quarta-feira, 9 de abril de 2014

Objetificação: a palavra final


Nós somos seres sexuados, certo? Nós possuímos dimorfismo sexual, concorda? Consequentemente, somos sexualmente atraentes para outras pessoas, queiramos ou não. Nem o religioso mais fanático do mundo nega esse fato, tanto é que criaram uma porção de leis punitivas para combater a luxúria e promover a castidade. Portanto, usar a desculpa da "objetificação das pessoas" como meio de negar a nossa sexualidade, a nossa sensualidade, os nossos desejos, as nossas fantasias e os nossos impulsos sexuais são de uma carolice e de uma frigidez completamente fanáticas. E para os que são contra uso e exposição de corpos humanos por eles usarem pouca roupa ou por serem sensuais, alegando que isso é "objetificação", eu sinto em dizer, mas quem pensa assim está precisando voltar urgentemente para a Idade Média.

Corpos bem definidos e pouca roupa são objetificação?

Afinal: o que vem a ser a objetificação?
Para se ter uma ideia, eu escrevi tantos posts sobre este tema, que precisei criar uma tag no menu só para poder agrupá-los. Porém, em nenhum desses posts escritos sobre esse assunto eu deixei claro qual é o conceito de objetificação. Aliás, eu nunca vi ninguém conceituar de forma clara o que é objetificação, nem feministas, nem moralistas e nem religiosos: que são os que mais usam este termo. Pelo que eu analisei após ler uma porção de textos na internet sobre o assunto, eu concluí que a objetificação nada mais é que tratar ou representar um ser humano como objeto. Existem conotações metafóricas e reais nesse aspecto, mas objetificar, por si só, não é algo necessariamente ruim. No mundo BDSM, por exemplo, a objetificação é um fetiche muito comum e saudável – além dela ser usada também em artes performáticas, representações artísticas, revistas, livros, publicidades e em mais em uma porção de exemplos. O grande problema não é a objetificação em si. O problema é a objetificação nociva, que nada mais é que tratar um ser humano como objeto sem o consentimento do mesmo. Note aí que há uma diferença muito grande entre uma coisa e outra. Objetificar não é errado, o errado é fazer isso sem o consentimento da pessoa "objetificada". Para entender melhor, vamos a alguns exemplos:

1-Alguém servir de brinquedinho sexual do parceiro de forma mutuamente consensual.
Não é uma objetificação nociva, justamente porque há consentimento mútuo. Não importa se você é um objeto sexual, um objeto decorativo ou uma estátua: isso não é da conta de ninguém se você escolheu isso.

2-Assediar sexualmente pessoas na rua.
É uma objetificação nociva porque as pessoas assediadas não dão autorização para serem avaliadas, tocadas ou molestadas como se fossem objetos de uso público. Aliás, essa é uma das razões principais para a invenção desta palavra.

3-Alguém adotar posturas corporais consideradas 'sensuais' em comerciais.
No meu ponto de vista, não é uma objetificação nociva, isso porque os modelos e atores que fazem comerciais estão ali porque querem. Além disso, sensualidade não é "objetificação sexual". Qual é o problema de uma mulher ser sexy? Corpos bem definidos também não são objetificação sexual. Se querem proibir esse tipo de publicidade, usem outro argumento, como o do respeito à moral e aos bons costumes, mas o de objetificação é muito forçado.

4-Mostrar um comercial onde homens invisíveis atacam as mulheres.
É a encenação de uma objetificação nociva, porque está sendo representado no comercial um tratamento de objeto a pessoas sem que elas queiram. Mas o comercial, em si, não está objetificando as atrizes e modelos, pois elas consentiram em participar dele.

5-Avaliar publicamente os corpos das pessoas.
Sim, isso é uma objetificação nociva, porque ninguém é objeto para ser publicamente avaliado com assobios, cantadas grosseiras ou gestos obscenos. Podemos avaliar mentalmente as pessoas ou até comentar algo sobre elas de forma privada, mas fazer isso de forma pública e descarada não é apenas objetificação, é uma tremenda falta de respeito.

6-Se vestir de forma sexy, tornando-se o objeto de desejo e prazer de outras pessoas.
Não existe objetificação alguma nisso. Se alguém se ofende com isso, por favor, se mude para o Afeganistão.

Madonna: sensualidade ou objetificação?

Abaixo vou deixar um vídeo excelente sobre o assunto que ajuda a dar uma ideia melhor sobre o panorama geral do tema proposto:



Sensualizar objetifica?
Como foi dito no início do post, frequentemente as pessoas confundem a "coisificação" (que é o mesmo que objetificação) com sensualidade, achando que isso é "objetificação sexual". Alguns religiosos adoram esta confusão (e a fazem de propósito), porque a moral cristã detesta nudez e sensualidade por razões óbvias. Queira ou não, o nosso corpo ainda é a maior fonte de atração sexual graças ao dimorfismo sexual, então o "meu corpo não é objeto para ser desejado" não passa de uma aberração como discurso lógico. Toda mulher é livre sexualmente e nada e nem ninguém deve ficar regulando como ela deve se vestir ou se comportar. Já a tal "hipersexualização" do corpo feminino sempre me pareceu uma ideia deveras moralista e totalmente arbitrária e subjetiva. E moralismo por moralismo, todos eles não passam de um chorume reacionário. A sensualidade, queiramos ou não, é a nossa melhor arma de conquista no mercado sexual.

Nem tudo é objetificação

O papel da religião na objetificação
Os religiosos moralistas pegaram esse conceito de objetificação e o distorceram ao seu bel prazer, tentando fundi-lo à força com o mandamento "Não desejar a mulher do próximo". Daí que qualquer banner com mulheres em poses "apelativas" ou com "roupas provocantes" virou alvo de objetificação. E tem muitas mulheres, inclusive feministas, que vão nessa onda, caindo na lábia moralista de quem nunca se importou com elas. O problema é que existe uma diferença abismal entre você ser desrespeitada na rua e entre uma mulher aparecer de roupa sensual num comercial de cerveja. Não bastasse isso, essa ligação de religiosos com a objetificação é tão forte, que o próprio pastor Silas Malafaia a usa de forma rasteira para tentar se aproximar das feministas. E adivinhe só: como solução para isso, a jornalista conservadora Rachel Sheherazade aconselhou num telejornal para "as mulheres se valorizarem" a fim de não serem objetificadas. Pois é...

Burcas evitam a objetificação?
Esse discurso todo lembra bem os países de teocracia islâmica, porque esses países são extremamente machistas e moralistas. Lá não há objetificação da mulher porque tal coisa é considerada imoral – tanto é que as mulheres são forçadas a cobrir o corpo inteiro com burcas. Se os fanáticos religiosos daqui querem transformar o Brasil numa teocracia com essa conversa moralista, então podem pegar o seu aviãozinho e se mudar para o Paquistão, porque o nosso Estado (ainda) é laico.


A sensualidade feminina deve ser abolida?

Causas da objetificação
Responda rápido: o que causa a objetificação da mulher? É a roupa que a mulher usa? É a sensualidade da mulher? É alguma posição ou postura corporal que a mulher adota? É o homem que a deseja? É o homem que a olha? São os homens que a desejam sexualmente? É a mídia machista? A causa da objetificação nociva está no machismo nosso de cada dia. Mas a causa da objetificação em si está nos nossos instintos mesmo, porque ao ser desejada sexualmente, uma mulher automaticamente se transforma num objeto de desejo sexual de quem a desejou. E o contrário também: as mulheres que passam a desejar um homem também estão o objetificando. Daí eu pergunto: qual é o problema nisso? Como poderíamos escolher nossos parceiros sexuais sem levar em consideração a atração sexual que sentimos por eles?

É assim que algumas mulheres se sentem ao serem objetificadas?

Isso não é nada cristão!
A causa original da objetificação foi que as mulheres vítimas de assédio ou incomodadas com os olhares masculinos criaram este conceito por se sentirem meros "pedaços de carne" e por serem julgadas mais pela sua beleza do que pelas suas qualidades intelectuais. Só que aí, como citei anteriormente, vieram os religiosos e tomaram para si essa palavra para atacar qualquer mulher "mal vestida" ou com corpo sensual na mídia – como se isso tivesse alguma coisa a ver. O uso sensual das mulheres na publicidade acabou então virando um bode expiatório e aquela censura moralista dos tempos de ditadura voltou em grande estilo. A religião foi usada para corromper o conceito original da palavra para ajudar a tornar o nosso país mais cristão e menos promíscuo. Lindo, não?

Mas o pior nem é isso: o pior dessa história de objetificação é que o próprio conceito de objetificação é preconceituoso por si só, porque ele é uma mera questão de ponto de vista. Achar que os "homens malvados" querem se aproveitar do corpo das "mulheres indefesas" para enriquecer é totalmente ingênuo, porque a tal mulher "objetizada" é livre para usar sua própria imagem e ganhar dinheiro e até fama com isso. Acusar certas mulheres de serem "vitrines sexuais" é uma forma de condená-las pelos seus trabalhos e por suas escolhas. Afinal, ninguém está sendo desvalorizado por fazer o que gosta.

Erro de diagramação: o que está à venda, a mulher ou o carro?

A censura da objetificação
Corta pra 18!
Eu fico muito preocupado quando vejo algum religioso ou feminista caricata querer abolir dos meios de comunicação qualquer imagem em close da anatomia feminina. Mas vem cá: será que peitos, coxas e bundas não fazem mais parte do corpo humano? Por que não implicam também com closes em rostos, braços e olhos, já que eles também fazem parte do corpo feminino e recebem muitos closes? Uma coisa é a limitarem as mulheres a um par de peitos e uma bunda, outra coisa é aparecer peitos e bundas na tevê: são duas coisas diferentes. E o peito, a bunda e as coxas dos homens? Se aparecerem em destaque, também devem ser censurados por objetificá-los?

Objetificação do homem?
Pois bem, e não achando suficiente toda essa loucura em nome do moralismo, estão vindo agora também com essa história de objetização sexual do corpo masculino. Desculpem a honestidade, mas o objetivo do feminismo não deveria ser de engrossar o coro dos fundamentalistas religiosos e ficar censurando peito e bunda por aí. Ainda que aleguem que as mulheres são colocadas como "vitrines sexuais" na mídia, temos que levar em consideração que todos são livres para expor o seu corpo na mídia (ou fora dela) da maneira que bem quiserem. Não cabe a ninguém regular isso, porque isso faz parte da liberdade individual de cada um. Além do mais, a obrigação de respeitar as mulheres não diminui pelo fato de uma Panicat rebolar seminua na televisão. Se uma pessoa quer ser idolatrada por alguma parte do seu corpo, isso é problema dela. Se você quer ser idolatrado por sua inteligência, então estude ao invés de ficar balançando a bunda na tevê, simples assim. Ou se preferir os dois, que vire então uma Valesca Popozuda. Portanto, isso não tem nada a ver com objetificação, isso é uma escolha de cada um.

Belas mulheres atraem homens para o produto

Objetificação na mídia
Muuuitas mulheres!
Aqui é onde reside a maior parte da polêmica, por isso, vou ter que aprofundar mais neste item. Pois bem: a famosa associação entre mulher e produto apontada pela turma do barulho (religiosos, feministas, moralistas, conservadores e afins) em comerciais de tevê desconsidera que os homens (seja por razões evolutivas ou culturais) procuram se relacionar sexualmente com o maior número possível de mulheres. Os publicitários sabem perfeitamente disso e criam uma analogia metafórica entre o ato de usar um determinado produto e de ter (ou conquistar) várias mulheres (seja sexualmente ou não). Ainda mais quando vivemos numa sociedade onde a medida de sucesso para os homens se mede pela quantiade de mulheres que ele seduz.
Muuuitos homens!
Porém, curiosamente, isso ocorre também com relação às mulheres, porque já vi comerciais onde homens também são colocados como objetos a serem conquistados, usados e descartados pelas mulheres. O problema todo é que, do ponto de vista ético, não há nada de errado nisso. Não é errado "consumir" alguém, porque sexo sem compromisso já deixou de ser tabu faz tempo. E daí que um homem que bebe cerveja queira transar com várias mulheres? Ou então o contrário: E daí que uma mulher que use uma marca de lingerie queira "consumir" sexualmente vários homem também? Qual é o problema de transar com várias pessoas sem compromisso, é pecado? Se sexo sem compromisso com múltiplos parceiros fosse tão detestável, nem precisariam ter inventado a camisinha. Ter muitos parceiros e considerar isso um "prêmio" ou "objetivo" também não é errado. Querer paquerar, beijar ou transar com muitas pessoas também não é errado, exceto para os papa-hóstias defensores da moral e dos bons costumes, claro.

Beleza se põe em mesa!
Com relação à questão dos corpos atraentes, qualquer publicitário com mais neurônios que uma samambaia de plástico sabe que eles são um ímã para as pessoas, pois a beleza é um colírio para os olhos. E se sensualizar então... A audiência está garantida! No caso dos comerciais de cerveja, a correlação entre cerveja gostosa e mulher gostosa é uma metáfora que serve para atingir o público-alvo: os homens heterossexuais. E ponha na conta o fato de que o Conar, órgão que regulamenta a publicidade no país, já colocou diversas regras que evitam apelo sexual nas propagandas, coibindo certos exageros. Não é proibido aparecerem mulheres bonitas e sensuais, o que é orientado é para se evitar o apelo sexual desnecessário.

A beleza vende!
Quanto ao fato de tudo isso se opor às conquistas femininas e de fomentar o turismo sexual e a vulgarização da mulher, eu, honestamente, acho isso uma tremenda forçação de barra. É preciso muito malabarismo hermenêutico para  associar esses fatos a um comercial de lingerie ou de cerveja caso ele não tenha um contexto onde rebaixe ou degrade a mulher. Eu acho que as coisas seriam bem piores se as mulheres fossem obrigadas a usar burcas em comerciais para não serem objetificadas. Mas enfim, se querem proibir mulher de biquíni na publicidade (já que eles naturalmente sensualizam a mulher), ok, mas vamos ser coerentes e proibir mulheres de biquini em todos os lugares também, incluindo aí nas praias e nos clubes (Jânio Quadros já tentou isso e fracassou). Não tem sentido proibir certas roupas na praia do comercial de tevê e deixar seu uso livre nas praias da vida real. Se assim for, Salaam Aleikum e vamos mergulhar de vez numa teocracia islâmica ou então retornar à Idade Média.

PS: Eu concordo que não é necessário usar a sensualidade e o apelo sexual para vender produtos, mas também não acho errado que tais recursos sejam usados para o público-alvo certo, no veículo de divulgação apropriado e num contexto adequado.

O vídeo abaixo deixa uma pesquisa sobre o tema:





7 comentários:

  1. Penso que a luta de boa parte do movimento feminista não é efetivamente contra a objetificação sexual em si, mas contra a hipersexualização do corpo feminino na propaganda, ou seja, a desigualdade de gênero gritante nessa questão. Por que apenas a mulher é hipersexualizada em anúncio de cerveja? Por acaso, só homem bebe cerveja? Compare a "objetificação masculina" com a feminina em anúncios, qual é majoritariamente frequente? À exceção de propaganda de roupas íntimas, muito dificilmente vemos homens sendo "objetificados sexualmente" em propagandas de carro, por exemplo. Enfim, não vejo esse aspecto da luta feminista como ranço de moralismo.

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    1. Sim, a crítica do movimento feminista é pontual nesse sentido. Mas o problema não é a crítica, o problema são as soluções que elas apontam, que vão desde a censura até mulheres se vestindo quase de burca. Isso quando propõem alguma solução, porque a maioria só faz reclamar mesmo. A solução para isso, ao meu ver, não é parar de objetificar as mulheres, mas sim passar a objetificar mais os homens também. Qual é problema?

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  2. E outro ponto: o fato de mulheres estarem nesses anúncios por livre e espontânea vontade não anula a influência dessas propagandas na naturalização da objetificação do corpo feminino, de que o corpo da mulher é público, incentivando sim a chamada cultura do estupro. Concordo plenamente que a sensualidade não é pecado nem crime, mas por ser ressaltada, na propaganda, massivamente em um único gênero, acaba sim sendo nociva para este.

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    1. Discordo. Mulheres não são atacadas em espaços públicos porque uma modelo sensual apareceu de biquíni num comercial de cerveja. Isso é tão sem noção quanto afirmar que quem assiste luta livre na tevê vai sair espancando os outros na rua. Não tem coerência lógica esse tipo de raciocínio. A culpa do assédio é o machismo - e não a exposição de corpos humanos na mídia.

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  3. Exatamente, concordo com você que a "objetificação masculina" deveria aumentar e não a feminina ser proibida. O problema é que infelizmente a publicidade brasileira ainda é uma área predominantemente masculina e machista.

    Ps.: meu navegador não permite responder diretamente aos comentários. Gostei do blog.

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  4. eu,não sei como ainda tem pessoas que acha que só as mulheres que sofrem com a tal objetização
    e os homens que sofrem com as ofensas como ser chamado de viado,bicha etc
    ainda bem que nos paises arabes as mulheres não sãem vestidas como putas
    ai vem um babaca tipo voçẽ e diz que os que preferem um pais moralista que vá embora então isso prova que eu estou certo em algumas coisas tipo
    que esse fulano do blog defende a imoralidade sexual
    ora se eles são contra a tal objetização da mulher então por que permite que elas andem vestidas como putas?
    que participe de propagandas quase pelada?
    só sendo um esquerdo-pata ainda bem que existe paises islãmicos que matão essas desgraças feministas principalmente se forem homens feministos
    e pra quem acha que o feminismo é algo muito bom
    então acesse este site
    sexoprivilegiado.blogspot.com

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    1. Eita peste! Que comentário seboso é esse? Tu não cansa de escrever essas porqueiras aqui não é, fidumaégua? Na próxima vez que escrever essas besteiras o teu comentário vai sumir num instantinho.

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