarecidamente, que deem uma olhada neste Tumblr chamado Jornalismo Punheteiro.

Olha aí o que eu falei

A paranoia feminista contra a objetificação
Pin-up objetifica?
Já comentei em outros posts que acho absolutamente estúpido esse posicionamento das feministas abolicionistas que consideram que ser modelo, top model, musa, miss ou mesmo prostituta é degradante para a mulher, detalhe: apenas para a mulher, como se não existissem garotos de programa, modelos masculinos, etc (e, sim, sou a favor da existência um Miss Brasil masculino, musos masculinos, etc). As mulheres que trabalham 'vendendo' a sua imagem é que acabam sofrendo preconceito por causa dessa patrulha feminista. O que eu não gosto é dessa parcialidade vitimista, pois acho-a desonesta. Concordo que o padrão de beleza imposto aos modelos é exigente demais, mas considerar que 'trabalhar com a venda da própria imagem' é "sexismo", aí já é algo que me foge à compreensão. Acho um insulto à liberdade individual e à nossa própria liberdade de expressão ter que aguentar esse discurso normativo, conservador e castrador de gente que se ofende com a liberdade e a felicidade dos outros. Garotas como a Fran, por exemplo, são vítimas deste discurso hipócrita que tenta dizer às mulheres o que elas podem ou não fazer com suas vidas e com seus corpos. Desculpa, mas isso não é feminismo, é ditadura machista. E mais uma vez, para quem duvida que existam ideias assim sendo propagadas por aí, recomendo esta postagem aqui que achei na internet: ela é um exemplo clássico de opiniões desse tipo.

Abaixo o slut-shaming!

Eu confesso que fico muito triste em ver gente com a cabeça tão fechada a ponto de teorizar que a prostituição é uma forma de objetificação e sexismo onde há a "dominação do homem contra a mulher". É uma visão distorcida porque não são apenas mulheres que se prostituem e que são objetificadas pela mídia, homens também vendem seus corpos. O direito de ser livre para fazer o que quiser com o seu próprio corpo é algo sagrado de todo ser humano. É por esse tipo de discurso que garotas como a Lola Benvenutti foram verdadeiramente esculachadas moralmente por terem escolhido ser garotas de programa. O que é preciso é respeito pelas pessoas que trabalham com sexo e uma urgente desmarginalização das pessoas que se prostituem. Afinal, punir vagabundas ou tentar salvá-las de sua vagabundice dá no mesmo. Repito: toda mulher é livre para decidir o que fazer com o seu próprio corpo, não devendo estar submetida à vontade da Igreja, do Estado, dos homens – ou mesmo de outras mulheres. Ou como eu mencionei em uma das minhas postagens onde critico esse feminismo abolicionista: 'Nunca diga a uma mulher o que ela pode ou não fazer'. A maior regra do feminismo é justamente a liberdade. O resto é clichê sexista.
Referência:
Puta, santa, livre (excelente artigo)

É realmente isso que estão querendo?

Por uma objetificação mais saudável
Como eu disse no outro post, discordo inteiramente de qualquer tentativa de banir a objetificação. Quem insiste na proibição da objetificação, por favor faça o favor de se mudar para os países de teocracia islâmica onde é proibido usar a imagem do corpo feminino (ou masculino) para qualquer fim. O que nós precisamos é de basicamente de três coisas: 1-Mais democracia na hora de expor os diversos padrões de beleza que existem entre os seres humanos, 2-Explorar igualmente as imagens de homens e mulheres na mídia e na publicidade. 3-Evitar certos abusos e exageros que diminuam as pessoas, que as trate como posse ou que reafirmem valores heteronormativos. Nós podemos e devemos usar a própria objetificação como meio de quebrar tabus. Abaixo a hipocrisia e viva la objetificación!

A seguir, algumas imagens de objetificação saudável:

A regra é quebrar regras e mostrar que todas são belas

Uso da figura humana em embalagens

Beleza de diversas épocas

Trajes esportivos naturais

Publicidade de moda praia

Publicidade de moda íntima


Criatividade


9 comentários:

  1. Acredito no referido texto que a beleza traduz um padrão incoerente nos dias atuais, mas não acredito que obesidade ( modelos acima do peso ), possam ser considerados padrões de beleza. Obesidade é sinônimo sim de problemas de saúde ( diabetes, problemas de coluna, problemas nas articulações ) , a obesidade é responsável por diversos problemas de saúde e ao tornarmos a mesma padrão de beleza, colocamos em cheque o conceito de estar saudável, para sermos " corretos " com aqueles que estão fora dos " padrões ".

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    1. Olá, Zé Jota.
      Nem toda pessoa acima do peso está necessariamente obesa (no sentido de ser ruim para saúde). Em uma das minhas postagens em que abordei padrões de beleza, teve uma leitora que confessou que sentia depressão por não conseguir ficar magra e chegou até mesmo a pensar em suicídio. Há casos onde a obesidade é prejudicial à saúde, mas há casos também onde o próprio genótipo da pessoa (seja por razões genéticas ou hormonais) é naturalmente 'gordinho' - e isso não é um mal para a saúde. Isso já está sendo assimilado por algumas campanhas, que divulgam também modelos "plus size".
      Acho que não devemos incentivar a obesidade, mas tentar encarar com mais naturalidade os diversos tipos de corpos.
      Obrigado pela participação.

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  2. bom,está na cara que este texto foi escrito por um homem...somente um homem que não sofre na pele o peso do machismo pára dissimular e ver como "benéfica" esse problema,que está longe de ser uma reles questão de beleza,mas sim um sistema que naturaliza violências físicas e exploração sexual dos nosso corpos.E fica bastante óbvio quando chama de "patrulhamento feminsita"! linguajar muito utilizado por machistas defendendo seus privilégios.Pergunto eu: cade os homens de pica dura nas revistas femininas e na mídia? tem tantos homens nus assim como tem mulheres?? O que dizer do "patrulhamento machista" quando um homem bonito se expõe?? E claro,sugere a clássica "liberdade de corpo feminina" na exploração sexual da prostituição.Só faltou dizer que o tráfico de mulheres existe porque nós adoramos ser traficadas! nojento..típico texto pro-machismo disfarçado de filosófico.Só baboseiras reacionárias e total falta de empatia pela metade da humanidade!

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    1. Olha, eu duvido muito que você tenha lido o texto todo, porque muitas das suas queixas também foram colocadas no texto (especialmente no final). Uma das coisas que o post aborda é justamente essa falta de exploração do corpo masculino tanto quanto o corpo feminino. O problema é que a cultura machista acusa o nu masculino de ser 'gay', por isso há uma repulsa e uma resistência enorme de colocarem homens sensuais na mídia. E a tal 'objetização benéfica' se refere ao uso e representação do corpo humano sem inferiorizar ou denegrir as pessoas. Há tipos e mais tipos de objetização, que vão desde a 'objetização má' (que as feministas reclamam com razão) até a 'objetização artística' (que é inofensiva). A sensualidade e a beleza não são objetificação (leia este outro post para entender melhor). Sobre a liberdade do corpo, libertário que sou, defendo com unhas e dentes o direito de cada um poder fazer o que quiser com o seu próprio corpo. Isso inclui atividades sexuais e o uso do corpo para fins publicitários. Quanto ao tráfico de mulheres, machismo e blablablá, isso não tem a ver com esse post, aliás, esse foi um belo espantalho para tentar desqualificar o conteúdo do post.
      Por fim, acho compreensível a sua revolta, mas é preciso prestar atenção no que se diz para evitar fanatismos sem pé nem cabeça.

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    2. Não, cara. Como você é burra.
      Não existe objetificação em sentir atração por uma mulher nua ou homem nu. Não há degradação em exibir seus atributos físicos para que outros apreciem e possivelmente sintam desejo. A culpa da violência contra a mulher NÃO é da sexualidade dela, e sim do MACHISMO.
      Você claramente não compreendeu o post. A nudez masculina é um tabu que necessita ser combatido. O policiamento do corpo da mulher também não pode persistir.
      A questão aqui é a liberdade das pessoas de venderem sua força de trabalho em forma de sensualidade.
      Exploração sexual e prostituição não são a mesma coisa. Se você pensa o contrário, só tenho a lamentar por tamanho pensamento patético.

      Perceba seu texto:
      "Trabalhar com a sensualidade e exibi-la para que outros possam possivelmente admira-la é objetificação." O mesmo pensamento do Silas Malafaia.

      "Prostituição e exploração sexual são a mesma coisa"
      ...

      "A violência contra a mulher vem da exposição aberta de sua sensualidade, não do machismo"

      Quem é o reacionário?

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  3. ah tá é fanatismo reclamarmos quea objetificação da mulher gera violência contrea nós,afinal,tiodo homem sabe mais o que nós mulheres passamos na pele do que n[´so emsmas..
    E filho,uma cultura que incentiva os homens anos verem como bens de consumo não incentiva anos ver como mercadorias sexuais? nossa,como és inteligente!! E adesculpa da "arte" sempre foi usada para nos silenciar: mulher nua na Playboy é arte.mulher nua no carnaval é arte...mas os machinhos nunca participam dessa arte não é? nem nos incentivam aproduzir essa arte,tratando os homens da mesma forma que vc nos tratam.

    O resto é otípico balbla bla, dissimulador machista usado para nos desqualificar.Nada mais previsível e patético.

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    1. Existe uma confusão gigantesca com relação ao que vem a ser a tal objetficação. Peço que, por favor, leia o post Tipos de Objetificação para você entender que há muita discussão sobre esse tema mesmo entre grupos feministas. Há feministas que defendem que não existe objetificação, justamente porque essa ideia restringe a liberdade das mulheres de usarem certas roupas, de terem certas posturas corporais e até mesmo de posarem nuas caso elas desejem isso.

      Ah, e homens nus na G-Magazine são o quê? Estátuas de homens nus são o quê também? E homens seminus no carnaval são o quê?

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  4. Depois os machinhos ficam de mimimim contra o Lulu...objetificação da mulher é saudável,quem reclama é fanática feminista...quando é o homem objetificado pra valer,é "violação dos direitos humanos"

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    1. O caso do Lulu é uma forma de julgar e depreciar pessoas publicamente. No post Tipos de objetificaçãol eu exponho claramente essas diferenças.

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